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LX

Assi contava, e c'hum medonho chôro
Subito d'ante os olhos se apartou:
Desfez-se a nuvem negra, e c'hum sonoro
Bramido muito longe o mar sôou.
Eu, levantando as mãos ao sancto côro
Dos Anjos, que tão longe nos guiou,
A Deus pedi, que removesse os duros
Casos, que Adamastor contou futuros.

EXCERPTOS DO CANTO VI

Os argonautas Portuguezes, amigavelmente recebidos, e muito festejados pelo Rei de Melinde, despedem-se do seu magnanimo hospedeiro, e proseguem na aventurosa navegação

I

Não sabia, em que modo festejasse
O Rei pagão os fortes navegantes;
Para que as amizades alcançasse

Do Rei Christão, das gentes tão possantes:
Pêza-lhe, que tão longe o aposentasse

Das Europeas terras abundantes

A ventura, que não no fez visinho

Donde Hercules ao mar abrio o caminho.

II

Com jogos, danças; e outras alegrias,
A segundo a policia Melindana,

Com usadas e lêdas pescarias,

Com que a Lageia Antonio alegra, e engana,
Este famoso Rei todos os dias

Festeja a companhia Lusitana,

Com banquetes, manjares desusados,

Com fructas, aves, carnes, e pescados.

III

Mas vendo o Capitão, que se detinha
Já mais, do que devia, e o fresco vento
O convida, que parta, e tome asinha
Os pilotos da terra, e mantimento;
Não se quer mais detêr; que ainda tinha
Muito para cortar do salso argento:
Já do Pagão benigno se despede,
Que a todos amizade longa pede.

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Pede-lhe mais, que aquelle porto seja
Sempre com suas frotas visitado;
Que nenhum outro bem maior deseja,
Que dar a taes barões seu reino e estado;
E que, em quanto seu corpo o esprito reja,
Estará de contino apparelhado

A pôr a vida, e reino totalmente,

Por tão bom Rei, por tão sublime gente.

Outras palavras taes the respondia
O Capitão, é logo, as velas dando,
Para as terras da Aurora se partia,
Que tanto tempo ha já, que vai buscando.
No piloto, que leva, não bavia

Falsidade, mas antes vai mostrando
A navegação certa; e assi caminha

Já mais seguro, do que d'antés vinha.

Baccho, querendo oppor-se ao feliz exito do heroico commettimento dos navegadores Portuguezes, desce do Olympo, e vai-se à corte de Neptuno deos dos mares

VI

As ondas navegavam do Oriente
Já nos mares da India, e enxergavam
Os thalamos do Sol, que nasce ardente:
Já quasi seus desejos se acabavam.

Mas o mao de Thyoneo, que na alma sente
As venturas, que então se apparelhavam
A gente Lusitana, dellas/dina,

Arde, morre, blasphema, e desatina.

VII

Vai estar todo o Ceo determinado
De fazer de Lisboa nova Roma:
Não no pode estorvar; que destinado
Está d'outro poder, que tudo doma.
Do Olympo desce em fim desesperado,
Novo remedio em terra busca, e toma:
Entra no humido reino, e vai-se á côrte
Daquelle, a quem o mar cabio em sorte.

Descripção do palacio de Neptuno

VIII

No mais interno fundo das profundas
Cavernas altas, onde o mar se esconde,
Lá donde as ondas sabem furibundas,
Quando ás iras do vento o mar responde.
Neptuno mora, e moram as jucundas
Nereidas, e outros deoses do mar, onde
As aguas campo deixam ás cidades,
Que habitam estas humidas deidades.

IX

Descobre o fundo nunca descoberto
As areas alli de prata fina,

Torres altas se vêm no campo aberto
Da transparente massa crystallina:
Quanto se chegam mais os olhos perto,.
Tanto menos a vista determina,

Se he crystal o, que vê, se diamante;
Que assi se mostrá claro e radiante.

X

As portas d'ouro fino, e marchetadas
Do rico aljofar, que nas conchas nace,
De esculptura formosa estão lavradas,
Na qual do irado Baccho a vista pace:
E vê primeiro em côres variadas
Do velho chaos a tão confusa face:
Vêm-se os quatro elementos trasladados,
Em diversos officios occupados.

ΧΙ

Alli sublime o Fogo estava em cima,
Que em nenhuma materia se sostinha,
Daqui as cousas vivas sempre anima,
Despois que Prometheo furtado o tinha.
Logo após elle leve se sublima
O invisibil Ar, que mais asinba
Tomou lugar, e nem por quente, ou frio
Algum deixa no mundo estar vazio.

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