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uma das que teve mais voga, e alem dos dois poetas contemporaneos, já citados, foi tambem glosada pelo Bacellar.

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As allas torres que fundei no vento.
Aquellas torres que fundei no vento.

Bernardes e Fernão Alvares do Oriente.
Os meus castellos que eu fundei no vento.

O meu MS.

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Hum bem aventurar, que sempre dura.
Aventurar hum bem que sempre dura.

Fernão Alvares do Oriente, o meu MS. e outro.

Na edição de 1668 o ultimo terceto é inteiramente differente, por esta fórma :

Eu o quiz, pois o quiz minha ventura,
Que gemendo e chorando conhece
Quão fugitivo elle he, quão pouco dura.

Edição de 1668.

Em Diogo Bernardes os dois tercetos são igualmente differentes, por este modo:

Amor com rosto ledo e vista branda,
Promete quanto delle se deseja,
Tudo possivel faz, tudo segura.

Mas des que dentro n'alma reina e manda
Como na minha fez, quer que se veja
Quão fugitivo he, quão pouco dura.

O meu manuscripto tem á margem esta mesma variante, com a differença sómente nos dois ultimos versos, que vem por esta fórma:

Como comigo fez, faz que se veja

Quão falso he, cruel, e quão pouco dura.

SONETO CLXXXI

Deseja o Poeta um retiro apartado, algum medonho bosque solitario, onde nas entranhas horridas dos penedos possa desafogar nas suas queixas e comprazer-se com a sua profunda tristeza.

Talvez fosse escripto na Africa; a elegia XI, apresenta a mesma descripção local e certa analogia com este soneto.

Algum bosque medonho e carregado.
Ao pé dos carregados arvoredos.
Porque alli nas entranhas dos penedos.
E por esses horridos penedos.

Elegia XI.

Elegia XI.

SONETO CLXXXII

Diz Faria e Sousa que o Poeta escreveu este soneto para introducção dos sonetos de desenganos de amor, o que se devia seguir ao soneto LXXVIII.

Expõe a breve historia de seus damnos, para aviso dos amadores; escreveu, não por gloria, mas para mostrar á sua amante os seus triumphos e seus rigores. Se deu a voz ao canto, deu a alma ao pranto escrevendo esta parte das suas penas. Esqueceu a Faria e Sousa mais este roubo, se o foi, de Bernardes; é o soneto II das Flores do Lima, postoque ali vem com muita differença.

SONETO CLXXXIII

É o assumpto d'este soneto a fabula de Cefalo, que para experimentar a fidelidade de sua mulher Procris, mudando o trage a tentou com dadivas, e ella cedeu.

Veja-se Ovidio, metamorphose VII, onde é narrado este conto. Diz Faria e Sousa que Cefalo fóra um bucefalo ou um asno em fazer uma tal experiencia tão loucamente armada para seu damno.

Elle, que a bella Procris tanto amava.

Ellé que a bella Pochris tanto amava.
Edição de 1616.
Mudado o trage, tece hum duro engano.
Mudado o trage, tece o duro engano.
Edição de 1616.

Oh subtil invenção para seu dano.
O engenho sotil para seu dano.

Edição de 4646.

SONETO CLXXXIV

É continuação da mesma fabula da antecedente; Procris, envergonhada do seu erro foge para os montes, e Cefalo vae após ella perdido de amor, e lhe pede perdão da culpa contra ella-commnettida. Diz Faria e Sousa que se o Camões se empenhava em fazer dois sonetos aos dois successos referidos, devêra fazer um ao terceiro e ultimo, à morte da mesma Procris, morta por o mesmo Cefalo, examinando-a como ciosa: talvez o Poeta o escrevesse, e se perdesse co outras obras suas que tiveram a mesma sorte. O mesmo commentador traduziu estes dois sonetos na lingua castelhana.

Sentindo-se alcançada a bella esposa.
Sentindo-se tomada a bella esposa.

Edição de 1646.

Da cegueira obrigado de Cupido.
D'amor cego, e forçoso compelido.
Edição de 1616.

SONETO CLXXXV

O assumpto d'este soneto é a fabula de Leandro e Hero: aponta Faria e Sousa os differentes auctores que trataram d'este assumpto, começando pelo poeta grego Muséo. Na edição de 1616, onde apparece pela primeira vez este poemneto, faz alguma differença e me parece melhor.

Quebrarão-lhe ondas o animoso alento,
Por mais e mais que Amor lho renovava.

As forças lhe faltavão ja e o alento,
Amor has refazia e renovava.

Edição de 1616.

Com sentir ja que quasi lhe faltava,
Sem nada esmorecer, no pensamento
(Não podendo fallar) de seu intento
O fim ao surdo mar encommendara.

Depois que vio que a alma lhe faltava.
Não esmoresse, mas no pensamento
(Que a lingoa ja não pode) seu intento.
Ao mar que lho comprisse encomendava.
Edição de 1616.
Que a d'Hero me salvasses; não me reja.
Que a de Ero me salves, não me veja.

Edicão de 1616.

