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par com o seu character; a sua opinião nao he, como a de muitos, que Necker teve a infelicidade de estar á frente da Administraçao, quando pereceo, o Estado sem que elle tivesse a culpa do mal, nem o pudesse remediar; entretanto que elle éra o accusado; e o A. absolve Necker da intençao, mas assevera que elle fôra a causa do grande desastre da França.

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"Que terrivel responsabilidade, diz o A., fazem pezar sobre Necker, os accontecimentos, que sao consequencencia de suas dispo❤ siçoens! Uma infracção dos contractos do Estado, a mais extensa, e mais ruinosa que jamais existio; e este desastre naõ éra senao o menor dos males: todo o principio de equidade invertido: os serviços e a gloria dos antepassados servindo de titulo para o desfavor dos descendentes: a riqueza sendo objecto de perseguiçao: a virtude punida como um attentado: a naçaõ desmoralizada a irreligiaõ legalisada; a atrocidade investida com o poder: todo o territorio da França transtornado em um açougue de carne humana: o cidadao erigindo-se em algoz de seu concidadao, de quem differe em opinioens politicas: o throno, que parecia o mais inconcusso, destruido: um rey que tinha feito á sua naçao os maiores sacrificios, perecendo sobre o cadafalso, por ordem dos deputados desta naçao: os legisladores assassinando, uns outros, e nao sendo o assassinato pela maior parte, mais do que um acto da justiça irregular: a naçaō passando rapidamente por todas as formas de constituiçao politica, desde a degraduaçao da antiga monarchia, até á democracia a mais absoluta, e despotismo militar; o mais terrível dos despotismos: sendo cada mudança effectuada pela eflusaõ de sangue; sem que a segurança e a tranquilidade se tenham podido recobrar, senaõ por uma aproximaçaõ á ordem monarchia, que tinha sido destruida. Oh Necker! exaqui a tua obra! Sem duvida estes horrores estávam longe de teu pensamento; a opposição que tu lhe fizestes, quando vistes a explosao; as tuas infelicidades pessoaes, que tem sido a consequencia disso; o teu character, que nunca teve nada de atroz; as mesmas faltas, a principal das quaes foi uma paixao desordenada pela gloria, o mais escusavel, e o mais nobre dos desvarios tudo te absolve da participaçao neste delirio do crime. He possivel, e alé naõ deixa de haver alguma verisimilhança, que o teu pensamento elementar, teu sentimento primitivo tenham sido de conferir a uma grande naçao uma melhor existencia; e que o teu interesse pessoal, VOL. VIII. No. 45.

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o amor da celebridade, do poder, e das honras naõ tenham occupado na tua alma uma classe subsidiaria."

The Philosopher.

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O Philosopho, ou notas criticas historicas, pelo general Sarrazin; ex-chefe do Estado Maior do general Bernadotte, Principe Regente de Suecia, nos exercitos de Alemanha e Italia. Londres, 1811.

Ainda que nao seja custume o analizar, ou fazer revisoens das obras periodicas, em um jornal periodico; com tudo a natureza singular da obra que annunciamos, exige que della se faça uma excepçao. Tem ja apparecido dous numeros desta obra, e supposto se prometta a sua continuaçao, nao se determînam os periodos em que deve apparecer. O general Sarrazin, um dos generaes revolucionarios da França desertou do serviço de Buonaparte; porque, segundo elle mesmo declara, nao o promovêram a um posto a que elle se julgava ter justo titulo por seus merecimentos: chegado a Inglaterra, desgostou-se tambem contra o Governo Inglez ; porque este nao premeiou a sua deserçao, e serviços que elle assevera ter feito ánaçaõ Ingleza, Este desgosto induzio o general Sarrazin a principar o seu periodico, em que começou pela narrativa de suas circumstancias, e depois a continuar escrevendo a biographia dos principaes characteres que tem figurado na revoluçao, e principalmente nos exercitos Francezes,

Nao pode deixar de ser interessante a biographia destes homens, escripta por um seu collega, que está tao intimamente ligado com os acontecimentos, e tao bem informado das personagens, que nelles tem figurado. O general Sarrazin preferio a lingua Ingleza para a sua publicação; talvez porque sendo a linguagem do paiz em que escreve, fazia assim mais geralmente conhecida a sua obra.

Daremos a conhecer esta obra ao Leitor fazendo alguns extractos de sua importante biographia.

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"O general Soult está empregado em Hespanha, tem o Commando em Chefe das tropas, que occupam a Estremadura e AndaJuzia, e he um dos quatro generaes da guarda Imperial.”

"Soult tem somente 42 annos de idade; mas nas apparencias mostra mais de cincoenta: tem cinco pes e dez polegadas d'alto, ainda que magro he mui vigoroso; a cara he mui ordinaria, cor palida, olhos penetrantes, um ar pensativo, exprimindo um genio alem do commum. Póde lêr-se na sua phisiognomia a aspereza de sua alma, e o orgulho que lhe inspiram os seus talentos militares: a sua figura he militar, as maneiras simples, o tractamento frio, e falla raras vezes: he muí rigido em manter a disciplina: a sua actividade, e comprehensao de suas vistas, tem muitas vezes obtido os louvores de Kleber e Buonaparte.”

