COMMENDADOR JOAQUIM ALVES DA SILVA (Noticia biographica) O completo e rapido esquecimento, a que são condemnados no interior de nosso Paiz, alguns homens de real merito, que por suas obras adquiriram direito á estima publica, é um facto infelizmente bem commum no Brasil e principalmente nas localidades do centro, a que denominamos sertão. Emquanto vivem, sentem-se prestigiados pelos que os circumdam; tèm ad viradores que os exaltam; mas bem depressa tudo desapparece, desde que morrem. Todavia, ainda por algum tempo, seus contemporaneos lhes lembram os nomes, que com o tempo se vão apagando da memoria, mesmo da geração em que viveram. Isto acontece mais commumente no interior, onde os factos apenas subsistem pela tradição oral, que raro se conserva inalterada, de modo que os factos se transformam e se perdem com o volver dos annos. O illustre Chateaubriand, no seu itinerario de Paris a Jerusalem, passando pela Grecia, procurou ver o logar onde existio Sparta, mas os degenerados filhos de heroes tão celebres, tudo ignoravam tudo até o logar da antiga Lacedemonea que trinta e tres seculos teve de existencia ! Assim, os nomes de Leonidas, Pausanias, Lycurgo foram lançados ao Barathro, não ao da antiga Laconia, mas ao do total esqueci mento. E até o proprio leito daquelle seu rio querido que corria entre myrthos, louros e oliveiras tambem sumio.se. Quem sabe mais hoje, onde corria o Eurotas no qual se banhavam os alvos cysnes ? Não ė, pois, para extranhar si a completa ignorancia que no proprio logar, onde existio, se encontra a respeito de um homem que ha poucos annos, apenas, desappareceo do numero dos vivos! Nem as obras de construcção deixadas, nem os beneficios feitos puderam luctar contra a voragem do esquecimento de quem vivera oitenta e um annos. As obras materiaes que deixara, varios edificios construidos de madeira entraram em ruina menos rapidamente do que no olvido a memoria do constructor. No emtanto, o nome de Joaquim Alves, comquanto não seja um nome illustre por artes, lettras ou armas, nem tampouco se tenha feito notavel na historia politica da antiga Capitania e provincia de Goyaz, era todavia digno, por muitos titulos, de passar a posteri dade. Quem lançar um olhar retrospectivo para o periodo da historia colonial daquella antiga Capitania e estudar os homens e as cousas daquelle tempo, em que viveo e prosperou Joaquim Alves, no obscuro logar em que nasceo e onde residio e falleceo, acompanhar-lhe a vida e as acções, e a formação de sua fortuna com as difliculdades e ignorancia proprias daquella epocha, não deixará de admiral-o, não The recusando a fama relativa, de que se tornou digno. Descendendo de pais pobres, em sertão remoto, desprotegido de quaesquer recursos, poude, no emtanto, por proprio esforço conquistar uma posição social honrosa e uma fortuna avultada para o tempo em que viveo. Sua vida prolongou-se de 1770 a 1851, de modo que abrange um periodo consideravel na historia da Capitania. A contar do governo de João Manoel de Mello, atravessou as administrações dos Capitães Generaes Antonio Carlos Furtado de Mendonça, José de Almeida e Vasconcellos, o governo interino do Ouvidor Antonio José Cabral de Almeida e dos governadores Luiz da Cunha Menezes, Dom João Manoel de Menezes, Dom Francisco de Assis Mascarenhas, Fernando Delgado Freire de Castilho e Manoel Ignacio de Sampaio, fazendo pessoalmente parte do governo provisorio composto de seis membros e que foi installado no dia 10 de Abril de 1822. Relacionou-se com diversos presidentes da antiga provincia, desde o Visconde de Maranguape Caetano Maria Lopes Gama, que tomou posse do governo no dia 14 de Dezembro de 1824, até o presidente que a administrou em 1851, o D. Silva Gomes. E' bem longo esse periodo para a historia do periodo colonial que começa em 1726 e para o periodo constitucional até o anno de 1851, em que falleceo o biographado, o qual sempre exerceo, durante sua vida, certa influencia nos negocios de administração e politica de Goyaz. |