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bem assim no Canto IX. Est. 54.

Por entre as pedras alvas se deriva
A sonorosa lympha fugitiva.

ARTIGO VIII.

Da Hypérbole.

8. I. Hypérbole é um Trópo, por meio do qual exaggerando alem dos limites da verdade, se engrandece, ou pelo contrario se encurta um objecto fóra das suas proporções naturaes. A maior parte dos rhetoricos enumerão cinco especies de Hypérboles : 1.a A historica, assim chamada, porque se faz com palavras proprias, e não translatas; sendo por isso que alguns rhetoricos a não contão no numero dos Trópos : Tal é a de Sá de Miranda (Carta V. Est. 56).

Diz S. Paulo, homens errados,
Se os odios entre vós crescem,
Comer-vos-heis aos bocados.

2. A que se empréga usando de alguma Comparação e Similhança: como a de Barros (Década VI. Liv. II. Cap. 16). « Era o desembarcadouro de maneira, que os que houvessem de desembarcar naquelle porto, haviam de pôr as barrigas nas bocas das bombardas. "

3. A que se faz por Metonymia, ou por

meio de certos sinaes (Lusiadas Canto VI. Est. 80).

Vendo ora o mar até o inferno aberto,
Ora com nova furia ao Ceo subia.

4. A que se faz usando de Metaphoras (Id. Canto X. Est. 62).

cujo zelo

Com medo o Roxo mar fará amarello.

5. A que exaggera accumulando Hypérboles umas sôbre outras (Idem Canto III. Est. 103).

Quantos povos a terra produzio

De Africa toda, gente féra, e estranha,
O grão rei de Marrocos conduzio
Para vir possuir a nobre Hespanha :
Poder tamanho junto não se vio,
Depois que o salso mar a terra banha :

Trazem ferocidade, e furor tanto;

Que a vivos medo, e a morlos faz espanto.

Pode servir de exemplo de uma Hyperbole para encurtar ou apoucar, a de Bernardes (Lima Carta V.).

Mas eu quizera so poder passar

Os baixos da pobreza em tempos taes,
Para de homens formigas gracejar.

§. 2. As regras, que devem observar-se no uso das Hyperboles, para que ellas, em vez do Ornato, não degenerem em vicio da

Elocução, podem reduzir-se ás tres seguintes: 1. As Hypérboles nunca devem ser muito frequentes no discurso; porque do contrario resultará um modo de dizer frio, e destituido de interesse, por lhe faltar a naturalidade, &c. : 2. Nunca deve usar-se de Hyperboles senão para descrever um objecto extraordinario, assombroso, ou nôvo; pois em tal caso é permittido o dizer mais, ou menos, do que elle é, visto não ser possivel o descrevel-o como em realidade seja : 3.a Ainda que toda a Hyperbole passa os limites da verdade, nunca deve exceder os da moderação; porque embora a Hypérbole diga o que não é, nunca seja de modo que pretenda enganar mentindo.

ARTIGO IX.

Da Sinédoche.

8. 1. Synédoche é o Trópo, por meio do qual fazemos conceber no espirito de quem ouve, ou lê, mais, ou menos, do que em seu sentido proprio significa a palavra ou frase, em geral, de que nos servimos. É pois o seu fundamento a relação de comprehensão, que se dá entre o objecto designado por este Trópo, e o outro que o outro que o comprehende, ou que nelle é comprehendido : o que é bastante para marcar claramente a differença entre a Synédoche, e os outros Trópos, que tem por fundamento relações diversas, como são

:

a Metaphora, a Ironia, e a Metonymiai §. 2. Usa-se deste Trópo, quando se substitue 1. o Todo pela Parte, ou a Parte pelo Todo 2." o Plural pelo Singular, ou o Singular pelo Plural: 3.o o Genero pela Especie, ou a Especie pelo Genero: 4.° o Sujeito pelo Attributo, ou o Attributo pelo Sujeito 5. o Determinado pelo Indetermi nado, ou o Indeterminado pelo Determinado: 6. a Materia pela Fórma, ou a Fórma pela Materia: 7. o Abstracto pelo Concre to, ou o Concreto pelo Abstracto, &c. Ex. de Synédoche, que emprega o Todo pela Parte (Lusiadas Canto V. Est. 24 ).

Salta no bordo alvoroçada a gente

Co' os olhos no horizonte do Oriente.

Dito da Parte pelo Todo : (Id. Canto III. Est. 45.)

A matutina luz serena e fria

As estrellas do pólo ja apartava.

66

Dito do Plural pelo Singular : ( Vieira Serm. Tomo I. Col. 498.) « Nos Brasis, nas Angolas, nas Malacas, nos Macáos, onde o Rei se conhece só por fama, e se obedece só por nome, ahi são necessarios os criados de maior fé, e os talentos de maiores virtudes. ” Dito do Singular pelo Plural (Ferreira Liv. II. Cart. 8.).

Dário com seus thesouros poderoso
Rico despojo foi ao Grego pobre,
So de honra, so de fama cubiçoso.

Dito do Genero pela Especie: (Caldas Tomo II. Cantat. 1.*)

Ouvi cheios de susto

Mortaes, a voz do Deus 'immenso, e justo.

Dito da Especie pelo Genero: (Diniz Pyndar. Ode XX. Epod. 4.°)

Ao ver da sua armada a pouca gente,
Ao fôgo as leves faias

Ardiloso entregou, e desta sorte

Aos seus ensina a affrontar a morte.

Dito do Sujeito pelo Attributo (Lusiadas
Canto V. Est. 98.)

Por isso, e não por falta de natura,
Não ha tambem Virgilios, nem Homeros.

Dito do Attributo pelo Sujeito : ( Id. Cant. X.
Est. 85.)

Outro corre tão leve, e tão ligeiro,

Que não se enxerga, he o Móbile primeiro.

Dito do Determinado pelo Indeterminado : (Diniz Pyndar. Ode XXVI. Antistroph. 1.* )

Sobre as margens do Alphêo cem carros tenho
A levar tua fama

Pelas patrias dos ventos

A hum só acêno meu promptos, e attentos.

Dito do Indeterminado pelo Determinado : (Lusiadas Canto X. Est. 128.

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