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O POETA.

Je ne sais si je crois; je ne sais si je doute..
Entre croire et douter serait-il un milieu !

Non! donc je ne crois point. Pour le dire, il m'en coute
Mon cœur a tant besoin d'un Dieu!

FABIUS LE BLANC.

D'esses montes d'alèm o sol nascendo,
Vem nos campos do céu verter risonho
Mil alegrias:

Mas na noite incendida do poeta,
Onde impera a tristesa a custo affoga
As agonias.

E-lhe o peito um vulcão donde rebentam,
Ardentes lavas que se escôam fervidas
Nos olhos seus :

É-lhe a mente a ferver como a cratéra,
Que os represos cachões de si remessa
Em densos veus.

Mandou-o Deus assim cumprir seu fodo,
Sem lhe ao menos marcar cá neste mundo
A méta, o fim.

Deu-lhe alma p'ra sentir, saudosa, ardente,
E quiz deixal-o só firme nas crenças
Morrer assim.

Poz-lhe em face a mulher rica d'encantos,
Soudosa inspiração que lhe mitiga

As cruas dôres;

Mas ao mostrar-lhe em face a paga immensa, Ao desvendar-lhe á luz os olhos d'alma Negou-lhe amores.

Foi-lhe a vida, d'então, qual d'entre as mattas A carpidôra rôla a lamentar-se

Da sua sina ;

Alta a noite, nas rochas assentado,
Ao bramido das ondas seus pesares
Saudoso ensina.

Quando a lua vem pallida sulcando
As campinas do céu, verter tristesas
No coração:

Nos labios mudos nem sequer ao menos
Encontra o triste o que é dado a todos
Um oaração!

Os canticos das aves que festejam
As brisas da manhã, folgando alegres
E descuidosas;

Avivam-lhe as saudades do passado,
D'essas horas de amor já não voltam
Tão venturosas.

Na mente e coração renega o triste
As bellesas do céu, da terra as scenas
Que mais amou:

Só da amiga fiel que inda lhe resta,
Da pobre lyra que lhe intende as magoas,
Não renegou!

Nos alcantis das serras escabrosas
Onde os homens não vão, irei sósinho
A meditar;

D'esses olhos gentis que me enfeitiçam,
Nas solidões das rochas talvez possa
Não me lembrar.

Nessa lyra d'amor, na lyra antiga,
Novos cantos virão fartar-lhe a sêde
Do sentimento:

Que as mil recordações do meu passado,
Não virão a tolher-me com vaidades
O pensamento.

Serei todo de Deus; serei da patria
Nas cem mil tradicções que nos revella
Do seu passado.

Serão della, e só della os pobres cantos,
Nascidos deste peito onde as tristesas
Só tem morado.

Então por Ella, pela patria amada,
As meiguices d'amor que vão longe
Esquecerei :

Nem olhos nem sorrir

nem meigas fallas,

Na minha antiga lyra dos amores
Mais cantarei.

Qual fantasma nocturno involto em trevas, De pesadas visões acompanhado

Irei no mundo.

Como quem tem no peito a devorar-lh'o,
Sem confórto, sem paz, sem alegria,
Um mal profundo.

Que vida! se é viver passar os dias.
Em derramados prantos que se fundem
No pó da nada:

Que

vida se é viver passar as noites, A revolver-se em dôr que a noite aspira Só, e calada!

D'esses montes d'além o sol nascendo,
Vem nos campos do céu verter risonho
Mil alegrias;

Mas na mente incendida do poeta,
Onde impera a tristesa a custo affoga
As agonias.

LAMENTOS.

Le chant naturel de l'homme est triste, lors mème qu'il exprime le bonheur.

CHATEAUBRIAND.

De que me serve o ter lyra
Onde os ais possa moldar;
Senão ha ninguem que queira
Os meus cantos escutar;
Se os pobres sons vão sumir-se,
Perder-se todos no ar?

Negou-me Deus neste mundo
Ter um outro coração,
Onde tivessem um ecco
Os cantos da solidão,
Que nos sêrros da montanha
Partir-se quebrar-se vão.

Intristeco-me se vejo
Da manhã puro arrebol;
Intristeco-me se ao longe
Nas ondas se morre o sol;
Intristeco-me se escuto
O trinar do rouxinol.

Affeito só ás tristesas,
Só ellas me quadram bem;
Amo ver as dansas nuvens
Se negras pejadas vem;
Amo nos serros sósinho
Vaguear sem mais ninguem.

Se no prado a borboleta
Pousa n'uma n'outra flor,

Tenho vontade de vêl-a
Perder-se naquelle ardor;
Como se perdem no mundo
As crenças d'um puro amor.

Se vejo a lua vaidosa
A namorar-se no mar,
Tenho ciumes de vêl-a
Naquelle brilho sem par,
Qué tudo que é bom promette,
Que a tudo vem a fallar!

É como uns olhos formosos Sempre a dizerem que sim; Sempre a fingirem ternuras Que dizem que não tem fim ; Para enganarem a todos Como enganaram a mim!

A's formosuras da terra
A todas neguei a fé;
Das crenças que outr'ora tive
Nenhuma ficou de pé;
Morreram todas no peito,
Que o peito dellas não é.

Só nas tristesas encontro
Os eccos de tanto mal;
Só no bramido das ondas
Um confidente leal;
Só nos êrmos e penhascos
Uma ventura real.

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