AS REGIÕES AMAZONICAS CAPITULO I A AMAZONIA SUA POSIÇÃO ASTRONOMICA. LIMITES DOS DOUS ESTADOS do Pará e AmazonAS COM DIVERSAS NAÇÕES E ESTADOS DO BRAZIL. CLIMA, TABOAS METEOROLOGICAS. HYDROGRAPHIA DO AMAZONAS. BACIA AMAZONICA, SUPERFICIE DE SUAS AGUAS. SUA GRANDEZA E SUA RIQUEZA. BERÇO DO AMAZONAS E SEU CURSO NO TERRITORIO BRAZILEIRO e fóra d'elle.— SEUS DIVERSOS NOMES, LARGURA, CORRENTE E PROFUNDIDADE, MARÉS, VOLUME DE SUAS AGUAS. ENCHENTE E Vasante, variedade de EPOCHAS PARA UMAS E OUTRAS. DIVISÃO DAS AGUAS, ILHAS, DELTA.—THEORIAS GEOLOGICAS. COMMUNICAÇÕES PELO AMAZONAS COM OUTROS PAIZES. OROGRAPHIA. Ainda ha bem poucos annos, os nomes das duas então provincias amazonicas, Pará e Amazonas, eram senão ignoradas, apenas conhecidas dos brazileiros e de alguns estudiosos que na Europa liam antigas chronicas e narrações de viagens; e é de notar que mesmo nos Estados do Sul da Republica brazileira ellas eram imperfeitamente conhecidas, e a maior parte dos habitantes d'elles se affiguravam estes dous Estados sómente como serras habitadas por hordas de selvagens bravios, como inhospitos e invios sertões com poucos e mingoados povoados em que abundam os animaes e aves, das quaes tão lindas amostras lhes chegam ás mãos levados nos vapores que navegam desde o Rio de Janeiro até Manáos. Na Europa não poucas e inexactas apreciações tem sido publicadas como o provam as obras de Emile Carrey e de Biard, e outras de escriptores mais serios francezes e allemães que até em tratados escolares de geographia tem inscriptos verdadeiros erros. É por isso que nós os filhos da Amazonia, isto é os nascidos nos dous Estados banhados pelo Amazonas, não devemos pronunciar sem reconhecimento os nomes dos que tem escripto sobre ellas, sem tocar os extremos de uma ignobil maledicencia, ou de uma benevolencia exagerada. O verdadeiro conhecimento, a revellação do que é a Amazonia com excepção dos estudos das commissõe geographicas portuguezas é muito moderna, os seus recursos, a sua riqueza o seu brilhante futuro, só ha poucos annos tem sido descortinado ao resto do mundo, chamando a attenção do commercio e da industria, e este serviço é quasi exclusivamente devido aos que tem publicado nos jornaes e nos livros aquillo que tem visto e estudado em suas viagens n'estas regiões distantes, como são: Humboldt, Baenna, Wallace, Bates, Chandless, Brow & Lidstone, Maury, Castelnau, H. Smith, E. D. Mathews, Tavares Bastos, Agassiz, S. Coutinho, Ferreira Pena, Spix e Martius, Edward, Wienner, e outros, além da imprensa paraense que nos ultimos annos tomou a si o fazer conhecer os paizes, os rios, os productos que guardavam os nossos extensos territorios. As exposições nacionaes e mais ainda as internacionaes e as conferencias e escriptos de alguns brazileiros que a ellas concorreram acabaram a obra começada, e hoje o rio-mar é sulcado por grande numero de vapores que levam os nossos productos aos mercados de todo o mundo. A posição astronomica dos dous Estados, é a seguinte: o do Amazonas está collocado entre 5° 10' de latitude Norte e 10° 20' de latitude Sul, e entre 13° 40' e 32o de longitude occidental. Segundo os mappas levantados em differentes epochas pelos portuguezes, e depois pelos brasileiros, este Estado de Norte a Sul, entre as nascentes do rio Mahu e o Javary tem uma extensão de 2400 kilometros, e de Leste a Oeste desde as nascentes do Cumiary até a embocadura do rio das Tres Barras no Tapajóz 2:000 kilometros. É limitado ao Norte pelas republicas de Nova Granada e Venezuella e pela Guyana ingleza, ao Sul pela Bolivia e pela provincia brasileira de Matto-grosso, por Leste, pelo Pará e pela Guyana ingleza, e por Oeste pelo Perú e Nova