( 136 ) Naquelle, cuja lyra sonorosa Dito da Materia pela Fórma: (Diniz Pyndar. Ode XXIX. Estroph. 6.*) Então por longo tempo o Tejo ufano E Sousa na Vida do Arcebispo Liv. IIICap. 6: Bebêo Artaxerses nas mãos gros. seiras do lavrador a agoa, que lhe offerecêo; jurou, que lhe soubera melhor, que se a bebêra pelo ouro e christaes dos seus apporadores. " Dito da Fórma pela Materia: (Caldas Tomo II. Ode 3. Estroph. 3.*) ora a avareza Empunha o sceptro em toda a Redondeza, Dito do Abstracto pelo Concreto : ( Lusia das Canto VI. Est. 65.) Cáhe a soberba Ingleza do seu thrôno. Dito do Concreto pelo Abstracto: ( Caldas Do homem a razão minguada e escrava ARTIGO X. Do Epitheto. §. 1. Epitheto é um Trópo, por meio do qual a Elocução ajunta ao nome de qualquer objecto uma idea accessoria de outro objecto, a qual não sendo em rigor propria daquelle a que se ajunta, serve todavia para o modificar, ou ja ornando-o, ou ja communicando-lhe mais energia. Segue-se desta definição, que os Epíthetos quando são proprios do objecto, ao qual se ajuntão, não são Trópos Pelo que importa advertir que os Epíthetos se dividem em Grammaticos, e Oratorios: os Epíthetos Grammaticos servem para significar por uma ou mais palavras uma idea accessoria, que se ajunta a outra, afim de a determinar, modificando-a, e tem propriamente a denominação de Adjectivos; porque se empregão, como as proposições incidentes, para modificar o sujeito, ou o predicado da oração, umas vezes determinando ou restringindo a sua significação, outras explicando-a; e é por isso que estes Epíthetos são necessarios e indispensaveis á clareza, e justeza do pensamento pelo contrario os Epíthetos Oratorios, como só servem para dar ornato, ou maior força ao discurso, podem tirar-se á oração, sem prejudicar a verdade do pensamento. §. 2. Visto que os Epíthetos oratorios ou tropologicos servem para dar maior fôrça, ou ornato ao discurso, é claro que serão ociosos e redundantes todas as vezes, que não desempenharem nenhum destes dous fins; elles porêm os desempenharão ou enchendo a fantasia de imagens vivas e animadas, ou apresentando ao entendimento noções grandes e luminosas, ou produzindo movimentos no coração. - Para que pois os Epíthetos oratorios desempenhem taes fins, faz-se necessario que o Orador os escolha conforme se proposer ou a pintar á imaginação, ou a esclarecer o entendimento, ou a mover a vontade. §. 3. O ornato, e a energia, que os Epíthetos dão ao discurso, é principalmente extrahido das Metáphoras, e em gráo pouco menos inferior das Metonymias: depois destes dous Trópos, as Ironias, as Synédoches, e as Hypérboles subministrão tambem á Eloquencia alguns Epíthetos, posto que menos frequentes, e menos energicos; devendo todavia accrescentar-se, que os derivados das Hypérboles servem pelo ordinario de grande ornato ao discurso. 8. 4. Exemplo de Epíthetos metaphori cos (Freire Vida de Castro Liv. 1. no principio) Passou os primeiros annos cultiva dos nas letras, e virtudes.... sendo tão facil o natural á disciplina, que não havia mister torcido, senão encaminhado. " Dito metonymico: (Lusiadas Canto III. Est. 83.) A pállida doença lhe tocava Com fria mão o corpo enfraquecido. Dito irónico: (Hyssope Canto VII. Verso 159.) Tu tambem, grosso Silva, lustre e gloria Da tua Patria, antiga Torres-Vedras., Dito Synedóchico: (Lusiadas Canto VIII. Est. 41.) E como a seu contrario natural, A pintura, que falla, querem mal. Dito Hyperbolico: (Id. Canto II. Est. 36.) Os crespos fios de ouro se esparziam ARTIGO XI. Da Periphrase. §. 1. Periphrase ou circuito de palavras, que vale o mesmo, é uma especie de Trópo, com que se exprime por muitos vocabulos uma cousa, que se podia dizer em um só, ou em poucos. Duas são as razões, por que na Elocução se usa de Periphrases: 1. A necessidade, como, por exemplo, para encobrir ideas obscenas e sordidas, ou para adoçar por meio de Euphemismo ideas tristes, duras, ou de qualquer modo desagra daveis: 2. A utilidade; isto é, para com ellas promover o deleite, e ainda a força, por meio do ornato que dão ao discurso. §. 2. Por tres formas podem as Periphra samente : ses servir de ornato ao discurso: 1.a Pintando os objectos com distincção e clareza, o que muitas vezes se não pode fazer, significando-os pela simples palavra, que corresponde á sua idea; por indicar talvez essa palavra sim todas suas qualidades, mas confu2. Dando mais energia ao pensamento; porquanto a Periphrase desenvolve certas ideas accessorias e particulares do sujeito, e do predicado da proposição, sobre as quaes se funda a verdade e a fôrça desta : 3. Offerecendo debaixo de uma imagem e forma ou graciosa, ou nobre certas cousas triviaes e commuas, que o discurso ordinario enunciaria com maior simplicidade sim, porêm de um modo secco e vulgar. Como a Periphrase tem por fim ou a decencia, ou o ornato, ou ainda mesmo a força; todas as ideas accessorias, que nella entrão, devem cooperar para algum destes fins. Daqui se infere, que, todas as vezes que isto se não verificar na Periphrase, esse modo de elocução será vicioso, isto é, será uma verdadeira Perissologia: (Vid. Cap. XVI. §. 5.) §. 3. Exemplo de Periphrases por necessidade, para encobrir ideas obscenas, ou sequer deshonestas: (Lusiadas Canto II. Est. 37.) |