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não foi e os commerciantes voltaram á Asia sem ella, levando porem um delles, o de nome Nicoláo, seu filho Marcos que tinha então desesete annos de idade.

Foi assim que Marco Polo (*) chegou a China, onde permaneceo muitos annos, porque tendo para lá ido em 1275 elle só voltou a Veneza em 1295, tendo feito não só muitas viagens pelas provincias centraes da China, como ainda tendo vindo por mar, pois embarcaram os negociantes em Zaiton (Chinchow) seguiram pelas costas da India, alcançaram o golpho Persico e d'ahi subiram para Trebizonda, de onde voltaram a Veneza.

Refere Ramusio que ninguem os conheceu em Veneza depois de vinte e tantos annos de ausencia, a começar pelos seus criados, empregados, etc.

Quando se espalhou em Veneza a noticia da chegada dos Polo que se dava por mortos, houve curiosidade geral, curiosidade que era ainda excitada pelo que elles contavam da China, e pelo que mostravam, em objectos preciosos e exquisitos.

Marco Polo tomou parte alguns annos depois numa batalha dada pelos venezianos contra os genoveses proximo de Curzola e foi feito prisioneiro. Parece que foi durante esta prisão que um seu companheiro, Rusticiano de Pisa, escreveo, a descripção das suas viagens, ouvindo-as do proprio Marco Polo.

Escreveo-as porem em francez que era uma lingua então muito fallada. O livro das viagens de Marco Polo abre um mundo novo para a Geographia da Asia Central, da China e do Indostão,

A situação da China á beira do mar, tornou-se não uma cousa vaga, porem segura e bem detalhada e a proximidade deste paiz com a Indo China e o Indostão bastante esclarecida, ficando revelada a existencia das bacias ou mares secundarios que separam estas duas peninsulas.

Marco Polo traz a menção positiva das viagens que os arabes faziam por mar do Golpho Persico ao Indostão, assim como do mesmo golpho para Zanzibar e a ilha de Madagascar, cousas de que na Europa não havia ideia.

Veremos dentro em pouco que Paulo Toscanelli fundava as suas opiniões, nas cartas enviadas a Colombo e a Fernão Martins, em ideias ou elementos de Geographia que não podem deixar de ser hauridos em boa parte nas descripções de Marco Polo.

Ainda Fr. Odorico de Pordenone, de 1316 a 1330, percorreu o imperio da China, o Thibet o Indostão, Java, e Sumatra; e alem deste outros missionarios, entre os annos de 1300 e 1330 e até Francisco Pegoleti escreveu uma especie de manual para os viajantes commerciantes. (Veja-se a obra do coronel Yyule, Cathay vol. 1.o.

O papa Benedicto XI enviou á Corte de Pekin como legado, a Giovanni Marignolli que lá esteve alguns annos, e que tambem viajou pelo Indostão e a ilha de Ceylão.

Após a queda dos mongóes na China desappareceram as informações fornecidas pelas viagens dos europeus.

Se não fossem as devastadoras guerras que assolaram a Asia de 1350 em diante e que deram afinal em resultado a queda de Constantinopla em 1453, não teria sido preciso a descoberta do caminho da India, pelo Atlantico, em virtude do progresso constante dos conhecimentos da Geographia terrestre.

A topographia das costas da parte sul da Asia e da parte leste da Africa teriam sido reveladas pouco a pouco, com as narrações dos viajantes e a expansão do commercio.

O conhecimento da America viria depois pelas explorações da parte oriental do mar que banha a China.

As guerras e a queda do poder dos mongóes retardaram por cem annos talvez o conhecimento do sul e do leste da Asia, mas a noticia de que havia agua pelo lado do oriente daquella parte, existia entre as pessoas que se

(*)-Accioli denomina Marco Paulo, o que necessita de correcção, pois, como se vè, Polo é um sobrenome de familia.

davam a estudos, pelo que deve desapparecer um tanto esta crença no maravilhoso das descobertas em que tantos acreditam.

Ellas não escaparam ao que tantas vezes se tem dado com os mais importantes progressos humanos.

Um facto é muitas vezes estudado e dado a conhecer, não tendo a repercussão e importancia que merece.

