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Á MEMORIA DE VASCO DA GAMA E CAMÕES

Et hor quella del colto, e buen Luigi
Tant'oltre stende il glorioso volo

Che i tuoi spalmate legni andar men lunge.

Tora. Tasso-Soneto a Camões.

Eis mais uma vez sáe dos prelos, já cansados de o reproduzirem, o poema immorredouro, que legou á posteridade, com a da nação que ditosa vos deu o ser, a vossa mutua gloria. Se, ardido navegador, foste devassar o berço da aurora, quebrando os cancellos com que o vedava á Europa o terrivel gigante, o teu cantor, Gama illustre, seguindo o rastro das quilhas de teus frageis lenhos, foi ainda alem da Taprobana, na parte mais extrema das conquistas portuguezas, cantar, ao som das encapelladas ondas dos mares da China, o poema escripto com o seu sangue, humedecido com as lagrimas da desventura, molhado e salvo das ondas do naufragio lastimoso.

E se com o teu feito, e com os teus aguerridos argonautas foste estender mais largo horisonte para as proezas guerreiras dos soldados, já exercitados nos campos africanos; se ao abrigo da cruz abriste tantas regiões á luz da fé e da civilisação, communicando-as pelo commercio e trato com o antigo continente; o teu vate, capitão audaz, no seu poema, reproduzido por mais de quatorze linguas estranhas, revela ao mundo que alargaste

os effeitos e importancia de tua arrojada empreza, e o valor e heroicos feitos do pequeno povo que a poz por obra.

Povo pequeno de gigantes! E quanta gloria não irradiou de teu solo abençoado! E que vastas regiões descobertas! tão vastas, que nunca as abandonava o sol, quer surgisse do seu berço de perolas, quer se elevasse gigante, quer repousasse no seu leito roxeado!

Aqui te vejo, nação generosa, abroquellando a Europa do poder ottomano, acolá roubando á soberba Veneza o seu lucrativo commercio, tuas armas sempre vencedoras, e tua alliança e amisade sempre amada e sempre temida; na terra brotando de cada pegada tua um triumpho; no mar tremendo debaixo de teus pés o elemento vario e indomavel.

Mas caíste! Caíste porém como cáem os bravos no leito de honra, no campo de batalha! E se a tua gloria se eclipsou por algum espaço, após o tempo de uma grande catastrophe, bastou que encarasses de vontade o teu passado para que esta resurgisse, e quebrasses grilhões de sessenta annos, justo castigo pela tua indifferença pela causa publica; bastou que olhasses de vontade mais tarde para esse passado para arrojares para alem dos Pyrineos as aguias rapaces que ousaram pairar sobre o teu solo; e o primeiro capitão do seculo fez justiça ao teu valor, sentiu o peso do teu braço.

Resurgiste! Venceste, porque não tinhas renegado o teu passado, não tinhas cuspido nos brasões de teus avós! Bastou o seu exemplo para accordar os teus brios adormecidos, o canto do teu bardo para inflammar o coração de teus soldados! Mas se hoje, que o direito internacional europeu tolera que se disponha da independencia dos povos, como dadiva do conquistador; que á força bruta cede o passo a verdadeira civilisação,

que protege o fraco contra o poderoso, que só poderá reivindicar esse nome quando houver convertido a espada na relha do arado, o bronze que atroa e mata na campa que chama do alto do campanario os povos á verdadeira fraternidade, a fraternidade catholica; que o valor está no instrumento homicida, que multiplica a morte, e não no braço do forte; se está marcado nos altos destinos da Providencia, que em castigo dos nossos erros e do falso e estupido regosijo que se apparenta em ver nações, com tanto ou maior jus á sua autonomia, desapparecerem do mappa do globo, embora a campa cáia sobre essas tuas glorias, o teu nome e o de teus compatriotas não ficará extincto, porque em volta d'essa campa, de que será epitaphio os Lusiadas, revoará a fama que affronta os seculos. Depois da morte tambem se vive!

Viverás; porque na tua sorte adversa ainda irás juntar esse teu nome ao dos gregos e dos romanos; porque n'esses vastos depositos das sciencias inda irão collocar-se os Lusiadas ao lado da Illiada e da Eneida!

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