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II.

E' bem de vêr como a pobre
De susto não ficaria,
Cahio no chão de joelhos
Resando á Virgem-Maria!

Desbotada como um lyrio
Ora chorava e tremia,
Ora convulsa resava,
Mas nem palavra se ouvia.

Immovel, petrificada,

D'alli se não desprendia,
Viva imagem do remorso
Contrafeita se sorria.

Té que uma voz a disperta Que estas palavras dizia. Serás minha desposada Dentro d'um anno e um dia!

O juramento que deste
Já ninguem t'o quebraria.
Podes vir comigo á festa
Vêr a santa romaria !'

III.

Ao ouvir estas palavras,
Como se fosse magia,
D'aonde prêsa estivera
A coitada se movia ;

Enfeitada para a festa,
Tremendo os passos seguia
Do vulto que taciturno
Lhe ia servindo de guia !

Atravessou pela aldeia,
Como a pobre não iria!
Sempre a dizer em voz baixa.
Valba-me a Virgem-Maria !

'Valham-me todos os santos
Que minha mãe me dizia,
Eram esp'rança e conforto
No momento d'agonia.

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Valha-me a Cruz!' De repente Olhou a pobre, e não via

Quem até❜li

levára

Quem lhe servira de guia !

IV.

Passou um mez, e mais outro,
Passou um anno e um dia,
Depois d'aquelle em que fôra
A' festa da romaria!

Na mesma noite n'aldeia
Um vulto negro apparecia,
Que em voz alta o juramento
D'alguem da terra pedia.

Tudo n'aldeia era susto,
Tudo de medo tremia :
Mas a que vinha o fastasma
Ninguem ao certo o sabia,

Só quem jurára casar-se
Um anno antes havia,
A que o fantasma alli vinha
Coitada d'ella, sabia!

Sabia por seus peccados;
E a tremer se benzia,
Sempre que o vulto bradava
'Passou um anno e um dia. '

V.

Mais uma noite passára,
Outra talvez passaria,

Sem que

fantasma dissesse

O que alli preso o trazia.

A não ser que quando tudo
Inda n'aldeia dormia,
O sino grande da terra

Sem mão de homem se tangia.

E no dobrar cam passado
A triste sorte carpia,

D'alguem que no lance extremo
A taes horas se sentia !

E em lagrimas banhada,
A' Virgem Santa pedia,
Perdoasse a quem devéras
Morrendo se arrependia !

Que o juramento que déra
Sem remorsos o cumpria,
Desposando a sepultura
Antes d'um anno e um dia!

Pelo eterno descanso
De quem desce á terra fria,
Resemos nós peccadores:
Ave Maria!

O MUTILADO.

Co'a mão calosa que domava outr'ora
Na ardente briga do corcel o ardor,
Um berço embala, descantando agora
Canções que alembram juvenil fervor.

Meu neto dorme, dorme em paz que eu canto
Ao pé d'um berço, tradicções sem par;
Se o rosto a furto te orvalhar de pranto,
Ampara o cedro que o tufão tombar !

Em briga immensa, pelejando affoito,
Ouvi sem medo trovejar fusis;
Das trevas densas d'enredado coito
Fitei altivo os batalhões hostís.

Meu neto dorme; das passadas glorias
A voz d'um velho te fará lembrar,
Sonha meu neto festivaes victorias,
E ampara o cedro que o tufão tombar !

Gigantes luctas, de gigantes raças,
Do povo em nome combatendo vi:
Torpes orgias, bacchanaes devassas,
Dos reis nos paços resoar ouvi.

Meu neto dorme, dorme em paz que eu canto D'um povo oppresso as tradicções sem par, Se o rosto a furto te orvalhar de pranto Ampara o cedro que o tufão tombar.

Se o rouco brado de civis contendas
Na patria um dia se fizer ouvir :
Para que o povo teu irmão defendas
Reccorda o berço que te viu florir.

Meu neto dorme, das passadas glorias
A voz d'um velho te fará lembrar.
Sonha meu neto festivaes victorias,
E ampara o cedro que o tufão tombar!

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