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Aldeia Galega, a Landeira, e Ranginha,

E de Lavra a Coruche? tudo he terra minha.
E desde Çamora até Salvaterra,

E desde Almeirim bem até Herra,

E tudo per alli,

E a terra que tenho de cardos e pedras,

Que vai desde Cintra até Torres Vedras;
Tudo he meu. Ólha pera mi,

Verás como medras.

Isto e muito mais te darei,

Que não quero mais senão senta-te ahi,
Posto em giolhos, e adora em mi:
Ólha em quão pouco virás a ser rei,

E muito acatado.

CHRISTO.

Retro, retro, malaventurado,
Falso, enorme, civel Satanaz.

Scripto he, não adorarás

Senão hum so Deos, com grande cuidado
A elle servirás.

Luc. Que he isso, Satan?

SAT. Venho embasbacado,

E estou mais mofino que hum alfeloeiro.
Dá-me a vontade que aquelle escudeiro
He o pastor daquelle nosso gado.

CHRISTO.

Eis aqui subimos a Hierusalem

Pera tirar o vestido em que ando;
Porque os açoutes me estão esperando.
Cumpra-se todo o meu mal e meu bem.
Quero ir levar

Minha breve vida a quem m'ha de matar;

E assi entregar a minha cabeça
Á cruel c'roa, porque ella padeça

Com tanto de sangue, que quem me olhar
Que não me conheça.

Quero ir levar estes meus cabellos
Onde sejão feitos duzentos pedaços;
Quero ir pregar estes pés e meus braços
Onde os sinta, e não possa ve-los:
E o delicado

Triste meu peito, que seja pisado
Com couces irosos, e minhas queixadas
E dentes, quebrados com mil bofetadas.
E eu virei logo ser sepultado
Em breves passadas.

BELIAL.

Senhor Lucifer, eu ando doente,
Treme-me a cara, e a barba tambem,
E doe-me a cabeça, que tal febre tem,
Que soma sam hetigo ordenadamente,
E doe-me as canellas:

Sai-me quentura per antre as arnellas,
E segundo me acho, muito mal me sinto;
E algum gran desastre me pinta o destinto.
Até as minhas unhas estão amarellas,

Que he gran labyrintho.

Em este passo vem os cantores, e trazem hua tumba, onde vem hua devota imagem de Christo morto; e despois de acabada sua procissão, diz

BELIAL.

Ergue-te, Senhor, que segundo creio,
Pois que assi tremo e estou amarello,
Que sera tomado este nosso castello,

E o gado que temos ha de ser alheio. SAT. Isso he o que eu digo.

BEL. Rugem-me as tripas, arde-me o embigo,

E a boca empolada, assi como de figos.
Crede vós, Rei, que tendes imigos;

Porque estas doenças que trago comigo,
Denotão perigos.

Aqui tocão as trombetas e charamellas, e apparece hữa figura de Christo na resurreição, e entra no Limbo, e soltará aquelles presos bemaventurados. E assi acaba o pre

sente auto.

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Quem com mal anda, dizia Jacó, Rabina Rabasse, Rabi Mousem, Não cuide ninguem que lhe venha bem, Nem he bem que alguem haja delle dó. Quem com mal anda, chora e não canta; Quem so se aconselha, so se depena; Quem não faz mal, não merece pena; Quem chora ou canta, fadas más espanta. Dizia minha mãe Gemilha saborida: Filho, não comas, não rebentarás; Se sempre calares, nunca mentirás; Come e folga, teras boa vida. Dizia meu pae Mosé Rabizarão:

Não comas quente, não perderás o dente; Quem não mente, não vem de boa gente; Não achegues á forca, não te enforcarão.

Dizia meu dono, cuja alma Deos tem:
Não peques na lei, não temerás rei;

Se tu te guardares, eu te guardarei;
Quem sempre faz mal poucas vezes faz bem.
Dizia meu tio Rabi mallogrado:

Filho Jacob, o que fazes, dizia, Jacob Badear,
Achega-te ca, quero-te ensinar:

Não sejas pobre, morrerás honrado;
Falla com Deu, seras bom rendeiro;
Quando perderes, põe-te de lodo;

Se nada ganhares, não sejas siseiro.
SAM. Que fallas? que fallas? azara te veio?
LEV. Ando cuidando naquelle coitado
Daquelle Mexias que jaz enterrado.
Todo o que dixe foi devaneio:
Dixe que havia de resuscitar.
SAM. Quando, meu dono? LEV. Assi digo eu.
Daquelles guardados nenhum pareceu

Que lá hontem forão pera o guardar.

SAM. Elle dizia que o dia terceiro.
LEV. Que negro chanto, que guarra sería!
SAM. Não fallemos nisso, tudo he bulraria:
Pois elle seria o Deu verdadeiro?
Fallemos em al, Rabi Samuel.
Oitras lazeiras ha hi que contar;
Leix'o jazer. Queres arrrendar
Comigo hua renda? Se fores fiel,
Arrenda comigo este anno que vem.
LEV. Que renda? SAM. Hũa renda.
LEV. E não tem nome?

Ve tu se he tal; que o demo me tome,
Se não arrendar, se me vier bem.

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