Algum tempo depois, um outro estudo, ou uma outra descoberta vem auxiliar a primeira e assim, apanhando o facto util ou descoberta, até ahi inaproveitada, outros trabalhadores vão fazer renascer a primeira, renovar e incrementar o estudo posto de lado por muitos annos e fazel-o produzir todos os resultados uteis de que é capaz.

Tal foi tambem o que se deu com os conhecimentos da Geographia do Oriente.

Abandonados por mais de um seculo elles reviveram, e d'elles se serviram os que renovaram o esforço dos primeiros trabalhos, apparentemente esquecidos.

O principe Henrique aproveitou informações preciosas dadas por arabes e mouros durante a campanha de Ceuta, o rei D. João II mandou Affonso de Paiva e Pero da Covilha para ter a confirmação das informações que conseguira reunir e a expedição de Vasco da Gama veio coroar de resultado todos estes elementos que não eram informações falsas.

Por ser turno a existencia indubitavel de haver o mar na parte Oriental da Asia fez nascer a supposição de que este mar era o mesmo que banhava as costas da Europa a oeste, e no qual os hespanhoes e portuguezes já navegavam.

NOTA 12

Martim Behaim nasceu em Nuremberg em 1436 e consta ter sido discipulo do astronomo Regiomontanus, auctor do 1.° almanack publicado na Europa.

Elle esteve em Portugal em 1480, inventou um astrolabio e embarcou, como cosmographo, na viagem em que Diogo do Cão descobrio o Congo.

Morou tambem no Fayal, onde seu sogro era governador e foi amigo de Colombo.

Foi a sua terra e depois voltou a Portugal, de onde viajou para a Hollanda, constando que foi aprisionado por crusadores inglezes.

Suppõe-se ter morrido em 1506.

Quando esteve em Nuremberg deu a esta sua cidade natal um globo em que estão mencionados os novos descobrimentos de que tinha conhecimento pelas viagens e explorações já feitas.

E' de crer que por isto lhe tenha sido dada a auctoria de descobertas que os escriptores allemães mencionam.

Como se vê, a iniciativa do principe Henrique tinha atrahido a Portugal muitos estrangeiros de merecimento, como era Martim.

Pela representação graphica aqui junta terá o leitor uma ideia do globo do cosmographo alemão que é justamente celebrisado, ficando ao corrente das supposições que se fasiam da Geographia naquella epocha.

Attendendo para os desenhos que verá para diante, melhor compre henderá os progressos que se fiseram no conhecimento desta sciencia.

'VOL. I

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Globo de Martim Hehaim offerecido a Nuremberg no qual já se nota uma terra na parte onde hoje está a peninsula chamada America Meriodinal.

Facto mais notavel ainda, referido por Faustino da Fonseca, é que Martim Behaim conhecia uma passagem pelo sul desta terra pela qual devia se alcançar a costa da Asia.

Segundo este autor, D. Manoel tinha no seu erario um mappa feito pelo notavel cosmographo, o qual era conhecido por Fernão de Magalhães e servio de base a sua notavel tentativa de procurar por ahi esse caminho que realmente elle encontrou, descobrindo o estreito de Magalhães e o Oceano Pacifico. (Veja-se Rocha Pombo.-Historia do Brasil, vol. 1. pags. 132-133. Pigaffetta-Premier voyage autour du monde pag. 40.

NOTA 13

Em a nota n. 10 dei alguns esclarecimentos que julguei dignos de apreço pelo leitor estudioso a respeito de Colombo; cabe agora mais amplo desenvolmento sobre a obra do grande navegador, os esforços empregados por elle e particularidades sobre toda a questão para melhor campo ás reflexões de quem ler.

Colombo viveo muito tempo em Portugal, era maritimo, tratou com os maritimos que navegavam para Porto Santo e Madeira. e alliou-se pelos mais estreitos laços com a familia do illustre navegador Bartholomeu Perestrello, o descobridor e governador de Porto Santo.

Casou com Filippa Moniz de l'erestrello, filha de Bartholomeu, em Lisboa, na capella do Convento de Todos os Santos, em 1473.

Perestrello tinha deixado numerosos mappas, notas e provavelmente informações valiosas que Colombo estudou demorada e cuidadosamente.

Diante de taes elementos é licito acreditar que não fosse apenas por opiniões vagas, nem suspeitas absolutamente theoricas que elle affirmava a existencia de terras a oeste.

