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O velho cançado da vida arrastada
Que á campa sem lettras o tem de levar,
A fronte pendida no chão dos finados,
Ao ver-te levanta, contricto a resar.

Fadada tu sejas rainha do mundo,
Que alegres, de tristes, nos tornas assim ;
E nutres nest'alma, que chora pesares,
Encantos da vida, eternos, sem fim.

A candida rosa, que a noite tem murcha,
Mal vê despontar-te sorri de prazer;
E folga contente nos ramos que dobram
Com pêso tão bello, a mais não poder.

Ao ver-te brilhante trazer descuidada,
Apoz da borrasca bonança a sorrir;
Nas trovas que a lyra me deu sussurrando
Teu nome enlaçado busquei reunir.

E junta comigo, nos cantos saudosos,
Formosa donzella teu nome sagrou ;
Belleza que encerras com mil attractivos
Cantada por Ella mais linda ficou.

E o pobre poeta fadado a cantar-te, Humilde e contricto se arroja no chão; E tu lhe respondes passando orgulhosa Com brilho divino de mór galardão.

Estrella brilhante que apontas o dia,
Que passas alegre brincando no céu;
Os anjos te fadem com hymnos saudosos,
Te cantem victoria estrella sem véu.

ADORMECIDA:

Elle dort... elle dort... larmes de ma douleur, Ne la réveillez pas en tombant sur son cœur ! Vous qui la connaissez, venez, anges fidèles, Couvrir son pur sommeil du calme de vos ailes. ALEXANDRE SOUMET.

Como é bella adormecida !
Parece estatua caída

Do pedestal i

Como a dormir é formosa !

Parece fragrante rosa

No seu rosal!

Deixae-ma vêr bem de perto,
N'aquelle sorriso incerto

Que tanto diz.

D'este mundo deslembrada,
A dormir tão socegada
Como é feliz!

Silencio. Deixae-me vê-la,
Como ella é gentil e bella
No seu dormir!

Parece, mesmo dormindo,
Que nos labios vae fugindo
Um seu sorrir !

Arfa-lhe o peito saudoso,
Como ao cysne mavioso
N'um mar d'annil.

Tem no rosto desenhadas,
Como tem tambem as fadas
Bellesas mil.

Parece um anjo, parece,
Se entre nuvens do ceu desce
Sorrindo assim !

Oh! não tem maior bellesa,
Essa magica lindesa
D'um sarafim !

Minhas lagrimas cautella'! Deixae-a dormir, que é bella, Meu coração!

Seus olhos não desvendados, Inda mesmo assim cerrados Que lindos são!

Nesta languida postura,

Mais se exalta a formosura
A realçar.

Que meiguice desenhada,
Nessa fronte namorada
Vejo raiar!

Ai! quem soletrar soubera!
Ai! quem nos olhos podéra
Seu fado lêr!

Talvez que se fòra amado,
Fosse menos magoado
O seu viver.

Como é bella adormecida !
Parece estatua caida

Do pedestal!

Como a dormir é formosa !

Parece fragrante rosa

No seu rosal!

CREDO.

Sur mon isolement je me trompe moi méme.

LAMARTINE.

Tenho fé n'um rosto triste
Que não revella a paixão;
Tenho fé n'esses sorrisos
Que não dizem sim, nem não;
Tenho fé n'uns olhos pretos
Sempre pregados no chão.

Tenho fé nas avesinhas
Pelos bosques a trinar;
Tenho fé nas mansas ondas
Que nos seixos vem quebrar,
Como um protesto de virgem.
Que jura não mais amar!

Mas a minha fé mais viva,
A que tem mais duração,
A que tenho por segura
N'este mundo d'illusão:
É n'um rosto que nos olhos,
Deixa lêr o coração!

IGNEZ DE CASTRO.

E

As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram ;
por memoria eterna, em fonte pura,
As lagrimas choradas transformaram.
CAMÕES Lusiadas.

1.

Meiga filha de amor, terna saudade,
Vem pousar-me na lyra; vem sentida
Maga filha do ceu, dar vida ao canto
Do pobre trovador. Alento novo
Só espera de ti meu alaúde.
Costumado a cantar da patria as glorias
Em lyra portugueza, hoje de lucto
Mal podéra sem ti cantar tristezas ;
Bem bastam as que vão por esta terra,
Outr'ora tão temida! bem me bastam,
As que o peito em segredo me devoram.
Inspira-me, saudade. Vem na campa,
Da triste e bella Ignez, chorar comigo.
As margens do Mondego, vae, escuta
As queixas que ella solta; ás mansas brisas.
Aos echos da montanha, ao triste choupo,
Ao correr saudosissimo das fontes,
Interroga de amor as confidencias.
Depois, meiga saudade, vem na lyra,
Saudosa suspirar. E tua; dout'a,

A lyra onde hei cantado a patria; a gloria.

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