E nas selvas, que o cedro escurece, Ouvir bcijos, de nunca fartar!
Inda agora, nas noites caladas, Quanto tudo é socego e mudez; Cuida a gente escutar as passadas, As ligeiras passadas de Ignez!
Quando tudo na terra é socego; Quando brilha na selva o luar; No saudoso correr do Mondego Cuidam todos ouvir suspirar!
Inda agora nas tardes saudosas Que só duram no meu Portugal; Cuida o povo, nas aguas formosas, Vêr o rosto de Ignez no crystal!
Eu quizera ter lyra afinada, Pelas harpas dos anjos do ceu ; Que na corda de amor magoada, Descantára de Ignez o tropheu.
Oh! descança-te em paz lyra sentida ; Mais lagrimas não tens. Verteste todas Pela terra que foi outr'ora grande, E do mundo ás nações hoje só lembra Nos cantos de um poeta. E que poeta! O teu nome, Camões, salva da affronta A honra portugueza. Perdoa-me Se este feudo de amor juntei aos cantos, Aonde a linda Ignez vivêra eterna, Se, para eterna ser, lhe não bastára Aquelle fino amor, que, exemplo a amores Consagrado ficou. Lagrimas tristes Não sabem escolher olhos felizes, Por onde, manso e manso burbulhando, Gravem fundo nas faces um só nome, E tão fundo! e tão triste! o da saudade !
Formosa linda Ignez, se o canto é pobre, Se inexperto cantor, ousei sem medo De ten sentido amor cantar extremos; Vós, ó concavos valles que podestes A vos extrema ouvir da bocca fria' Da mãe que se finava. Vós, ó valles, Repetindo-lhe as queixas, os suspiros, Eternisaes sem qu'rer sua memoria. Morreste linda Ignez, mas foi-te a morte Como a do cysne a gorgear ternuras; Como a da pomba que em sentido arrulho A vida perde; roxeando em sangue Do casto peito as nevadas plumas! O teu cantor o disse: Foi-te a morte, 'Assim como á bonina que cortada 'Antes de tempo foi.' Ignez formosa, Hoje o meu canto escuta-me se podes. E do pallido rosto as seccas rosas
Do rubor da modestia accende a ouvi-lo!
Amor que aos outros dá vida,
A ti, Ignez, o que deu ?
Uma lagrima vertida
Nessa hora em que nasceu ;
Uma fonte fresca .pura,
Que nas queixas que murmura,
Diz a tua sem ventura,
Diz o fim que amor te deu!
Das, lagrimas, se chama a fonte, Onde os teus olhos, Ignez, Para que a bocca o não conte Dizem de amor o revez! Até no pranto amorosa, Com elle dás a vida á rosa, Que na campina orgulhosa. Bebe os teus prantos, Ignez!
Na selva vagos queixumes Traduzem o teu amor; Nas veigas arde em ciumes Da selva o gentil cantor! E os ciumes e as queixas. São variadas endeixas, Que ao morrer á terra deixas Festejando o teu amor!
De tristezas e saudades, Este meu canto compuz: Acabam aqui vaidades, De amor o fogo reluz; As lyras dos trovadores Se inspiram dos teus amores! Foi delles, colhendo as flores, Que este meu canto compuz.
Pedi um canto á minh'alma, Que fosse teu, é só teu; Das trovas nasce esta palma Que a lyra chorando deu! Pela saudade pedida, Foi em lagrimas nascida; Se vae do peito sentida, É que o canto é todo teu !
Deux jours n'attendant plus, mais appelant encore, Il redira sa plainte et la troisiême aurore, Laissant tomber son aile, il mourra de douleur.
O seu tumulo singelo,
Não tem pedra nem letreiro; Só tem uma cruz erguida Debaixo daquelle olmeiro.
Mas aquella cruz erguida Diz mais que tudo na terra: Diz que Julia ali repousa, Que as cinzas ali lhe encerra.
Os ventos que á noite zunem Nas comas dos arvoredos. Sabem sim, mas não revelam Daquella campa os segredos !
Como a rosa desfolhada, Sobre a relva da campina; A ter a sorte da rosa Foi na terra a sua sina.
Seus olhos, que me inspiravam, Fallavam meigos amores; Como as aves a trinarem, Dos bosques entre os verdores
Mos pouco gosou a triste Dessa vida de donzella; Tão pura, tão socegada, Tão meiga, sentida e bella.
Aos anjos que andam na terra Dá-lhes Deus bem curta vida; Que não quiz Deus que a virtude Aos crimes andasse unida.
Os ventos que á noite zunem Nas comas dos arvoredos, Sabem sim, mas não revellam, Daquella campa os segredos!
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