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ADVERTENCIA

059 1891

Voltam a saír á luz Os filhos de D. João I, depois de ampliada, corrigida e documentada a obra, por fórma que, sem perder a feição com que primeiro se apresentou em publico', melhor corresponda á grandeza e sympathia do assumpto.

Differentes pessoas amigas contribuiram, como se verá no texto, para o resultado presente, já prestando-me subsidios historicos, já proporcionando os meios de se conseguirem os primores d'esta impressão. Manifestando a cada qual o meu agradecimento, necessitava registal-o aqui, para que, havendo louvores a distribuir, elles vão a quem toca.

É minha idéa que a arte de escrever historia está atravessando um periodo de transformação. Reagindo contra as theorias abstractas dos racionalistas antigos, os escriptores do nosso tempo, absorvidos pelo cuidado indispensavel da veracidade crítica, esqueceram os modelos eternamente classicos. A historia ha de sempre ser uma resurreição; e o

1 Na Revista de Portugal, 1889-1890.

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processo artistico ou synthetico ser-lhe-ha sempre o adequado. As analyses eruditas e as controversias críticas, bem como as theses doutrinarias dos systematicos, serão tambem sempre materiaes indispensaveis do artista; mas nunca poderão crear obras que tanto agradem ao sabio como ao ignorante, deliciando e educando quem quer que tenha ouvidos para ouvir, olhos para ver e coração para sentir.

Nas vidas de Plutarcho temos ainda hoje, parece-me, um dos modelos d'este genero litterario: já porque assim o grego entendia a historia; já porque fazia, como deve ser, da analyse psychologica e do exame biographico, o nucleo do estudo e observação dos tempos. A historia tem nos caracteres, como a pintura do retrato, o seu terreno de eleição; porque o homem, com as suas crenças, idéas e até preconceitos e fabulas, foi o constructor da sociedade. Não existe materia de historia, quando não ha caracteres accentuados: assim succede nos tempos obscuramente primitivos das civilisações, e tambem nas epochas não mais claramente collectivas dos nossos dias, em que tudo volta a ser anony-mo, como no principio. Ha então apenas fastos e materia propria para escriptos didacticos, analogos aos referentes á natureza inorganica ou animal, por isso mesmo que na sociedade influem exclusiva, ou soberanamente, as forças democraticas, operando como elementos naturaes.

Mas para os periodos em que a liberdade humana positivamente cria, o methodo synthetico ou artistico, e tambem o processo biographico inherente, são alem d'isso o unico meio de conseguir aquella verdade que os escriptores criticos em vão pretendiam attingir com a analyse dos textos e diplomas, e com o estudo aturado das instituições, das classes e de todos os elementos sociaes collectivamente obscuros. Erravam por dois modos: em primeiro logar, considerando

essencial o accessorio; em segundo, porque, acreditando na verdade absoluta, mediam todas as idades por um metro igual, não sentindo o palpitar vario dos tempos.

Ora, o que domina sobre tudo a historia são os motivos moraes, e esses motivos parecem verdadeiros ou falsos conforme as éras e os logares. Assim a historia ha de ser objectiva, sob pena das obras do artista não passarem de creações phantasticas do seu espirito. E hade, por outro lado, assentar sobre a base de um saber solidamente minucioso, de um conhecimento exacto e erudito dos factos e condições reaes, sob pena de, em vez de se escrever historia, inventarem-se romances.

Arena amplissima onde o artista e o erudito, o pensador e o crítico, se encontram e se confundem, o jurista para indagar com escrupulo, o psychologo para analysar com subtileza, a historia, se não é a fórma culminante das manifestações intellectuaes do homem, é sem duvida a mais complexa e a mais comprehensiva.

Por isso mesmo que assim penso, mais vivo sinto o desanimo ao reparar quanto estas paginas correspondem pouco á medida das idéas que as fizeram nascer. Todavia, com aquella vaidade propria de todos os que têem idéas, creio tambem que o favor publico dispensado a esta obra, logo na sua primeira publicação, provém d'ella aspirar a um ideal verdadeiro-como as aves, quando ainda quasi implumes, ensaiam o vôo, batendo os cotos, debruçadas da beira do ninho sobre a immensa vastidão do espaço lumi

noso.

Março, 1891.

O. M.

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