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LYRICAS.

É que as trovas que cantavam,
As damas lh'as escutavam
Do coração,

Accusaes, sem terdes provas,
De mentirosas as trovas
Que eu vos cantei :

Se não são hoje as primeiras,
Mal de mim são verdadeiras
As que trovei.

Já que fui tão indiscreto,
Tenho sim mais d'um affecto
Vivo sem paz.

De traír a fé jurada.

Sem vós a terdes quebrada,
Sou incapaz.

Se diversas côres eu canto,
E' porque aos olhos o pranto.
Vedou-me a luz :

Sei que a vossa é côr divina,
Ai pobre foi minha sina
Não vêr a cruz!

Accusaes o sentimento,
D'espressar o seu tromento

Em trovas mil !

Em vez de chorar - carpir-nos,
O cantor por distraír-nos
E' mais gentil.

Não negueis á formosura,
Dos poetas a ternura

Que é sem rasão;

Sois rivaes da naturesa;
Só dimana a grandesa
A inspiração!

Não mente quem amor jura, Bem sabeis como o meu dura

Sempre fiel;

E dura sem ter esp❜rança ! Mas ainda sem abalança Pobre baixel!

No tempo dos trovadores, As damas tinham amores

Leaes

sem fim.

Mas agora por desgraça, Por mais que o poeta faça Não é assim !

COMMEMORAÇÃO.

Je donnerais mes jours pour celle
Que-ne m'a jamais donné rien.

MILLEVOVE.

D'um sonho que já é findo
Porque me volta a saudade?
Tive-o, gozei-o, foi lindo,
Mas revive-lo quem hade?
A' crença que o crime apaga
Quem pode dizer revive?
O sonho bello que eu tive
Quem o matou não sentia;
Era mulher não sabia
Que o coração do poeta
Ardendo na chama viva
D'uma paixão que jurára
Como morre a sensitiva
Morrera se lhe tocára!

E tocou... não teve medo;
Era mulher, entendia,
Não entendia, orgulhosa!
Que uma vez tombada a rosa

Nem o poeta podia,

Nem o mundo lhe deixara,
Que fosse oppor ao distino
Da rosa que se murchára
Um canto mais do seu hymno!

Pois então se o sonho é findo
Porque me volta a saudade?
Ai volta porque foi lindo
E não sei que haja vaidade
Que em troca do que ha perdido
Não queira junto, bem perto
Do coração, que é deserto,
Deixar um padrão erguido
Padrão de que? Da saudade
Do tempo que um sonho lindo
Inda não tinha a maldade
Tornado n'um sonho findo!

PORTUGAL.

Di sua mano nel libro dé fati
Ei segnava la pace e la guerra :
Qué tiranni che opprimon la terra
Stavan tutti tremante al sue pié.
G. ROSSETTI.

Houve um reino que ao mundo absorto,
Deu outr'ora costumes e leis.

Esse reino, coitado, está morto;
Mais com vida talvez não vereis.

Era grande pod'roso gigante; Hoje pobre mendiga a pedir.

Dae-lhe a esmola de um braço possante Talvez possa da campa surgir!

Esse reino que as ondas demava,
Que entre todos se erguia senhor;
Esse reino que altivo encarava
Das procellas do mar o fragor;
Jaz por terra gigante abatido
De seus filhos a sorte a carpir,
Dae-lhe esmola de um peito sentido
Talvez possa da campa surgir!

Esse reino que em praias distantes
O estandarte da Cruz arvorou;
Que depois nessas luctas gigantes,
Nunca o rosto nas luctas voltou ;

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