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são d'esta poesia dal-a na integra, transcrevemos duas quadras caracteriscas:

Vamos ouvir as melodias ternas,

Os meigos quebros de um cantor saudoso:

Eis as bellas mulatas dedilhando

A tyranna, o bahiano desdenhoso...

Escutar os trinados argentinos

Que vibra o violão na voz mimosa;
Do baile rude, da modinha amena,
Vamos colher a magoa perfumosa.

Infelizmente Sylvio Roméro, a par de muitos versos excellentes, sonoros, harmoniosissimos, tem outros imperdoaveis, que empanam o brilho de algumas poesias; estes, por exemplo:

Com aquillo que se passa nas auroras

Que o céo covarde lhes atira em cima

Que a alma deixada sobre a propria gloria,
Não n'a occupa a espreitar as ardilezas,

E como estes, muitos outros. É muito des-" igual; e por vezes tambem as ideias mal se divisam por entre o exaggero das figuras. Varias poesias augmentariam de valor, tornar-se-hiam mais bellas, mais perfeitas, se se o poeta lhes cortasse os versos inuteis, que em vez de desenvolverem o pensamento, o enfraquecem. Deixemos, porém, os defeitos; todas as obras os

teem e até mesmo a natureza não está isenta d'elles. Se sômos severos, se nos mostramos exigentes com Sylvio Roméro, é porque este illustre escriptor brazileiro, quer pelo seu talento, quer pela sua sciencia, occupa um dos logares mais eminentes entre os modernos escriptores do Brazil, e tem portanto obrigação de fugir o mais possivel da vulgaridade e de se approximar do ideal de perfeição a que todos os artistas, a que todos os poetas, devem aspirar.

Em todo o caso, os Ultimos harpejos, além do merecimento proprio das poesias, teem o de ser um documento valioso da reacção anti-romantica no Brazil, marcando a transição da plena época do romantismo para o moderno movimento naturalista, essencialmente philosophico, que de dia para dia mais se accentúa.

X

FILINTO DE ALMEIDA

Filinto de Almeida occupa logar á parte entre os poetas brazileiros, dos quaes se distingue pelo sentir e pela maneira. No estylo e na imaginação é na verdade portuguez, como portuguez é de nascimento. Talvez devesse antes figurar entre os poetas do Portugal contemporaneo do que entre os ornamentos da litteratura moderna do Brazil. O que acontece com Filinto de Almeida na poesia brazileira, succedeu com um filho do Brazil, o primoroso poeta Gonçalves Crespo, na poesia portugueza. Tambem este, vindo creança para Portugal e entre nós fixando residencia e constituindo familia, guardou na alma e no coração até á sua morte prematura a ardencia de sul-americano. Foi

sempre um poeta brazileiro, e de superior merecimento, no meio dos poetas portuguezes. Do mesmo modo Filinto de Almeida é um poeta portuguez, e poeta distinctissimo, no meio dos poetas brazileiros.

A Lyrica 1, esplendido livro de versos d'este poeta, comprova a nossa asserção. Foi para nós uma surpreza agradabilissima a primeira leitura que d'elle fizemos, não por nos revelar um estro portuguez, mas pela elevação artistica attingida pelo poeta. Demais a mais, Filinto de Almeida fôra, a crystalino veio, beber o estylo e retemperar a imaginação. Parnasiano pela fórma, mas parnasiano tambem pela ideia, não adaptou á lingua portugueza a maneira dos poetas francezes; preferiu - e conseguiu-o com rara felicidade renovar a graciosa maneira verdadeiramente nacional, explorando o Parnaso de Camões e chegando mesmo á fonte mais pura dos poetas da Renascença - as Rimas do divino Petrarca. Por isso, lêmos e relêmos, com intimo prazer, a Lyrica de Filinto, sentindo no espirito ineffavel inebriamento, como o delicado gastronomo a quem o amphitryão, no fim do banquete, offerece um calix de

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1 Filinto de Almeida-Lyrica. - Rio de Janeiro. Typ. e Lyth. Moreira Maximino & C.a, rua da Quitanda, 111 e 113. 1887 -1 vol. de 282-4-6 pag.

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