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ou séquer inutil: Daqui a razão por que Quín tiliano diz, que á Eloquencia deo origem a Natureza, e á Rhetorica a observação, initium ergo dicendi dedit natura, initium artis observalio. (Lib. III. Cap. 2.).

§. 2. Até o estabelecimento das republicas na Grecia não encontrâmos vestigio algum seguro da Rhetorica, como arte de persuadir; porêm estas lhe abrirão um campo tal, como nunca antes tivera, nem depois jamais teve. Nos tempos anteriores aos, de que a Historia nos fala, havia sim Eloquencia de certo genero, mas era antes poetica, do que prosaica; por isso que o estado inculto dos homens, agitados de paixões sem freio, e surprehendidos por acontecimentos novos para elles, fazia acordar o arrebatamento e o enthusiasmo, verdadeiros pais da Poesia. Alem de que as primeiras monarchias, taes como a dos Assyrios e dos Egypcios, fôrão despoticas; nellas os homens estavão costumados a uma submissão cega, e érão arrastados antes pela obediencia, do que pela persuasão, ou pela convicção.

§. 3. De todas as republicas Gregas Athenas foi sem comparação a mais celebre na Elòquencia, assim como nas mais Disciplinas, e Artes: os Athenienses erão ingenhosos, vivos, e penetrantes; práticos em os negocios, e amestrados com as repentinas e frequentes revoluções, que acontecêrão no seu governo. Daqui se deixa ver, que em tal estado de cousas a Eloquencia devia ser muito

estudada, por ser o meio mais seguro de alcan çar autoridade, ou sequer influencia a sua Eloquencia porêm não era brilhante e pomposa, era sim aquella que a experiencia tis nha mostrado ser a mais efficaz para interesconvencer, persuadir aos ouvintes.

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§. 4. Em huma nação tão illustrada, penetrante, e que attendia sobremaneira a tudo, quanto era elegante nas differentes Artes, o juizo do publico forçosamente havia de ser muito apurado; e chegou effectivamente a aperfeiçoar-se de sorte, que o gôsto Attico, e o modo de falar Attico passárão em proverbio. Cabeças de partido ambiciosos e oradores corrompidos deslumbrárão por ve⚫ zes o pôvo com a sua eloquencia pomposa; porêm, quando algum interesse importante attrahia a sua attenção, quando algum grande perigo os despertava, pode dizer-se em geral que distinguião com exacção a Eloquencia genuina da que era meramente espu

ria.

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§. 5. Pisistrato, contemporaneo de Solon, o mesmo que transtornou o seu plano de governo, foi, segundo Plutarcho, o primeiro, que se distinguio entre os Athenienses por sua applicação ás Artes, que regulão o exercicio da Eloquencia. A Historia não faz menção dos Oradores, que florecêrão entre este tempo e a guerra do Peloponeso. §. 6. Periclês, que morreo no principio desta guerra, foi propriamente o primeiro, que elevou a Eloquencia ao seu ponto de B

perfeição, do qual, pode dizer-se, não passou depois : governou os Athenienses por espaço de quarenta annos com poder absoluto; e os historiadores attribuem a sua influencia não tanto aos seus talentos politicos, como á sua eloquencia, a qual foi tão vehemente e energica, que levava após si quanto se lhe offerecia deante, e o fêz triumphar dos affe ctos e das paixões do pôvo foi daqui que The proveio o appellido de Olympico, que é o mesmo que dizer, que, similhante a Jupiter, trovejava, quando falava. - Suidas refere, que Periclês foi o primeiro dos Athenienses, que compôz um discurso para o publico.

§. 7. Depois de Periclês, e durante a guerra do Peloponeso, vivêrão Cleon, Alci biades, Cricias e Teramenes, eminentes cidadãos de Athenas, e apontados por sua élo quencia. Estes não tiverão outra eschola, se não a utilissima e muito instructiva dos negocios e dos debates publicos, nos quaes se forma o homem pelo trato com os seus similhantes, e onde os negocios civis e politicos ventilados pela Eloquencia põem em movi、 mento todas as faculdades da alma. O seu modo de dizer, segundo nos consta de Cicero, foi energico, vehemente, mas apanhado ao ponto de chegar a ser algum tanto ob

scuro.

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§. 8. Augmentando-se depois de Periclês a importancia do poder da Eloquencia, dêo isto origem a uma nova classe de homens,

antes desconhecidos, denominados rhetoricos, e algumas vezes sophistas, que apparecêrão em grande numero durante a guerra do Peloponeso taes fôrão Protágoras, Pródicas, Trasimo e Gorgias de Leontium, que sobresahio entre todos. Não contentes estes rhetoricos com darem aos seus discipulos regras geraes sôbre a Eloquencia, professavão ao mesmo tempo a arte de fazer toda e qualquer especie de discursos, e de falar pro e contra sobre qualquer materia. Ora ja se deixa ver, que nas mãos de homens taes a Eloquencia havia de descahir daquelle tom magestoso, que até então havia sustentado, e vir a parar em um emprego subtil e sophis tico; donde podemos reputal-os pelos primeiros corruptores da verdadeira Eloquencia.

A estes se oppôz o grande Sócrates, rebatendo os seus discursos sophisticos com arrazoados profundos, posto que singelos; e desviando a attenção do abuso da Razão e da Eloquencia para a linguagem natural, e para as idêas sãas e proveitosas: a substancia destes arrazoados de Sócrates foi-nos conservada pelo seu discipulo Platão nos dous Dialogos intitulados Gorgias e Phedro, que são igualmente os Tratados mais antigos, que temos sobre Rhetorica.

§. 9. No tempo deste ultimo philosopho florecêo Isócrates, cujos escriptos ainda existem foi professôr de Rhetorica, mas nunca se envolveo em negocios publicos, nem defendeo pleito algum; por isso as suas ora

ções são boas somente para ostentação, co mo diz Cicero. Parece que a grande reputação de Isócrates fôra quem moveo Aristoteles a escrever as suas Instituições sobre Rhetorica, primeira obra methodica sôbre esta Disciplina, que nos transmittio a antiguidade o intento, com que a escrevêo, dizem, foi chamar a attenção dos oradores an tes para convencerem, e para persuadirem a seus ouvintes, do que para lisongear-lhes os ouvidos. Deste mesmo tempo são tam→ bem Iseo, e Lisias, dos quaes existem alguns Discursos. A eloquencia de Lisias foi pura, athica, singela e sem affectação; falta porêm de vigor e fria em algumas composições. Isêo é apenas conhecido por ter sido mestre do grande Demóstenes, em quem a Eloquencia brilhou com lustre muito maior, do que em todos, quantos depois de Periclês possuirão o nome de Oradores.

§. 10. As circunstancias da vida de Demóstenes são muito conhecidas : o desejo, que manifestou de sobresahir na Eloquencia, o pouco fructo de suas primeiras tentativas sua constancia infatigavel em vencer todos os obstaculos pessoaes, o encerrar-se em uma caverna para estudar sem distracção, o ir declamar ás praias do mar, para afazer-se ao murmurio das assembleas tumultuosas, mettendo na bôcca umas pedrinhas, a fim de corrigir a sua pronunciação defeituosa, e pendurando de um dos hombros uma espada, para reformar um vicio, que havia contrahi

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