E é bem provavel tambem que não dissesse tudo o que sabia, pois o seu procedimento posterior indica as ambições que tinha. Ha uma versão que diz ter Colombo agasalhado em sua casa Martim Behaim, apoderando-se, quando elle ahi morreu, dos seus roteiros, notas, cartas, etc., a qual Accioli cita.

Uma outra versão ainda relata que em casa de Colombo, na Madeira ou em Porto Santo, falleceu o arrojado maritimo Affonso Sanches e que foi este quem revelou ao genovez a existencia de terras ao oeste, onde

elle já tinha ido, parecendo ser esta a mesma terra a que haviam chegado os irmãos Côrte Real.

Las Casas ingenuamente conta que o proprio Colombo dissera que tinha visto dois filhos do capitão que descobriu a dita ilha Terceira que se chamavam Miguel e Gaspar Côrte Real, (*) ir em diversos tempos buscar aquella terra.

Comprehende-se porem que não se pode dar grande valor a estas versões se bem que as não devamos desdenhar, como absolutamente destituidas de fundamento, porque tanto de Martim Behaim que era allemão, como de Affonso Sanches, como de Côrte Real, tem hoje os estudos sobre a descoberta da America revelado que foram navegadores audaciosos e que conheciam já terras do Oceano Atlantico a oeste das costas da peninsula iberica, anteriormente a Colombo. (Veja-se Faustino da Fonseca no livro do Centenario "A Descoberta do Brazil").

No que todos se enganavam era na existencia de um continente e de um outro mar entre as costas de Portugal e as da China, alem da agua que banhava estes dois paizes, isto é, elles não fasiam idéa exacta do diametro da terra, muito maior realmente do que elles suppunham, por não levarem em conta toda a largura do oceano Pacifico e toda a largura da America.

Colombo mesmo era um homem não só muito viajado como instruido. Uma de suas obras que se perdeu inteiramente, era sobre as cinco zonas da terra. Sabe-se que era um estudo que provava o erro das antigas theorias que disiam não poder o homem habitar os climas ardentes, nem os paizes frios, o que elle experimentalmente sabia não ser exacto, pois já tinha navegado, não só no Oceano Artico como pellas costas da Africa, tendo até permanecido na feitoria portugueza do chamado Castello de S. Jorge da Mina, na Costa do Ouro.

A viagem delle ao Oceano Arctico deve ter sido em 1477 e a Costa do Ouro em 1482.

A Bibliotheca Colombina da Cathedral de Sevilha encerra os livros, mappas, notas e documentos de que se servio Fernando Colombo para escrever a biographia de seu illustre pae; ella pertenceu depois da morte de Fernando a Las Casas que della se servio para escrever a Historia das Indias.

Apesar de se achar a bibliotheca redusida a cerca de 4 mil volumes ainda encerra preciosidades, como sejam alguns livros que pertenceram ao proprio Colombo e a seu irmão Bartholomeu. Nesta bibliotheca se encontra o livro Imago Mundi de Pedro d'Aylly, bispo de Cambrai, mais conhecido por Petrus Alliacus, com muitas annotações pelas margens do proprio punho de Colombo.

Por todos os estudos feitos até agora se vè que desde a antiguidade muitos pensadores, Seneca, Posidonius, Ptolomeu, Pedro Alliacus, Rogerio Bacon, haviam todos pensado que devia haver uma parte da terra ainda não conhecida.

Um outro livro muito apreciado por Colombo o qual mostra numa de suas notas adoptar-lhe a opinião, é o do astronomo arabe Alfragan, do qual appareceu uma versão latina na Europa em 1447.

Os erros de Colombo, como dos pensadoes que o precederam, incidio sobre o mar, "Mar Tenebroso" porque elle pensava que a 2.500 milhas das Canarias devia encontrar as costas do Japão. (Cipango)

Toscanelli acreditava que de Lisboa a costa da China seriam pouco mais ou menos 2.000 milhas, quasi o mesmo que de Lisboa as paragens que os Portuguezes já frequentavam na costa africana.

Ptolomeu e Alfragan admittiam a circumferencia do anel equatorial em 20 mil milhas ou vinte mil e quatrocentas milhas geographicas. O calculo de Colombo, descontando o que já se conhecia da terra, devia deixar cerca de 2.500 milhas das Canarias até a costa da Asia.