Granada. A posição astronomica do Pará se acha determinada pelas posições de 4° 10' de latitude septentrional e 8° 40' de latitude meridional; e quanto a longitude, demora entre 2° 10' e 15° 20' de longitude occidental. É o Pará limitado ao Norte pelo Oceano atlantico, e pelas Guyanas, Franceza, Hollandeza e Ingleza; pelo lado de Matto-grosso pelos montes Gradaús e pelos rios Fresco e Caray que se lançam no Tapajóz; de Maranhão é separado pelo rio Gurupy, assim como de Goyaz o é pelo rio Araguaya. A sua area calcula-se aproximadamente ser de 1.744:000 kilometros quadrados. A area dos dous Estados reunidos tem sido calculada ora em 3.044:732 ora em 4.617:360 kilometros quadrados, mas o maior numero dos que tem estudado este assumpto a suppõe ser de 3.050:000 kilometros quadrados. Sobre este assumpto que tão resumidamente ennunciei, permitta-me o leitor que me alongue um pouco, não só quanto aos limites, como tambem que enumere e apresente alguns apontamentos historicos a elles relativos, e finalmente diga alguma cousa da navegabilidade do Amazonas e seus affluentes. Começarei pela Bolivia. Não foi sem difficuldade que o tratado de 27 de Março de 1867 veio pôr ponto á velha questão de limites que nos ameaçava de nunca poder acabar, pela animosidade que parecia haver contra o Brazil, a quem attribuiam vistas ambiciosas sobre o territorio da Republica; e tambem porque os adversarios do general Melgarejo, lançavam mão do tratado como de arma politica contra o presidente que o celebrava. Os folhetos, os livros publicados n'esse sentido são numerosos, e como se taes meios não bastassem, ainda as nossas complicações com o Paraguay, e a guerra dos cinco annos, vieram, como que, augmentando as sympathias da Bolivia por uma nação da mesma origem que ella, accrescer á má vontade contra o então imperio brasileiro. Os adversarios do tratado de 1867, baseavam-se no tratado de Tordesillas de 1777, e só ás suas disposições attendiam para o desenlace da questão, entretanto que a guerra entre Portugal e Hespanha annulara tal tratado, e a mesma Bolivia legislara em contrario ás disposições d'elle, no que respeita a extradição de escravos, authorisada pelo artigo 19.o; e em 1838 recusando-se á entrega de criminosos ao Brazil, de novo infringira as disposições do mesmo tratado, ainda que com honra para a sua moderna legislação. Força é confessar que o plenipotenciario brasileiro Lopes Netto apresentando a doutrina do uti-possidetis, que acabando com as difficuldades dos antigos tratados das metropoles nos permittio terminar nossas questões territoriaes com varias potencias limitrophes, comprehendeu e bem que aquelle principio nem por isso devia ser tomado como barreira inquebrantavel para qualquer concessão que facilitasse um accordo equitativo, e deixando argucias que não constituem diplomacia, preferiu levar ao animo predisposto do governo da Bolivia a convicção das reciprocas vantagens, e conseguiu a ultimação do tratado de que fallamos, tendo dado posse a Bolivia nas lagoas Mandioré, Gaiba Uberaba e Caceres, que com a Bahia-Negra, a constituiram ribeirinha do rio Paraguay pela sua margem direita; e ainda nos terrenos situados na parte oriental da serra de Chiquitos, e nos terrenos situados entre Rio Verde e o Paragaú; concessões que com a navegação do Madeira abriram á Bolivia horisontes amplos para o seu commercio até então restricto ao porto de Cabija. Por seu lado a Bolivia passando a linha do Madeira para Oeste, tirada uma parallela na latitude S. de 10° 20' até o encontro do Javary, foi equitativa para o imperio. A grande vantagem para a Bolivia foi vêr o seu commercio livre da imposição que por um lado lhe fazia o Perú |