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dro (8). Mas estes poucos versos, apezar de pedidos, o que quasi sempre constrange a execução, e apezar de feitos para serem cantados por senhoras, pelo que he visto que o poeta se não esmerara como se os tivera composto para os submetter positivamente á critica dos sabios; estes poucos versos, dizemos, que quanto o podemos entender, nos parece, que hoje se não farião melhores, bastão para aquilatar o ouro superior da sua lira. Bem se podera insculpir no seo tumulo este verso de Ferreira :

O bom canto emmudece, Ecco suspira.

(1) Temos á vista um balanço da receita, e despeza da Provincia de Pernambuco no anno de 1749, e delle se vê, que das rendas do Estado se não pagava a uma so cadeira de primeiras letras sequer em toda a Provincia. Todavia o Padre Francisco de Avelar, vice reitor do collegio dos Jesuitas de Olinda, recebeo em 28 de Maio de 1655 da fazenda real, por mão do Almoxarife Gaspar Fernandes Madeira, a quantia de quatrocentos mil reis, que lhes mandou dar por um anno governador Francisco Barreto, em attenção ao zello com que os ditos Padres servião a Sua Magestade em doutrinar e ensinar nas escolas aos filhos dos moradores da Terra. Pela provisão do Conselho ultramarino de 7 de Novembro de 1681 mandou-se dar ao convento do Carmo de Goiana cem mil reis cada anno, por tempo de dez, para a factura do convento, em attenção ao ensino que aos habitantes fazião. Pela Carta regia de 10 de Setembro de 1722 se mandou dar ao convento de S. Francisco de Iguaraçu vinte mil reis para um mestre de grammatica latina ensinar aos filhos dos moradores daquella villa. Os mesmos Jesuitas, a quem o governo fazia muitas mercês, e graças, davão aulas publicas de primeiras letras, grammatica latina, rhetorica, e filosofia em Olinda, è no Recife; e destas tres ultimas tambem no Recife em seus conventos os Religiosos de Santo Antonio, e os Manigrepos; e estes ultimos, em tempos mais proximos a nós, de geometria. E por

aviso de 24 de Novembro de 1755 se recomendou ao governo de Pernambuco os dous professores de latim Manoel de Mello e Castro, e Manoel da Silva Coelho, que vierão de Lisboa estabelecer o novo methodo dos estudos; e com effeito ensinarão como professores muitos annos, ate que no de 1774 estabelecido o subsidio litterario, se crearão professores de primeiras letras, e se augmentou o numero dos outros. Mas não se conclua, que naquelles tempos todo o ensino se encerrava no acima referido dos Regulares; porque a par delles houve sempre Seculares, e Clerigos com aulas de primeiras letras, e de latim, rhetorica, e filosofia, de cuja profissão vivião, pagos pelos alumnos, ou por seus pais, como hoje em muito maior escala se observa. E convem ainda confessar, que as rendas da Provincia bem pouco, ou nada então permittião: a sua receita no anno de 1749 foi de reis 88:283 743, e havia o deficit de 14:237$387; e posto que fosse a divida activa cobravel cerca de 50:000 $000, havia a passiva de fardamentos á tropa de muitos annos, e de soldos de anno e meio, no total de 228:223$730. Mas no exercicio de 1849 a 1850, um seculo depois, deo-se ao thesoureiro geral quitação do recebimento desse anno de 7,089:818$118 reis, inelusive o saldo do exercicio anterior de reis 242:626447. E a receita provincial neste mesmo exercicio foi de 873:063$209 reis. Qual não poderá ser no fim de outro seculo a grandeza, e poder da Provincia!

(2) O Sr. Garrett diz do Caramuru, que o poeta atinou com muitos dos tons, que devião naturalmente combinar-se para formar a harmonia do seu canto, e que onde se contentou com a natureza, e com a simples expressão da verdade, ha oitavas bellissimas, e ainda sublimes. E quanto ao Uraguay, diz que he o moderno poema que mais merito tem na sua opinião. Scenas naturaes muito bem pintadas, de grande, e bella execução descriptiva, frase pura, e sem affectação, versos naturaes sem ser prosaicos, e quando cumpre sublimes, sem ser guindados, não são qualidades communs. Que os Brazileiros principalmente lhe devem a melhor coroa de sua poesia, que nelle he verdadeiramente nacional, e legitima americana.