O Sr. John Fiske em seu consciencioso trabalho, estuda a possibilidade

(*) Eram filhos de João Vaz Côrte Real, um dos mais notaveis navegadores portuguezes do Oceano Atlantico.

de haver Colombo conhecido as viagens dos scandinavos, a descoberta da Vinland feita por elles, etc., e conclue pela negativa, isto é, pela crença de que elle não conhecia as sagas de Eric o Vermelho e as narrações do Norte, pelo que se chega ao resultado de que elle não tinha idéa alguma, nem suspeita do paiz que é hoje a America.

As propostas de Colombo ao rei D. João II devem ter sido feitas em 1484 ou 1485, sendo submettidas a conselho (*). Parece que o rei mesmo sympathisava com as opiniões do genovez, mas no conselho foi impugnada a idéa por se suppor que Colombo se enganava acreditando que a Asia se estendesse tanto para o mar.

Veja-se portanto que o terem repellido a proposta, facto que tantos vezes se tem representado como resultado de mesquinho e acanhado espirito, reprehensivel, por ser considerado como visionario o genovez, partio, façamos justiça, de uma opinião que era alias verdadeira, porque na realidade não estavam a China ou o Japão (Cathay ou Cipango) onde elle disia, e entretanto era este o assumpto sobre o qual versava a proposta.

Não só é injusto culpar alguem por não adivinhar, como nesta procura da costa da Asia estavam de ha muito os portuguezes pela costa africana, de onde Diogo do Cão acabava de chegar com Martim Behaim, tendo avançado mais de mil milhas para o sul do que os navegadores que o tinham precedido. Este caminho tinha o governo portuguez motivos muito serios para acreditar que era o verdadeiro, e deixar o certo pela mesma cousa, quando é duvidosa, não seria proprio dos homens energicos, perseverantes e fortes que tanto fizeram. A isto se junte as grandes vantagens que o navegador pedia para si, sendo, como era, um estrangeiro.

Acrescentam uma cousa que é moralmente mais reprehensivel do que a não acceitação de um plano que na realidade não estava certo, e que é o ter o rei D. João, depois de conhecer os calculos do navegador, mandado secre tamente um navio carregado de certas mercadorias para seguir até Cabo Verde e dali explorar o mar para o oeste afim de descobrir as costas da Asia que Colombo acreditava se estenderem tanto para o Atlantico, (Veja-se Las Casas, Hist. de las Indias) versão que aliás não está provada.

Foi depois disto Colombo tentar a sorte em Castella. Sua mulher, a filha de Perestrello, morreu por esse tempo, sendo muito provavel que elle tivesse entrado ao serviço dos reis de Hespanha em 1486.

Eu aprendi quando menino esta historia de Colombo como os livros da minha adolescencia narravam, isto é, uma especie de lenda em que avultava quasi como uma inspiração, a figura da rainha Isabel, protegendo Colombo. A experiencia e os estudos politicos me levam hoje a pensar de modo muito differente.

Colombo dirigio-se a Castella e ahi foi favorecido o seu projecto porque os interesses de Castella eram contrarios cos de Portugal.

Se os Portuguezes trabalhavam para alcançar a costa da China e do Japão, o que promettia grandes vantagens, e se Colombo offerecia-se para chegar ao mesmo fim por trajecto mais curto, seria tomar aos portuguezes as vantagens que elles esperavam, acceitar as propostas que elle fasia.

Acredita-se ter Colombo tentado interessar os governos de Genova e de Veneza na tentativa que elle queria faser, mas é difficil encontrar tempo para isto attendendo a que elle já se encontrava em Cordova no anno de 1486. Ahi elle travou relações com Alonso de Quintanilla, ministro das finanças da rainha Isabel de Castela.

Em 1486 o confessor da rainha Fernando de Talavera apresentou em Salamanca o caso do pedido de Colombo perante um conselho de homens instruidos, entre os quaes alguns professores daquella celebre universidade. Nada porem foi resolvido, naturalmente porque os livros antigos e os sabios antigos, assim como os doutores da Igreja, não fallavam em

taes cousas.

Em 1487 Colombo estava em Malaga e do seu casamento com Beatriz Henriquez de Arana, nasceu Fernando Colombo em 15 de Agosto de 1488.

(*) Vasconcellos-Vida del Rey D. João II.

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