Pagina-afbeeldingen
PDF
ePub

Matou-a a walsa? Quem sabe !
Antes que a festa se acabe,
Talvez que uma flor desabe
Do tronco... murcha talvez !

III.

E dura a festa! E na festa
Todos lhe chamam rainha.
E o calor das salas cresta
Alva rosa que definha!

E a dura festa! E da balça
Alegre rouxinol canta;
E a virgem, doida, na walsa
Inda move a leve planta!

E dura a festa! E os lumes
Accesos brilham nas salas,
Que de invejosos ciumes
Transluzem por entre galas!

[blocks in formation]

E' findo o baile. Sepulchral silencio
Reina nas salas, onde ha pouca a dança
Do bosque os eccos accordava ao longe!
E' finda o baile. Que de murchas flores
O chão alastram dos salões doirados,
Onde inda ha pouca vecejavam bellas
E vivas de mil côres! Que de rosas
N'um frenetico baile se não murcham!

Que enganosas esp'ranças não acabam
Ao acabar um baile, onde o delirio

Viva luz da razão tolhe aos sentidos!
E Ella!... Aonde esta? Que é feito d'Ella?
Quem do baile á saída emfim aguarda ?

- O sepulchro !

Perdido forasteiro

Que nas trevas da noite se alevanta,
Como termo final aos sonhos vagos
Que a donzella sonhou no baile ardente,
Entre os aromas que recende o lyrio,
E os protestos d'amor que o peito escaldam!
E' findo o baile. Sepulchral silencio
Reina nas salas, onde ha pouca a dança
Do bosque os eccos accordava o longae,

V.

Depois ja morta desbotada e fria,
Li-lhe nas faces um palor funereo :
A walsa doida que seus passos guia
Conduz d'um baile para o cemiterio !

Alli, á sombra de copado arbusto
Dorme a donzella, que na walsa expira,
Como um som triste, mas solemne e augusto,
D'um canto ameno que expirou na lyra!

Alli não podem festivais clamores
Jamais da campa desperta-la á vida,
Nem tristes eccos de fieis amores
Ouvi-la em troca soluçar sentida !

Vi-a n'um baile pela vez primeira.
Alvas roupagens a donzella veste;
Pallida fronte, que sorri fagueira,
Cinge zeloso sepulchral cypreste !

A FLOR PERDIDA.

Une femme dans une Rose.

DUPATY.

No pó das salas, coitada,
Achei a rosa perdida,
A bella rosa incarnada
Que aos salões fôra trasida:
Alli, no chão esquecida,
A pobre rosa singella
Só lastimava o despreso
Da descuidada donzella,
Que pelo brilho das salas
Trocára os perfumes della!
Tive dó da flor mimosa,
Quiz-lhe dar alento e vida,
Mas a pobre flor perdida
Não voltou mais à ser rosa.
Pois cerquei-a de cuidados;
Tratei-a com mil amores;
Mas, ou eu não entendia
De como se tratam flores,
Ou se cuida-las sabia,
Não pude salvar aquella
Que aos salões fôra trasida,
Para, por mãos de donzella,
Nas salas ficar perdida.

Já sêcca, já desbotada,
A' rosa chamei-lhe minha.
Se por momentos rainha
Brilhára no peito d'Ella,
Quiz, depois de abandonada,
Dar á pobre flor mimosa
Os conselhos que eu daria
Nas salas a toda a rosa.
<< Donzella que inspira amores,
Deve ter toda a cautella
Em não os deixar perdidos
Como deixa as outras flores;
Porque amores esquecidos
Pela donzella orgulhosa,
Ninguem procura salva-los
Como eu quiz salvar a rosa,
Que aos salões fôra trasida,
Para, por mãos de donzella,
Nas salas ficar perdida ! »

MEDITAÇÃO,

A EXCELLENTISSIMA SENHORA CONDESSA

DA FONTE-NOVA.

1846.

La felicidad no exist,
La gloria es una mentira,
Mas solo la gloria inspira
Hazanãs de gran valor.
La dicha es la incertidumbra
En que estriba la esperanza,
Y porque nunca se alcanza
Damos tras ella en correr.

ZORRILLA.

Que saudades tão fundas se arreigam
Aqui dentro do peito ao soldado,
Quando á voz do tambor deixa a terra
Onde a vida passou descuidado!

Que saudades! Dize-las soubera
O soldado, correndo á batalha,
Quando em vez dos carinhos maternos,
Vê a vida trocada em mortalha !

Mas a morte soffrêra-a gostoso,
Se não fosse no peito a saudade,
Que lhe diz, que na terra que é sua
Para sempre deixou a amisade.

« VorigeDoorgaan »