(3) Mas Butler chegou a padecer fomes, e Carlos 2.o citava os versos do Hudibras, que tanto servirão à sua causa ridicularisando o fanatismo inglez, e não quiz saber do poeta. Gray, e Gay fabulistas não forão mais felizes. E Milton pobre, perseguido, cego, e carregado de familia, retinha os versos do Paraiso perdido ate aparecer quem por amizade os escrevesse em papel; e apenas achou um livreiro, que lhe desse pelo poema uma insignificancia incrivel.

(4) Mas Descartes perseguido fugio de França, e morreo na Suecia; e quando já recolhidos os seus despojos mortaes á França, em 1667 se lhe fizerão honras funeraes solemnes, uma ordem expressa da Corte prohibio, que se pronunciasse seu elogio, que só quasi um se culo depois foi composto, e recitado por ordem de uma associação de homens de letras, a Academia Franceza. Corneille morreo pobre. Racine, a quem Luiz XIV fizera gentilhomem, encheo de gratifica

ções, e distinguio a ponto de o recolher, e fazer deitar em sua camara, tendo adoecido em uma das jornadas a Marly, morreo de pezar ao ver-se ultimamente fora de sua graça. E a Moliere negou o Arcebispo de Paris sepultura, e so por insinuação do Rei a permittio com a condição de ser o enterro sem pompa, e ruido.

(5) O nosso Antonio de Moraes Silva, a quem Fitinto fez a bellisma Ode

Como foge, Moraes, o veloz tempo,

o achou pobre em Paris, vivendo de remessas incertas de alguns amigos em uma estalagem, onde por vezes Moraes foi passar dias para o conversar; e de frio amanheceo Filinto um dia muito mal no grande inverno de 1783, que atalhou Moraes de passar á Italia para onde hia.

(6) O Marquez de Pombal o não olhava bem por ser parcial dos Padres congregados, e outros murmuradores do seo ministerio. Pretextou-se a prizão com a tradudução que o poeta fez de escriptos de amores de uma filha do brigadeiro inglez Elsden com um amigo do poeta. Elsden era um sablador, ou marcineiro em Londres; com algumas poucas luzes elementares de mathematica fez-se engenheiro, e architecto em Portugal, onde em 1779 andou dirigindo a construcção do laboratorio chimico, museo, e sala de physica experimental pegadas ao collegio dos Jesuitas. E diz Gutrie (Geographical grammar) que elle reformou a Universidade de Coimbra, para o que elle não tinha capacidade, mesmo nas sciencias exactas.

(7) Dizia o Cardeal Cunha a um que se affiigia de não ser despachado: Dizem que Vmc. he poeta. Ao que acudio o deprimido agudamente: Não creia V. Eminencia as más lingoas, que tambem fallão sem respeito á sagrada purpura de V. Eminencia. Pois que dizem? (Tornou o Cardeal.) —Que dizem ? Que V. Eminencia não he poeta.

(8) Deo-nos estes versos o falecido Maximo Pereira Garros, com quem tomamos lições de musica. Elle era pardo, nascido na cidade do Recife, de optimos costumes, e bemquisto. Viveo sempre de musico, tocando rabecão, e ensinando musica, e primeiras letras; e tambem poetava. O Excellentissimo conselheiro Antonio Peregrino Maciel Monteiro aprendeo com elle primeiras letras. Alguns moços talentosos tinhão-lhe amisade, e frequentavão a sua casa, e erão desde numero os falecidos vigario Francisco Ferreira Barreto, Padre José Marinho Falcão Padilha, José Bernardino de Sena, o Tenente Coronel Pedro Borges de Faria, o Dr. José da Natividade Saldanha, e outros, os quaes recitavão-lhe suas poesias, e composições como a um juiz esclarecido, e desapaixonado. O mesmo Pereira Garros nos referio, que tendo-se escusado alguns compositores de fazer a musica a estes versos á S. Barbara, receiando principalmente a difficuldade dos exdruxulos, elle a compozera « e sahio tão bonita!! » repetia, quando nella, e nos

