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CLXIV

Las peñas retumbaban al gemido
Del misero zagal, que lamentaba
El dolor
que á sua alma lastimaba,
De un obstinado desamor nacido.
El mar, que las batia, su bramido
Con los retumbos dellas ayuntaba;
Confuso son el viento derramaba,
En cavernosos valles repetido.
Responden a mi llanto duras peñas,

Ai de mí! (dijo) la mar brama y gime;
Los ecos suenan de tristeza llenos;

Y tú, por quien la muerte en mí se imprime,
De oir las ansias mias te desdeñas;

Y cuando lloro mas, te abrando menos.

CLXV

En una selvá al dispuntar del dia
Estaba Endimion triste y lloroso,
Vuelto al rayo del sol, que presuroso
Por la falda de un monte descendia.

Mirando al turbador de su alegría,
Contrario de su bien y su reposo,
Tras un suspiro y otro, congojoso,
Razones semejantes le decia:

Luz clara, para mí la mas escura,
Que con esse paseo apresurado,
Mi sol con tu teniebla escureciste;
Si allà pueden moverte en esa altura
Las quejas de un pastor enamorado,
No tardes en volver á dó saliste.

CLXVI

Orfeo enamorado que tañia

Por la perdida Ninfa

que buscaba,
En el Orco implacable donde estaba,
Con la arpa, y con la voz la enternecia.

La rueda de Ixion no se movia,
Ningun atormentado se quejaba;
Las penas de los otros ablandaba,
Y todas las de todos él sentia.

El son pudo obligar de tal manera,
Que en dulce galardon de lo cantado,
Los infernales Reyes condolidos,
Le mandáron volver su compañera,
Y volvióla á perder el desdichado;
fueron entrambos los perdidos.

Con

que

CLXVII

Eu cantei ja, e agora vou chorando
O tempo que cantei tão confiado:
Parece que no canto ja passado
Se estavão minhas lagrimas criando.
Cantei; mas se me alguem pergunta, quando?
Não sei; que tambem fui nisso enganado.
He tão triste este meu presente estado,
Que o passado por ledo estou julgando.
Fizerão-me cantar manhosamente

Contentamentos não, mas confianças:
Cantava, mas ja era ao som dos ferros.

De quem me queixarei, se tudo mente?
Porém que culpas ponho ás esperanças,
Onde a fortuna injusta he mais qu'os erros?

CLXVIII

Ai amiga cruel! que apartamento
He este que fazeis da patria terra?
Ai! quem do amado ninho vos desterra,
Gloria dos olhos, bem do pensamento?
His tentar da fortuna o movimento,

E dos ventos crueis a dura guerra?
Vêr brenhas de ondas? feito o mar em serra
Levantado de hum vento e de outro vento?

Mas ja que vós partis, sem vos partirdes,
Parta comvosco o Ceo tanta ventura,
Que se avantaje áquella qu'esperardes.

E só desta verdade ide segura,

Que fazeis mais saudades com vos irdes,
Do que levais desejos por chegardes.

CLXIX

Campo! nas syrtes deste mar da vida,
Apoz naufragios seus taboa segura;
Claras bonanças em tormenta escura,
Habitação da paz, de amor guarida;
A ti fujo: e se vence tal fugida,

E

quem mudou lugar, mudou ventura,
Cantemos a victoria; e na espessura
Triumphe a honra da ambição vencida.
Em flôr e fructo de verão e outono;
Utilmente murmurão claras ágoas;
Alegre me acha aqui, me deixa o dia.
Amantes rouxinoes rompem-me o sono
Que ata o descanso: aqui sepulto mágoas
Que ja forão sepulcros de alegria.

CLXX

Ah minha Dinamene! assi deixaste
Quem nunca deixar pôde de querer-te!
Que ja, Nympha gentil, não possa ver-te!
Que tão veloz a vida desprezaste!

Como

por tempo eterno te apartaste De quem tão longe andava de perder-te? Puderão essas ágoas defender-te Que não visses quem tanto magoaste? Nem sómente fallar-te a dura morte

Me deixou, qu'apressada o negro manto Lançar sobre os teus olhos consentiste. Oh mar! oh ceo! oh minha escura sorte! Qual vida perderei que valha tanto, Se inda tenho por pouco o viver triste?

CLXXI

Guardando em mi a Sorte o seu direito,
Em verde me cortou minha alegria.
Oh quanto feneceo naquelle dia,

Cuja triste lembrança arde em meu peito!

Quando mais o imagino, bem suspeito

Que a tal bem tal desconto se devia, Por não dizer o mundo que podia Achar-se em seus enganos bem perfeito. Pois se a Fortuna o fez por descontar-me Aquelle gôsto, em cujo sentimento

A memoria não faz senão matar-me;
Que culpas póde dar-me o pensamento.

Se a causa qu'elle têe de atormentar-me,
Tenho eu de soffrer mal o seu tormento?

CLXXII

Cantando estava hum dia bem seguro,
Quando passava Sylvio, e me dizia:
(Sylvio, pastor antiguo que sabía
Por o canto das aves o futuro)

Liso, quando quizer o fado escuro,

A opprimir-te virão em hum só dia Dous lobos; logo a voz e a melodia Te fugirão, e o som suave e puro. Bem foi assi; porque hum me degolou Quanto gado vacum pastava e tinha, que grandes soldadas esperava.

E

De

por

mais damno o outro me matou
A cordeira gentil, qu'eu tanto amava,
Perpétua saudade da alma minha.

CLXXIII

O ceo, a terra, o vento socegado,
As ondas que se estendem por a areia,
Os peixes que no mar o somno enfreia,
O nocturno silencio repousado;

O Pescador Aonio que, deitado

Onde co'o vento a ágoa se meneia,
Chorando, o nome amado em vão nomeia,
Que não pode ser mais que nomeado,

Ondas, (dizia) antes que Amor me mate,
Tornae-me a minha Nympha, que tão cedo
Me fizestes á morte estar sujeita.

Ninguem responde; o mar de longe bate;
Move-se brandamente o arvoredo;

Leva-lhe o vento a voz. qu'ao vento deita.

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