"Filho de páis pobres, pode Soult ser considerado como O unico fundador de sua fortuna militar na pouca idade de 16 annos se alistou como soldado raso. A sua boa conducta fez cora que elle fosse distinguindo pelos principiaes officiaes de sua companhia, que successivamente o nomeáram cabo de esquadra e sargento : dotado de muita intelligencia, cedo se familiarizou com a arte de manobrar; e mesmo naquelle periodo deu mostras a seus subordinados de firmeza de character, que ao depois tanto contribuio para o seu augmento."

Com esta precisao, e miudeza descreve o A. o character das pessoas, que dá a conhecer ao Mundo. As anecdotas da guerra sao referidas com igual clareza, e escolhidas mui propriamente para designar os individuos. Heis aqui o que elle diz do mesmo Soult sobre o seu attaque en Portugal a (p. 13.)

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"A invasaō do Norte de Portugal faz pouca honra a Soult. He verdade que, depois de ter batido a milicia Portugueza, tomou por assalto a cidade do Porto; mas como defendeo elle a sua conquista? ¿Que medidas tomou elle para impedir que as columnas de Lord Wellington effectuassem a passagem do Douro ? Tenho sido crivelmente informado, de que Soult esteve mui proximo a ser feito prisioneiro no Porto, aonde os Inglezes entráram, estando elle á meza, com todo o seu Estado maior: fôram obrigados a montar precipitadamente os seus cavallos, e com a espada na mao abrir caminho por entre os atiradores Inglezes, que ja estavam fazendo fogo nas ruas. Obtive este facto do coronel Dauture, que estava empregado no Estado maior do marechal Soult, e que esteve depois debaixo das minhas ordens no campo de Boulogne. Quando o 2o, corpo entrou em Portugal aos 10 de

Fevereiro, de 1809, constava de 23.000 homens; retirou-se dal aos 18 de Mayo seguinte, depois de ter perdido 8.000. homens; com toda a sua bagagem e artilheria: ésta perca de gente foi quasi inteiramente occasionada pelos paizanos: os quaes justamente irritados pela atroz conducta dos Francezes, dávam a morte, sem misericordia, a todos os que encontrávam. Por um capricho da Fortuna, chegou Soult mui oportunamente, ao levantamento do bloqueio de Lugo, que estava cercado pelo general Mahi, á frente de 20.000 Hespanhoes. A guarniçaõ desta cidade composta do regimento 69, debaixo do commando do general Fournier, estava destituida de mantimentos e de meios de prolongar a sua defensa. Os Hespanhoes retiiáram-se á approximaçaõ de Soult, e ésta feliz occurrencia, lançou uma sombra de esquecimento sobre os seus áos successos em Portugal."

O A. neste exemplo, a pezar de criticar bastante a conducta de Soult nas duas campanhas dos dous annos passados na Hespanha, diz a p. 20 que.

"Nao obstante isso, Soult he o primeiro general dos exercitos Francezes, depois de Bonaparte e Moreau; elle nao possue o genio da guerra em um gráo igual a estes dous generaes, mas he-lhes superior no conhecimento practico das manobras do campo."

O A. dá no seu primeiro Numero uma longa lista de nomes, de generaes e homens notaveis do nosso tempo, que intenta comparar uns com outros; e a que elle chama "Analogias Biographicas;" e effectivamente passa a descrever alguns por exemplo, Abercrombie e Dessaix; Alexandre I. e Francisco II. Andreosi e Lauriston. A qui os parallellos saõ feitos á imitaçaõ dos que se acham em Plutarco nas vidas dos homens illustres; mas o A. escolheo differente methodo de Plutarco, assimilhando-se á precisao de Cornelio Nepos; porque dá simplesmente a conhecer aquelles factos que designam o homem, para assim dizer em esboço; e seguramente he este um estylo mui adaptado á vivacidade do genio Francez, e ao conciso das expressoens de um militar.

O A. finaliza o numero com reflexoenз politicas

eriticas, sobre os acontecimentos do momento: mas esta parte de sua obra fica muito áquem do interesse e curiosidade que excita a parte biographica.

MISCELLANEA.

Politica particular de Bonaparte relativamente á Religiaõ Catholica. Meios de que elle se serve para a annihilar, e para subjugar os Hespanhoes pela seducçao, naõ podendo dominallos pela força. Por D. Pedro Cevallos.

Dedicação ao Povo Hespanhol. MEUS CHAROS COMPATRIOTAS! COMO catholico nao tenho podido ser insensivel aos attaques que Bonaparte faz á nossa sancta Religiao; como patriota vou a prehencher a obrigaçaõ sagrada de desenvolver e expor os artificios, que elle poem em practica para nos seduzir; e como fiel vassallo de Fernando VII. me julgaria culpado de lesa magestade, se ficasse simplez expectador das injurias que se espalham contra a sua Real pessoa,

Tal he o objecto do Opusculo que o meu amor vos dedica. Tenho dado uma conta tao succinta, quanto as circumstancias o exigem; fraca como he, a intençao com que vôlla offereço fará com que ella de algum modo se apprecie.

A sancta Religiaõ he o primeiro dos bens, ella abraça interesses mais importantes dos homens. Ainda que a guerra naõ seja uma circumstancia favoravel á sua propagaçao, a que nós sustentamos por sua defeza naõ he menos meritoria, gloriosa, e sancta. Hespanhoes! vós tendes supportado os erros do Governo, antes da guerra, como se supportam os annos máos; o vosso valor se tem sempre feito notar pela constancia, characteristica, com que vós

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