Memorias offendidas que hum só dia Me não deixais em paz o pensamento, Não me dancis o gosto do tormento Que quem vos offende vos deffendia. Que me quereis, olhai que se injuria Comvosco o delicado sentimento, Que me ficou do eterno apartamento, De quem tem ja desfeita a morte fria. Deixarão-me com a magoa das offensas, Levarão hum remedio que só tinha, Quem ira vencer a pena que a alma sente.
Onde achará do dano as recompensas,
Que ainda de ser triste, a dita minha Me não deixa hum momento ser contente.
Lembranças tristes, para que gastais tempo Em cançar mais hum coração cançado! Contentai-vos em me vêr em tal estado, Não queirais de mim mor vencimento. Temo tão pouco ja vosso tormento, De andar a passar mal acostumado, Que sinto de me vêr atormentado De nada podêr ter ja contentamento. Trabalho em vão, cuidando empecer A quem a esperança tem perdida, De tudo quanto teve e desejou. De perder muito não tenho que perder, Senão for esta ja cançada vida. Que por mór perda minha me ficou.
Quando descançareis olhos cançados Pois ja não vêdes quem vos dava vida, Ou quando vereis fim á despedida A tantas disventuras e cuidados.
Ou quando quererão meus duros fados Erguer minha esperança tão caida; Ou quando, se de todo he ja perdida, Alcançar podereis meus bens passados. Bem sei que hei de morrer nesta saudade Em que meu esperar he todo vento, Pois nada espero ao que desejo.
E pois tão clara vejo esta verdade,
Bem póde vir a mim todo o tormento, Que me não hade espantar pois sempre o vejo.
Memoria de meu bem cortado em flor
Por ordem de meus tristes e maos fados, Deixai-me descançar com meos cuidados Nesta inquietação de meus amores.
Basta-me o mal presente, e os temores
Dos successos que espero infortunados, Sem que venhão de novo bens passados Afrontar meu repouso com suas dôres. Perdi n'huma hora quanto em termos Tão vagarosos e largos alcancei, Leixai-me pois, lembranças desta gloria.
Cumpre acabe a vida nestes ermos, Porque, nelles com meu mal acabarei
Mil vidas, não huma só, dura memoria!
Do corpo estava ja quasi forçada, Aquella alma gentil ao Ceo devida, Rompendo a nobre tea de sua vida Por tornar cedo a patria desejada. Ainda em flor sem ter raiz lançada Na terra della tanto aborrecida S'arrancou boamente, e esta partida Fez a morte suave sua jornada. Alma pura, que ao mundo te mostraste Solta de seus grilhoens q'outros enlação, E agora gozas la dias melhores, Dos teus, que cá sem ti tristes deixastes Te mova alta piedade, em quanto passão Estas horas que a dôr lhe faz maiores.
O dia, hora em que naci moura e pereça, Não o queira jamais o tempo dar, Não torne mais ao mundo, e se tornar Eclipse nesse passo o sol padeça.
A luz lhe falte, o sol se escureça, Mostre o mundo sinaes de se acabar, Nação-lhe monstros, sangue chova o ar, A mãi ao proprio filho não conheça. As pessoas pasmadas de ignorantes, As lagrimas no rosto, a cor perdida, Cuidem que o mundo ja se destruio. Oh gente temerosa, não te espantes,
Que este dia deitou ao mundo a vida Mais desgraçada que jamais se vio!
Transumpto sou senhora neste engano, E tratar delle comigo he escusado, Que mal póde de vós ser enganado Quem d'outras como vós tem desengano. Ja sei que foi á custa de meu dano
Que só no doce dar tendes cuidado,
Mas para como eu sou de vós julgado Mui vans são as esperanças deste anno. Tratei grão tempo d'amor, e daqui veo A conhecer o fingido facilmente, Que tal he gentil dama o que mostrais. De treslida cahiste neste enleo,
Querei de mim o que eu quizer boamente, Que no al a costa arriba caminhais.
Ondas que por el mundo camiñando Contino vas llevadas por el viento, Llevad embuelto en vos mi pensamiento, Do está la que do esta lo está causando.
Dizilde que os estas acrescentando, Dizilde que de vida no ai momento, Dizilde que no muere mi tormento, Dizilde
que no vivo ya esperando.
quan perdido me hallaste,
Dizilde quan ganado me perdiste, Dizilde que sin vida me mataste.
Dizilde quan llagado me feriste, Dizilde quan sin mi que me dexaste, Dizilde
Sobre un olmo que al cielo parecia Llegar de flor no oja, se mostrava Una ave sola, e triste vi que estava, Y ali, su soledad encarecia.
En una fuente clara que corria Con dulce son lloroso se baxava, Y en el sa metendo la enturbiava, Y viendo la agua turbia la bevia.
La causa porque al dolor tanto se entregava La sola tortorilla es verse ausente, Mirad a quanto el mal d'auzencia llega. Se tanto sentimiento el accidente
De una ave sin sentido amor la llega Sentio, que sentira quien algo siente.
Cançada e rouca boz por que bolando No vas do mi Florinda esta dormiendo, Y ali, de todo quanto yo pretiendo, O venturosa tu no estas gosando!
Ve passo, e al oydo, suspirando
Le di sin que te sinta, que sentiendo Estoi tan grave mal que estoi moriendo,
Y avendo de morir estoi cantando,
E dile, que aunque tengo su transumpto, A qua do estoi que venga dela espero, Si no quiere hallarme ya defunto.
Mas ay no sei lo que digas, que mas muero Do verme a su valor despues tan junto, Sin que vea el bien que tanto quiero.
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