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O ar, que respirastes sobre a Terra,
Foi um sopro de Deos embalsamado
Entre as flores gentis, que vos ornavão
O berço abençoado.

Ao ver-vos sua igual no Empyreo os Anjos
Hymnos de amor cantarão nesse dia;
E o que se escuta, se fallaes, he o echo
Da angelica harmonia.

Gerada para o Ceo (que o Ceo somente
Da creação a pompa, e o brilho encerra)
Das mãos do Creador vos escapastes;
Cahistes ca na Terra.

Um Anjo vos seguio para guardar-vos;
E quaes gemeos um no outro retratado,
Quem pode distinguir o Anjo, que guarda,
Do Anjo, que he guardado?

So um raio do Ceo arde perenne,

Sem que o Tempo lhe apague o fulgor santo: Por isso os vossos dons são sempre os mesmos, O mesmo o vosso encanto.

Em vós he tudo eterno. E se na fronte
(Tão bella sempre em tempos tão diversos!)
Uma croa murchar-vos, he de certo

A croa dos meus versos.

Dos meus versos? Ah! Não! Que inextinguivel He o incenso queimado á Divindade:

E ao canto, que inspiraes, vós daes, Senhora, Vossa immortalidade.

A Me. STOLTZ EM UMA REPRESENTAÇÃO DA FAVORITA.

INSPIRAÇÃO.

Genio! Genio!... inda mais! Supremo esforço
Da mão de Deus no ardor do enthusiasmo!
Es Anjo, ou es Mulher, tu que nos roubas
Do culto o amor, o extasi do pasmo ?

Na pujança do vôo a Aguia soberba
Tenta o Céo devassar, exhausta pa'ra:
Nas azas do lyrismo tu de Jehova
Ao Templo chegas, e te prostras n'ara.

Ahi c'roada de fulgente aureola
No concerto dos Anjos te misturas;
E se cantas na Terra, são teus hymnos
Harmonias, que ouviste nas alturas.—

Ahi aspiras o lustral perfume,
Que das urnas sagradas se evapora :
Eis porque tua voz parece ungida
Dos olores da flor, que orvalha a Aurora.

Ahi do coração na harpa animada

As cordas descobriste de ouro estreme,
Que se vibra de amor, atea n'alma
Paixão, que goza, e soffre, canta, e geme.

Ahi o idioma typico aprendeste,

Que entendem todos e que tudo exprime :
He assim teu olhar o verbo vivo,
He teu gesto a linguagem mais sublime.

Mysterio augusto, que do Eterno ao fiat
Surgiste qual visão, que attrahe, fascina;
Se da mulher teu corpo veste a forma,
Arde no genio teu chamma divina.

Mulher, ou Anjo! Cumpre a missão tua!
Seja a crença deleite, a fé doçura:

Toda a terra ame ao Ceo nos seus prodigios,
Adore o Creador na creatura.

AO EMBARQUE, E PARTIDA DE UMA SENHORA.

UM SONHO.

Ella foi-se!... E com ella foi minha alma
Na aza veloz da Briza sussurrante,
Que ufana do thesouro, que levava,
Ia... corria... e como vai distante!

Voava a Briza, no atrevido rapto
Frisava do Oceano a face liza :
Eu que a Briza acalmar tentava insano,
Com meus suspiros alentava a Briza ?

No horisonte esconder-se anuviado
Eu a vi; e dous pontos luminosos
Apenas onde ella ia me mostravam :
Eram elles seus olhos lacrimosos!

Pouco, e pouco empanou-se a luz confusa,
Que me sorria lá dos olhos seus ;
E d'além ondulando uma Aura amiga
Aos meus ouvidos repetio adeos !

Nada mais via eu, nem mesmo um raio
Fulgir a furto de esperança bella;
Mas meus olhos illusos descobrião
N'uma amavel visão a imagem della.

Esvaio-se a visão, qual nuvem aurea
Ao bafejar de vespertina aragem;
Se aos olhos eu perdia a imagem sua,
No meu peito eu achava a sua imagem.

Ella foi-se!... E com ella foi minha alma
Na aza veloz da Briza sussurrante.
Que urana do thesouro que levava,
Ia... corria... e como vai distante!

O Padre José Gomes da Costa Gadelha.

Não incendieis a casa do poeta Findaro. - Tal foi, sobre a casa em que habitou esse grande poeta, cento e trinta annos depois de sua morte, a inscripção ante a qual suspendendo-se Alexandre, que em sua vingança havia proscripto todo o povo thebano, conservou aos descendentes do poeta, e aos Sacerdotes a vida e a liberdade. Ja os Lacedemonios quando tomarão Thebas, em tempo do seu poder, tiverão o mesmo respeito á memoria daquelle sublime filho das Musas. Aos que fervorosos se entregão á cultura, e amor das letras, e sciencias, mormente da poesia, doce compensação lhes he das lidadas applicações e estu dos, das privações a que por amor destes se condemnão, e talvez da indifferença, senão desprezo, ou perseguição dos nescios, muito os deve assoberbar mesmo a recordação destes, e outros muitos factos semelhantes, que são a mais brilhante honra, e gloria das letras, e sciencias, e as mais relevantes provas do seu poder e encantos (1). Mas o discipulo de Aristoteles sabia apreciar a grande poesia. Com que prazer não lia elle a Eschylo, Sophocles, Euripedes, e tudo quanto a Grecia tinha de melhor? Qual não era a sua paixão e enthusiasmo por Homero? Os poemas deste forão por sua ordem revistos, presidin

TOMO I.

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