Pagina-afbeeldingen
PDF
ePub

O REBEQUISTA D'ALDEA.

Com a mão que hoje tremula meneia
O arco d'onde tira alegres sons,
Empunhando o fuzil outr'ora anceia
Em pró da Patria ter mais altos dons!

Se via o estrangeiro entrar ousado,
Calcando altivo a terra de seus paes,
Nunca Hinguem o víra acovardado
Oppondo á invasão só tristes ais.

Lembrava-se da mãe velha e doente;
Do entrevado pae curvo e senil;
Da amante que chorava; e de repente
Empunhava cantando o seu fuzil.

Orgulhoso guerrilha não esp'rava
Ouvir o chamamento do tambor;
Mal que estranha bandeira tremulava
Não consultava mais que o seu valor.

Aos escalvados sêrros da montanha,
Onde tanto em criança ía folgar,
Resoluto subia: dando á sanha
Do soberbo invasor o proprio lar.

*

Que saudades então, vinham, coitado,
Pungir-lhe acerbamente, o coração!
Lembrava-se dos seus, e magoado
Por vezes o fuzil largou da mão.

Mas de repente ao longe um som ouvia
Desusado n'aldêa! Era o signal
D'inimiga phalange, que aturdia
Bradando guerra

o seu torrão natal.

No peito o coração lhe pula ardente;
Cuida as queixas d'amante ao longe ouvir,
E a voz paterna murmurar-lhe sente
Santos conselhos: - Não deveis fugir!

Então na briga mais audaz se lança;
A Patria invoca com ardor febril,
Tendo só posta sua doce esp❜rança
Nos beijos premio d'uma acção gentil!

Enganos tudo! D'uma balla vinda
De mão certeira que o fuzil conduz,
Inda a peleja se não julga finda
Dos olhos ambos lhe roubava a luz.

Desde esse dia, pela aldêa o pobre
Cantando implora de quem passa o pão;
E acerbas maguas que no peito encobre
Disfarça ao som da marcial canção.

E a nobre fita que devêra honrada
Nunca d'estranhos attrahir o dó,

Se ao peito d'outros é da Torre e Espada N'aquelle a lenda lh'a encobriu o pó.

Honras que prestam se a pobreza ostenta
Sagrados symb'los d'infeliz valor?
E a Patria morta já debalde tenta
De seus bons filhos bem pagar o amor!

Ta que passas, descobre-te diante
De quem inda mendigo é portuguez:
Do seu braço que outr'ora era possante
Repara o que o valor depois lhe fez!

Com a mão com que tremula meneia
O arco que lhe dá tão negro pão,
Outr'ora defendendo a Patria anceia
Em só a defender seu galardão!

LIVRO III.

« VorigeDoorgaan »