III. Nos campos de Roncesvalles, Em valor e sangue frio Deixou á pobre Maria, Deixou à mãe que era velha Mandou resar por sua alma Tudo o mais de que elle usava, E morreu como um valente Do momento d'expirar, Mui de manso perguntar ! IV. Por onde andará Maria? Nos postos mais avançados Agora vou eu contar-vos Mal haja quem assim pôde Agora, meus netos, á paz dos finados, JUIZO CRITICO.1 A poesia, em todos os paizes, revela-se ao talento debaixo de certas condições de nacionalidade, porque a litteratura é tanto mais fecunda, quanto melhor as suas raizes profundam no solo da patria. Que verdor de inspiração não sente o poeta, recordando as montanhas, os bosques, os prados, aonde a sua mocidade se passou no delirio das illusões primitivas? Quem esquece nunca a fonte, aonde matava a sêde, o sol nas differentes estações da sua luz, a brisa suave da noute, o bulcão tremendo do inverno, que o fazia estremecer e conchegar ao seio materno todos esses phenomenos da natureza, sempre reproduzidos, e sempre novos, que resurgem no meio da sua vida d'homem, como as lembranças suaves d'um sonho feliz? 1 Do Capitulo x dos Ensaios de Critica do sr. Lopes de Mendonça extrahimos o seguinte juizo ácerca das poesias do sr. Palmeirim. Apresenta. mol-o mais como illucidação ao texto, do que como recommendação do livro. O EDITOR. As propensões estheticas d'um povo devem ser para a poesia o objecto do mais cuidadoso estudo. É ali que o genio indigena se avalia, e se conhece; é ali que a poesia toma os seus mais brilhantes e mais rasgados vôos. N'este ponto, as nossas opiniões talvez se afastem das crenças recebidas. A poesia vive, exalta-se, idealisa-se pela inspiração, e quando mais proxima for a inspiração dos instinctos populares, tanto mais poderosa, tanto mais energica deve ser. Béranger para nós não é só o poeta mais popular, é o primeiro poeta da França. O seu genio abrange a reflexão e o instincto, a paixão e o sentimento: o seu nome e a sua gloria hão de durar em quanto existir essa França, cujo coração elle traduz em cantos immortaes. Em quanto o mundo existir harmonicamente dividido n'esses grandes systemas que se chamam nações, o talento ha de buscar a sua esphera de actividade no povo, caracterisar a indole, as tradições, as aspirações diversas da sociedade, onde elle nasceu, e se creou. Por maior que seja a força invasora da civilisação, por mais poderoso que seja o seu principio essencial, que tende á unidade não poderá apagar nem as differenças de sangue e de raça, nem o cunho especial da nacionalidade, que não vive só nos monumentos, nos livros, nas tradições oraes; reside tambem no clima, no céu, na natureza, que a civilisação póde modificar, mas nunca transformar de todo. É evidente para nós, que a imitação servil estrangeira desfigura e empobrece as litteraturas. Que se estudem as paixões geraes, as paixões typicas do coração, isso queremos nós : que se force a inspiração a reproduzir as nuances locaes da poesia estrangeira, isso imprime á arte um caracter facticio, que limita a sua influencia nas turbas, acanhando a acção das letras nos phenomenos do desenvolvimento civilisador. Dizer que o sr. Luiz Augusto Palmeirim é o mais popular dos nossos poetas modernos, é re |