versos fallavamos. Mas nunca a ouvimos, nem della temos outra noticia. O mesmo Maximo tambem nos contava, que em sua mocidade, e em qualidade de musico achando-se com outros em uma reunião nocturna em palacio, governando o Conde de Villa Flor (4763 a 1768) e sendo convidado a cantar, executara á cithara uma modinha maviosa, e terna das que lhe parccião mais tocantes, e bellas, Eis que, em um lance de olhos, dá com a Condessa a chorar. Vexado com isto, disfarça, e começa um canto alegre. A poucos passos, a Condessa desata uma risada, e diz: Ora não pensei, que em Parnambuco viesse achar quem me fizesse ao mesmo tempo rir, e chorar! E nós teremos narrado alguma frivolidade? Nem no interesse da historia da nossa musica (mesmo por ser pequena), nem no da gratidão, e respeito que devemos á memoria do nosso bom mestre. Šentimos não ter dos seus versos, para apresentar aos leitores, mais que a decima abaixo, improvisada ao mote, que outrem dera em um festim em casa de um tal Rego, fora da cidade.

MOTE.

He Rego, que iguala ao Mar.

Glosa.

Todos os regos do Mundo
Levão ao Mar as correntes;
Mas não lhe causão enchentes,
Porque o Mar he mais fecundo.
So de um Rego sem segundo
He que sempre ouvi contar,
Que tanto sabe innundar
Em seus brilhantes empregos,

Que so elle, entre os mais Regos,

He Rego, que iguala ao Mar.

DOCUMENTO.

Eu o Principe Regente, Governador dos Reinos de Portugal e Algarves. Faço saber aos que esta minha provisão virem, que tendo respeito ao que se me representou por parte do Padre Frei Manoel da Assumpção, vigario prior do convento de Nossa Senhora do Carmo sito em a capitania de Itamaracá, e mais Religiosos daquelle convento, que indo a fundar haverá dez annos, a instancia dos moradores da dita capitania, por não haver nella outro algum, e lhes ser necessaria sua assistencia para consolação dos fieis, pregação, e instrucção dos naturaes da terra, o que os ditos religiosos fazem, e actualmente estão lendo no mesmo convento filosofia, e theologia, e sem mais adjutorio que as esmolas dos fieis estão fazendo o convento, e continuando com as obras delle de sete annos a esta parte; e por ser grande a sua necessidade por estarem ainda no principio de sua fundação, e a assistencia dos Religiosos naquella capitania de grande serviço a Deos, por serem mui reformados, me pedião lhes mandasse dar uma esmola da fazenda real para ajuda das obras do dito convento, e a congrua ordinaria, que costumava dar aos mais conventos de Pernambuco, e Parahiba: e tendo a tudo consideração, e ao que respondeo o procurador de minha fazenda, a quem se deo vista: Hei por bem fazer-lhes merce para ajuda da obra do dito convento de cem mil reis em cada um anno, e isto por tempo de dez annos, pagos nos dizimos de Itamaracá. Pelo que mando ao governador da capitania de Pernambuco, Provedor da fazenda della, e mais Ministros, e pessoas a que tocar cumprão, e guardem esta Provisão, e a fação inteiramente cumprir, e guardar como nella se contem, sem duvida alguma; e valerá como carta, sem embargo da Ord. liv. 2. tit. 40 em contrario. E se passou por duas vias, uma so haverá effeito. Não pagou novos direitos por ser esmola esta ajuda. Manoel Pinheiro da Fonceca a fez em Lisboa a 7 de Novembro de 1681. O secretario André Lopes de Lara a fez escrever. - Principe. - Conde de Val de Reis. ― Registrado na Provedoria de Pernambuco.

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