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PARA A

HISTORIA DO MUNICIPIO DE LISBOA

POR

EDUARDO FREIRE DE OLIVEIRA

ARCHIVISTA DA CAMARA MUNICIPAL DA MESMA CIDADE

1.a PARTE

Publicação mandada fazer a expensas da Camara Municipal
de Lisboa, para commemorar

o centenario do MARQUEZ DE POMBAL em 8 de maio

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pois é certo que cessando as armas em Catalunha por vencimento ou por composição, lhe fica o primeiro cuidado da recuperação de Portugal, e nós com desigual partido ao de Castelia, porque, se se compuzer com França, devemos suppôr que nos poderão faltar os alliados que hoje nos assistem; e quando não faltem, faltará o cabedal para os sustentarmos, e sem soccorros e pagas promptas não se pode fazer caso de estrangeiros, por onde o devêmos fazer só dos naturaes, fieis vassallos de V. Mag.de, que, como disse el-rei D. Affonso, o sabio, é o melhor e o primeiro thesouro de que os reis se valem, e o ultimo que se lhes acaba.

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A obra collossal de emancipação que os portuguezes heroicamente emprehenderam no seculo xvII, carecia de muito esforço e patriotismo, de muita abnegação e tenacidade para ser levada a bom termo.

A guerra era uma necessidade que se impunha; e guerrear sem treguas, para conquistar a paz e a independencia, é a feição predominante do reinado de D. João iv.

O duque de Bragança não possuia a grandeza d'animo, nem era da rija tempera do mestre d'Aviz. Se o fôra, mais brilhantes, mas tambem é possivel que mais aventurosos houveram sido os lances a que conduzisse o paiz; e as circumstancias variavam e as gerações eram outras.

O magnanimo e generoso mestre d'Aviz, rei pela vontade popular, teria acolhido com todo o fogo do seu coração audacioso os amotinados d'Evora; não os teria abandonado ás atrocidades d'uma vingança feroz, antes haveria dado impulso e unidade a essa vasta conspiração tramada contra o pesado dominio castelhano. D. João iv para acceitar a corôa, esperou que a nobreza o compellisse, que dos sentimentos do povo estava elle bem seguro. Aguardou momento opportuno em

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VI

que as forças dos oppressores se dividissem para que as probabilidades da resistencia fossem quanto possivel inferiores á acção.

A D. João 1 caracterisava o heroismo e a audacia, a D. João iv o egoismo e a excessiva prudencia. E se do confronto resulta grande desvantagem para o primeiro rei da ultima dynastia, é certo que ambos desempenharam um papel importante na politica portugueza, e ambos salvaram a independencia da nação em transes bem angustiosos.

Uma vez decidido a assumir a suprema magistratura e a affrontar os perigos a que o conduziria a sua nova situação, o que não foi a parte menos difficil da empreza, D. João Iv tratou com afan de organisar as forças nacionaes e de adquirir auxiliares nos estranhos.

No interior encontrou as mais favoraveis disposições, que elle soube aproveitar com fino criterio. Os portuguezes, promptos para a lucta, sacrificariam, com restrictas excepções, tudo quanto possuiam, vidas e fazendas, em prol da autonomia e da libertação da sua querida patria, ignominiosamente escravisada durante sessenta annos. Os povos, se alguma vez deixavam ouvir seus queixumes, era porque a nobreza e o alto clero, fieis aos seus habitos tradicionaes, não se mostravam tão propensos ás privações que a gravidade da occasião exigia que por todos fossem egualmente compartilhadas.

No exterior as relações diplomaticas correram sempre mais ou menos cortadas de incidentes, alguns bem funestos para os nossos interesses, ou humilhantes para a nossa dignidade.

D. João Iv, receioso por indole, procurou com afinco a paz e amisade com todas as potencias; todavia nenhum tratado serio de alliança offensiva e defensiva conseguiu realisar durante o seu reinado de dezeseis annos, e a morte surprehendeu-o, sem que tivesse a suprema ventura de vêr a indepen

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