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AUTO DA MOFINA MENDES.

Entra primeiramente hum Frade, e a modo de prégação diz o que se segue.

FRADE.

Tres cousas acho que fazem

Ao doudo ser sandeu;

Hua ter pouco siso de seu,

A outra, que esse que tem
Não lhe presta mal nem bem:
E a terceira,

Que endoudece em gran maneira,
He o favor (livre-nos Deos)
Que faz do vento cimeira,

E do toutiço moleira,

E das ondas faz ilheos.

Diz Francisco de Mairões,

Ricardo, e Bonaventura,

Não me lembra em que escritura,

Nem sei em quaes distinções,

Nem a cópia das razões;

Mas o latim

Creio que dizia assim:

Nolite vanitatis debemus confidere de

his, qui capita sua posuerunt in ma

nibus ventorum &c.

Quer dizer este matiz

Antre os primeiros que traz:

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Magister sententiarum,
Demosthenes, Calistrato;
Todos estes concertárão
Com Scoto, livro quarto.
Dizem: Não vos enganeis,
Letrados de rio torto,
Que o porvir não no sabeis,
E quem nisso quer pôr peis
Tem cabeça de minhoto.

Ó bruto animal da serra,
Ó terra filha do barro,

Como sabes tu, bebarro,

Quando ha de tremer a terra,
Que espantas os bois e o carro?
Pelos quaes dixit Anselmus,
E Seneca, Vandaliarum,
E Plinius Choronicarum,
Et tamen glosa ordinaria,
E Alexander de aliis,

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Aristoteles

de secreta secretarum:

Albertus Magnus,

Tullius Ciceronis,

Ricardus, Ilarius, Remigius,

Dizem, convem a saber:

Se tens prenhe tua mulher,
E per ti o composeste,
Queria de ti entender

Em que hora ha de nascer,
Ou que feições ha de ter
Esse filho que fizeste.

Não no sabes; quanto mais
Commetterdes falsa guerra,
Presumindo que alcançais
Os secretos divinaes

Que estão debaixo da terra.

Polo que, diz Quintus Curtius,

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Augustinus

Hieronimus

Bernardus

Remigius

de angelorum choris, d'alphabetus hebraice,

de virgo ascentionis,
de dignitate sacerdotum;

Estes dizem juntamente
Nos livros aqui allegados:
Se filhos haver não pódes,
Nem filhas por teus peccados,
Cria desses engeitados,
Filhos de clerigos pobres.
Pois tens saco de cruzados,
Lembro-te o rico avarento,
Que nesta vida gozava,
E no inferno cantava:

Agua, Deos, agua,

Que lhe arde a pousada.
Mandárão-me aqui subir

Neste sancto amphitheatro,

Para aqui introduzir

As figuras que hão de vir

Com todo seu apparato.

He de notar,

Que haveis de considerar
Isto ser contemplação
Fóra da historia geral,
Mas fundada em devação.

A qual obra he chamada
Os mysterios da Virgem;
Que entrará accompanhada, ・ ̈
De quatro Damas, com quem
De menina foi criada.
A hua chamão Pobreza,
Outra chamão Humildade;
Damas de tanta nobreza,
Que tod'alma que as préza
He morada da Trindade..
Á outra, terceira dellas,
Chamão Fé por excellencia;
Á outra chamão Prudencia...
E virá a Virgem com ellas,
Com mui fermosa apparencia...
Será logo o fundamento
Tractar de saudação,

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E depois deste sermão,
Hum pouco do nascimento;
Tudo per nova invenção.

Antes disto que dissemos,
Virá com musica orphea
Domine labia mea,

E Venite adoremus®

Vestido com capa alhea.

Trará Te Deum laudamus
D'escarlata hua libré:

Jam lucis orto sidere
Cantará o benedicamus,
Pola gran festa que he.

Quem terra, pontus, æthera
Virá muito assocegado
N'hum sendeiro mal pensado,
E hum gibão de tafetá,
E húa gorra d'orelhado.

Em este passo entra nossa Senhora, vestida como rainha, com as ditas donzellas, e diante quatro anjos com musica: e depois de assentadas, começão cada hua de estudar per seu livro, e diz a

VIRGEM.

Que ledes, minhas criadas?

Que achais escripto hi?

PRU. Senhora, eu acho aqui

Grandes cousas innovadas,

E mui altas pera mi.
Aqui a Sibylla Cimeria
Diz que Deos será humanado
De hua virgem sem peccado;
Que he profunda materia

Para meu fraco cuidado.

POBREZA.

Eruthea profetiza

Diz aqui tambem o que sente:

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