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Olha as Arabias três, que tanta terra
Tomam, todas da gente vaga e baça,
Donde vem os cavallos para a guerra,
Ligeiros, e feroces, de alta raça.

Olba a costa, que corre até que cerra
Outro estreito de Persia, e faz a traça
O cabo, que co'o nome se appellida
Da cidade Fártáque alli sabida.

Olha Dofar insigne, porque manda
O mais cheiroso incenso para as aras:
Mas attenta, já cá de est'outra banda
De Roçalgate, e praias sempre avaras,
Começa o reino Ormuz, que todo se anda
Pelas ribeiras, que inda serão claras,
Quando as galés do Turco, e fera armada,
Virem de Castel-Bianco nua a espada.

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Olha o cabo Asabóro, que chamado
Agora he Moçandão dos navegantes:
Por aqui entra o lago, que he fechado
De Arabia, e Persias terras abundantes.
Attenta a ilha Bar êm, que o fundo ornado
Tem das suas perlas ricas, e imitantes
A cor da Aurora, e vê na agua salgada
Ter o Tygris e Euphrates huma entrada.

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Olha da grande Persia o imperio nobre,
Sempre posto no campo, e nos cavallos,
Que se injuria de usar fundido cobre,
E de não ter das armas sempre os callos.
Mas vê a ilha Gerùm, como descobre
O, que fazem do tempo os intervallos;
Que da cidade Armuza, que alli estese,
Ella o nome despois, e a gloria, leve.

CIV

Aqui de Dom Philippe de Menezes
Se mostrará a virtude em armas clara,
Quando com muito poucos Portuguezes
Os muitos Parseos vencerá de Lara:
Vião provar os golpes e revezes
De Dom Pedro de Sousa, que provara
Já seu braço em Ampaza, que deixada
Terá por terra á força só de espada.

CV

Mas deixemos o estreito, e o conhecido
Cabo de Jasque, dito já Carpella,
Com todo o seu terreno mal querido
Da natura, e dos dons usados della:
Carmânia teve já por appellido:

Mas vês o formoso Indo, que daquella
Altura nasce, junto à qual tambem
D'outra altura correndo o Gange vem.

CVI

Olha a terra de Ulcinde fertilissima,
E de Jaquete a intima enseada,
Do mar a enchente subita grandissima,
E a vasante, que fege apressurada.
A terra de Cambaia vê riquissima,
Onde do mar o seio faz entrada:
Cidades outras mil, que vou passando,
A vós outros aqui se estão guardando.

CVII

Vês, corre a costa célebre Indiana
Para o Sul, até o cabo Comori,
Já chamado Cori. que Taprobana
(Que ora he Ceilão) defronte tem de si:
Por este mar a gente Lusitana,
Que com armas virá despois de ti,
Terá victorias, terras, e cidades,

Nas quaes hão de viver muitas idades.

Thetis, por occasião de indicar ao Gama a cidade de Meliapôr, na Costa de Coromandel, refere os milagres e o martyrio do apostolo S. Thomé

CVIII

As provincias, que entre hum e o outro rio
Vês com varias nações, são infinitas:
Hum reino Mahometa, outro Gentio,
A quem tem o Demonio leis escritas.
Olha que de Narsinga o senhorio
Tem as reliquias sanctas e bemditas
Do corpo de Thomé, barão sagrado,
Que a Jesu Christo teve a mão po lado:

CIX

Aqui a cidade foi, que se chamava
Meliapôr, formosa, grande e rica;
Os idolos antiguos adorava,

Como inda agora faz a gente inica:
Longe do mar naquelle tempo estava,
Quando a Fé, que no mundo se publica,
Thomé vinha prégando, e já passara
Provincias mil do mundo, que ensinara.

CX

Chegado aqui prégando, e junto dando
A doentes saude, a mortos vida,
A caso traz hum dia o mar vagando
Hum lenho de grandeza desmedida:
Deseja o Rei, que andava ed ficando,
Fazer delle madeira, e não duvida
Poder tira-lo a terra com possantes
Forças d'homens, de engenhos, de elephantes.

CXI

Era tão grande o pezo do madeiro,
Que, só para abalar-se, nada abasta;
Mas o nuncio de Christo verdadeiro
Menos trabalho em tal negocio gasta:
Ata o cordão, que traz, por derradeiro
No tronco, e facilmente o leva, e arrasta
Para onde faça hum sumptuoso templo,
Que ficasse aos futuros por exemplo.

CXII

Sabia bem, que se com fé formada
Mandar a hum monte surdo, que se mova,
Que obedecerá logo á voz sagrada;

Que assi ho ensinou Christo, e elle o prova:
A gente ficou disto alvoroçada,

Os Brahmenes o tem por cousa nova:
Vendo os milagres, vendo a sanctidade,
Hão medo de perder autoridade.

CXIII

São estes sacerdotes dos Gentios,
Em quem mais penetrado tinha inveja,
Buscam maneiras mil, buscam desvios,
Com que Thomé não se ouça, ou morto seja:
O principal, que ao peito traz os fios,
Ilum caso horrendo faz, que o mundo veja;
Que inimiga não ha tão dura, e féra,
Como a virtude falsa da sincera.

CXIV

Hum filho proprio mata, e logo accusa
De homicidi Thomé, que era innocente:
Dá falsas testemunhas, como se usa,
Condemnaram-uo à morte brevemente.
O Sancto, que não vê melhor escusa,
Que appellar para o Padre Omnipotente,
Quer diante do Rei, e dos senhores,
Que se faça hum milagre dos maiores.

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