Este defunto corpo lá o desvia.

Este meu corpo morto la o desvia.

Edicão de 1616

SONETO CLXXXVI

A uma dama que morreu de tenra idade; deve ter sido feito à sua D. Catharina de Athaide. Parece que o foi em occasião que visitou o local da sua sepultura, pois é ent fórma de épitafio.

Tudo aqui se reduz a terra fria.

A analogia em pensamentos com alguns logares da egloga xv, escripta ao mesmo assumpto, è a sensibilidade tão parecida com a do soneto XIX tão conhecido, feito a mesma morte, confirma esta opinião.

Perfeita formosura em teura idade.

Faria e Sousa, commentando este verso, faz uma grande embrulhada em que pretende demonstrar que D. Catharina nascêra pelos annos de 1538, que aos dez annos da sua idade a namorára o nosso Poeta, e que estes amores só duraram dois a tres, fallecendo ella logo; e, terminando, conclue o commentador: «Quien fuere más agudo nos diga más, que yo no puedo passar daqui ». Na verdade, admira como um escriptor, aliás de merito, como Faria e Sousa, fosse n'esta occasião tão pouco atilado, representando-nos Camões a cortejar uma creança, e quizesse metter em um tão curto tempo tão variadas phases de um amor infeliz, emprestando á dama, que só cuidava nas suas bonecas, sentimentos mais proprios de uma idade mais adulta, com que o seu amante a faz entrar em scena mais de uma vez nas suas poesias. Sobre estes amores remettemos o leitor á nossa biographia de Camões, onde plenamente demonstrámos, e à vista de documento, que esta senhora fallecêra dez annos depois que o commentador faz fallecida.

Qual flor, que antecipada foi colhida.

Assim como a bonina, que cortada
Antes de tempo foi, candida e bella,
O cheiro traz perdido a côr murchada
Lusiadas, Canto I, estancia CXXXIV.

SONETO CLXXXVII

A Manuel Barata, quando publicou um tratado calligraphico em Lisboa no anno de 1572. Barbosa Machado o faz natural de Lisboa, porém Faria e Sousa, de Pampilhosa; foi mestre do Principe D. João, pae de El-Rei D. Sebastião. Alem de calligrapho accumulou Manuel Barata as duas prendas de gravador em madeira e de poeta.

Tornou a publicar-se este Tratado ou Arte de escrever com este titulo: «Exemplares de diversas sortes de letras tiradas da Palygraphia de Manuel Barata Escriptor Portuguez acrescentadas pelo mesmo auctor para comum proveito de todos. Dirigido ao Excelentissimo D. Theotonio Duque de Bragança e de Barcellos, Condestavel dos reinos de Portugal. Lisboa por Manuel Alvares 1590, 4.o comprido.

Ibi, por Alexandre de Sequeira

Francisco Dias Gomes, na Memoria impressa no tomo iv das Memorias de Litteratura da Academia Real das Sciencias a pagina CCLXX, analysando este soneto, diz que fôra a mais insigne mão de penna que se conheceu na Europa até ao seu tempo.

Faria e Sousa, commentando o soneto, faz menção de differentes calligraphos illustres, que floreceram na Italia, em Hespanha e Portugal no XVI seculo e no seu tempo.

Deixando os estrangeiros, nomearei aqui alguns dos portuguezes de que faz menção. Os dois irmãos Thomas e Filippe Zavalla, portuguezes que residiam em Madrid no anno de 1546; um mestre da cidade do Porto; Manuel Pinto, conego na mesma cidade; N. Caldera em Lisboa, e na mesma cidade teve 'escola Nicolau Ferreira que depois foi religioso de S. Domingos. Os motivos sobre os quaes Faria e Sousa se fundamenta para conjecturar que fosse mestre do principe D. João, é ter visto cartas d'este para a princeza D. Joanna, quando estavam noivos, que se pareciam na letra com a de Manuel Barata.

SONETO CLXXXVIII

A eleição de um bispo, de cuja dignidade pareco ter sido provido em idade provecta.

Tardou, mas veio; que a quem mais merece
Vir o premio mais tarde he sempre certo.

É o XIX na primeira edição das Rimas (1595) e tirou-se depois das que se seguiram por uma advertencia de Fernando Rodrigues Lobo Surrupita. Nas rimas varias de Vasco Mousinho de Quevedo, encontrou Faria e Sousa este soneto:

Só por seu limitado nascimento.

Só por seu acanhado nascimento.

Edição de 4595.

Vir' o premio mais tarde he sempre certo,
Inda que vez alguma venha cedo.

Muito mais tarde vir o premio he sempre certo,
E sempre tarda inda que venha cedo.

Edição de 4595.

Mais de vagar se movem. Quem conhece
Sobre aquelle segredo, este segredo.

Mais de vagar se movem, quem soubesse
Tras daquelle segredo este segredo.

Edição de 1595.

SONETO CLXXXIX

É escripto celebrando um fidalgo do appellido de Castro: diz Faria e Sousa que se póde assegurar ser escripto a D. João de Castro. Não concordo com o commen

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