Pagina-afbeeldingen
PDF
ePub

rentes Capitulos deste Epitome, particularmente pelos que ficão dados no que pertence ao Estilo. As pessoas, a que o Orador deve attender, para guardar-lhes o devido Decoro, são tres, a saber: a do proprio Orador, as dos seus ouvintes, e aquellas ácerca das quaes pode versar o seu discurso. As regras, que a este respeito, assim como ácerca do logar, e do tempo, lhe cumpre observar, são as seguintes.

§. 2. O Orador não deve, em regra geral, occupar uma parte do seu discurso com o louvor das proprias virtudes, ou talentos Pois aquelle, que proceder em contrario, maiormente louvando-se com excesso, dará mostras de querer abater, e desprezar os outros; e tirará dahi em resultado, dos seus inferiores a inveja, dos seus superiores a mófa, e de todos os bons a censura. ————— Exceptuão-se todavia os casos, em que o mesmo Orador, por se ver na precisão de justificar-se, julgar para isso indispensavel o tocar no seu theôr de vida: porêm, ainda neste caso, a fim de que o seu proprio louvor seja o menos indecente, deverá fazer que recáhia o, que nelle houver de odioso, sobre a pessoa ou pessoas, que o obrigárão a tocar neste ponto delicado: ficando certo, de que não ha cousa mais capaz de grangear-lhe a benevolencia dos seus ouvintes, do que um natural pêjo e modestia; sôbre tudo se estas qualidades brilharem á luz de um grande merecimento, o qual, avultando-as mais e

mais, lhe grangeará uma veneração universal, §. 3. Deve o Orador, tambem em regra geral, fugir de mostrar no seu modo de dizer un tom de autoridade decisivo, o qual incul que presumpção, e superioridade; por não haver cousa alguma, que mais se opponha á modestia e decencia, que convêm appareça em todas suas maneiras. Com tudo um tom similhante ainda pode ter algumas vezes des culpa na idade provecta, e no merecimento reconhecido, e, geralmente falando, na autoridade do Orador; com tanto que sempre o tempere com alguma prudente modificação. 8. 4. Evite em todo caso gestos descompostos, ou sequér desenvoltos, e uma vož descompassada na declamação, o que é reprehensivel sempre, e tanto mais, quanto for mais provecta a idade, e maior a dignidade e a representação do Orador alem de que este modo de falar, e de gesticular des comedido dá occasião a desconfiar-se, que recorre talvez o Orador a taes meios, porque se sente desacompanhado da razão, e da jus tiça. Pelo contrario esteja certo o Orador, de que uma voz forte, mas dôce; variada, porêm igual; imperiosa, e simultaneamente modesta, será um soccôrro maravilhoso para ganhar a persuasão.

§. 5. Ainda naquellas occasiões, e assum ptos, em que o Orador não é responsavel pelas opiniões que manifesta, esmére-se em observar todas as decencias devidas ao seu auditorio; porque assim o mandão as leis da

urbanidade, maiormente quando esse auditorio for composto de pessoas, que por sua educação civil, e litteraria mereção circumspecção e respeito.

§. 6. Consiste mais que tudo a observancia do Decoro, relativamente aos ouvintes, em não se apresentar o Orador a falar em publico sem grande preparação, isto é, sem o indispensavel estudo do assumpto; a fim de lh'o offerecer em um discurso nervoso, eloquente, e polido: advertindo, que os maiores Oradores da antiguidade, Demósthenes, e Cicero nunca se despensárão de compor com estudo e trabalho summo as suas orações; e ainda assim mesmo consta de Demósthenes, que, ao romper o silencio, quasi que se lhe tolhia a voz, e mudava de côr, respeitando o numeroso concurso, que vinha escutal-o; e o proprio Cicero testifica de si, que tremia todo, ao olhar para o auditorio, reverenciando-o como um juiz severo, de cuja boca havia de ouvir a sentença do seu merecimento.

§. 7. Quando tiver de falar ácerca de alguma pessoa, ou seja em seu favor, ou contra, será sempre muito conforme ao Decoro, prescindindo do que é devido á nobreza, autoridade, e jerarchia dessa pessoa, que em todo o discurso respirem os sentimentos de humanidade, de doçura, de moderação, e de benevolencia; sem que todavia lhe estejão mal os sentimentos contrarios, quando as circunstancias os pedirem, taes como o

odio dos maos, a vingança do crime, a des affronta da innocencia offendida, &c.

[ocr errors]

§. 8. Pelo que respeita á natureza do assumpto, e ás circunstancias do logar, e do tempo, convêm que o Orador, para guardar as devidas decencias, escolha os pensamen➡ tos, e o estilo, que lhes forem mais accommodados; não empregando para um assumpto sério os mesmos, que para outro jovial; para um assumpto nobre, e interessante, os mesmos, que para outro trivial, e de pequena monta; ou vice versa, &c. mesmo, attendendo ao tempo, e ao logar; pois differente modo de dizer, differente gesticulação, e voz pedem os discursos recitados em occasião de luto, e de calamidade`, do que em tempo de prazer, e de alegria; differente em um logar publico, e respeitavel, qual aquelle, em que se acha reunida a Soberania Nacional, e mais que tudo nos logares dedicados para dar culto ao ENTE SUPREMO, do que em outros de inferior graduação, e dignidade. Advertindo a final, que, sôbre o que mais convenha ao Decoro, considerado debaixo destes pontos de vista, a bem advertida Razão, e a apurada educação subministrarão ao Orador mais ajustadas re gras, do que todas quantas poderião aqui ser largamente expendidas.

[ocr errors]
[ocr errors]

CAPITULO XXV.

DA PRONUNCIAÇÃO, e gestos, ou ACÇÃO, COMO

REQUISITOS ESSENCIALISSIMOS PARA O BOM

DESEMPENHO DA ELOQUENCIA,

§. 1. Nenhuma cousa é tão contraria aos fins da Eloquencia, como a viciosa Pronunciação: Para esta merecer o epitheto de viciosa, basta, que não seja, como diz Quintiliano, regulada, clara, sonora e corteză; pois uma pronunciação, que não é regulada e facil, cansa logo o Orador; e uma pronunciação injucunda, rustica e extravagante enfastia o auditorio. A Pronunciação

do Orador não deve ser á maneira de um rio, quando corre caudaloso, que leva tudo comsigo; mas como uma chuva, que serenamente banha, e se introduz na terra; isto é, uma Pronunciação acompanhada de força e de intimativa, nunca porêm de furia e de violencia deve sim o Orador mostrar sempre, que ha nelle fôgo; porque, se o não mostrar, ha-lhe de faltar o auditorio con a attenção: mas o fôgo, em que se accendêr, seja brando e sereno, na certeza de que esta serenidade sempre viva e animada é o mais bello requisito, e ao mesmo tempo a maior difficuldade da Pronunciação oratoria.

§. 2. Todavia convêin advertir , que,

« VorigeDoorgaan »