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Finalmente que na Peroração, maior mente quando nella houverem de ser excita dos Affectos pathéticos, o estilo predominan te deve ser o Sublime e Robusto de Quintiliano; ou o Vehemente, revestido o mais possivel do estilo Natural do Rhetorico moderno.

§. 19. Importa muito porêm advertir, que, sem embargo de serem estas as especies de Estilo, que, parece, devem caracterizar cada uma das quatro partes, que entrão na composição de um Discurso Oratorio regular; com tudo é fóra de toda a contestação, que uma só é a especie de Estilo, que convêm predomine na totalidade de qualquer Composição litteraria, Estilo o qual deve todavia diversificar, conforme a natureza geral do assumpto, que nella se tratar.

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ARTIGO II.

Regras geraes do Estilo.

1. As regras, que devem ser observadas, para adquirir um bom Estilo, podem reduzir-se ás seis seguintes: 1. O assumpto que nos proposermos a tratar de viva voz, ou por escripto, deve ser meditado por tanto tempo,' quanto seja necessario, para se formarem ideas claras do que pretendemos manifestar por palavras; representando-o depois á imaginação de maneira, que a façamos bem interessada nelle Pois só então é que

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sentiremos acudirem-nos per si mesmas as expressões convenientes; na certeza de que as melhores, falando em geral, são as que o estudo da materia suggére, e não as que nos vemos obrigados a buscar com trabalho.

§. 2. Regra segunda : Para adquirir um bom Estilo, faz-se indispensavel o frequente exercicio de composição; visto que, por maior numero de regras theoricas, que se aprendão sôbre o Estilo, se faltar o exercicio, e o habito de compôr, nunca jamais se poderá tirar dellas fructo algum. Importa porêm advertir, que nem toda a especie de composição serve para formar o Estilo: é ne cessario começar a escrever lentamente, e com grande cuidado, na certeza de que a facilidade, e a promptidão serão o fructo da longa pratica pelo contrario, quem compozer as mais das vezes com préssa, e com negligencia, deve estar certo, de que o Estilo será sempre máo, e que até lhe será mais custoso depois o desaprender este Estilo vicioso, do que se nunca tivesse feito composição alguma. Todavia não deve haver excesso na attenção, que dermos ás palavras Pelo que, sem retardarmos o curso dos pensamentos, e sem deixarmos esfriar a imaginação, demorando-nos em todos os vocabulos, de que nos formos servindo, reservemos a correcção da obra para quando houvermos de fazer nella um exame mais severo; na certeza de que, se é util a pratica da composição, não o é menos o trabalho da correcção.

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8. 3. Regra terceira: Convêm, que nos familiarizemos com o Estilo dos melhores autores, tanto para á vista delles formarmos o nosso gosto, como para adquirirmos grande copia de expressões sobre todos os assumptos, e para irmos ao mesmo tempo estudando praticamente os differentes Estilos, Advirta-se, que para isto não ba talvez exercicio mais util, do que o de traduzir algumas das melhores passagens dos autores da nossa propria Lingua em vocabulos da mesma Lingua, que nos sejão familiares: Reduz-se a pratica deste methodo a ler attentamente duas ou mais vezes uma passagem de algum autor escolhido, até chegar a retêr de memoria todos os seus pensamentos; pôr depois o livro de parte, e escrever essa passagem o melhor, que for possivel feito isto tomemos na mão outra vez o livro, façamos comparação do nosso Estilo com o do autor; e o resultado della será o conhecermos os nossos proprios defeitos, o aprendermos a corrigil-os, e o descobrir entre mui tos modos de enunciar o mesmo pensamento aquelle, que deve merecer-nos a preferencia.

§. 4. Regra quarta : Convêin, que nos abstenhamos da servil imitação de todo e qualquer autor, por melhor que elle seja; imitação sempre damnosa, porque agrilhoa o genio, e dá ao Estilo certo ar de constrangimento Alêm de que todos os que imilão muito servilmente o Estilo de um autor, expoem-se a copiar-lhe assim as belleza, como

os defeitos; e quem não tiver bastante firmed za para seguir até certo ponto os impulsos do seu genio, nunca chegará nem a falar, nem a escrever bem. Fujamos especial

mente de adoptar o fraseado particular de um autor, e de transcrever delle passagens inteiras; pois é muito melhor apresentar bellezas mediocres, que sejão propriamente nossas, do que adornar-nos com atavios emprestados, que tarde, ou cedo farão patente a nossa pobreza.

§. 5. Regra quinta Trabalhemos constantemente em accommodar o nosso Estilo assim ao assumpto, como á capacidade dos leitores, maiormente quando o applicarmos a um discurso publico; porque nunca poderá haver belleza, nem, geralmente falando, Eloquencia na composição, uma vez que esta se não conforme com as circunstancias tanto do assumpto, como das pessoas, a quem é dirigida, falta esta não tanto do Estilo, como do bom senso. Pelo que,

todas as vezes que nos proposermos a falar, ou a escrever, comecemos por formar ideas claras do fim, a que nos dirigimos; tenhamolto sempre em vista, e com elle concordemos o nosso modo de dizer: pois do contrario resultará que as creanças, e os nescios talvez nos admirarão; porêm as pessoas de juizo infallivelmente zombarão de nós, e do nosso Estilo.

§. 6. Regra sexta: Manda esta regra, que em todo o caso, e em todas as circuns

tancias, nunca a attenção, que dermos ao Estilo, seja tal, que por ella cheguemos a distrahir-nos da que é devida aos pensamentos; tendo sempre bem viva na memoria a máxima de Quintiliano (Lib. VIII. Prooem. Curam verborum, rerum volo esse sollicitu dinem: « Quero, que haja cuidado na escclha das palavras; porêm na dos pensamen tos desvélo ": Por quanto é justamente ci gno de desprezo aquelle autor, que, só attento ás palavras, não cura de outra cousa; e que, correndo após os vãos ornatos, lhes não prefere o agradar ás pessoas, que sabem dar apreço a bellezas solidas, e verdadeiras.

CAPITULO XXIV.

DO DECORO ORATORIO.

§. 1. Decoro em Eloquencia é a conve niencia, ou a exacta conformidade da expressão em geral com os pensamentos, e de ambas estas cousas com as pessoas, que no discurso intervêm, com a materia, que no mesmo se trata, e com as circunstancias do tempo, e do logar. O Decoro ou a Decencia, que o Orador deve guardar na expressão dos pensamentos, enunciando-os por meio de uma Elocução accommodada aos mesmos, será exactamente guardado, uma vez que elle se regule pelos dictames lançados em diffe

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