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rêm de mais a mais facilidade de decorar, e de reter o, que nesse curto intervallo de tempo tem meditado, assim pelo que respeita aos pensamentos e á sua disposição, como ás palavras mais accommodadas para os ex, primir E por tudo isto que a cultura da É Memoria vem a ser de importancia summa para todo aquelle, que aspira a desempe nhar com felicidade e applauso a profissão de Orador.

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4.

§. 3. Um dos modos de enriquecêr a Memoria de vocabulos e de frases, dignas de figurar na Eloquencia, é o trato e a conversação com pessoas polidas em estudos, e que cuidão muito em não servir-se de palavra, ou de modo de de falar estranhado pelo uso. Outro tanto resultará da lição de bons livros; visto que estes não apresentão á Memoria senão vocabulos e frases puras : Ja se sabe, que nisto deve haver certa limitação; e vem a ser, que os livros se hão de ler com cautela, porque os seus autores viyêrão em seculos diversos, e cada seculo quasi que tem a sua Lingua. Por tanto, se o Orador seguir a estes mestres sem discernimento e reflexão, apparecerá com um estilo extravagante, e falando uma linguagem, com que dará largo assumpto á justa censura do auditorio.

§. 4. Ultimamente, posto que tenhamos recommendado ao Orador a lição de bons livres, convêm advertir-lhe, que não ha de ser com o fim de roubar delles as suas me

lhores frases, os seus mais finos pensamentos, e a delicada variedade dos seus modos de dizer Pelo contrario só merecerá justamente o nome de Orador, o que (como diz Seneca), imitar as abêlhas, as quaes, colhendo o suco de flores diversas, com elle compõem o seu mel, licôr simples, e que nada sabe á sua origem (*).

CAPITULO XXVII.

REGRAS QUE DEVEM SER PARTICULARMENTE OBSERVADAS NOS DISCURSOS DOS TRES GENEROS DE ELOQUENCIA DE APPARATO.

Indocti discant, et ament meminisse periti :
Indoutos, aprendei; com gosto, ó Sabios,
As lições recordai por vós sabidas.

§. 1. As regras, que até aqui ficão dadas neste Epitome, sem embargo de terem applicação pela maior parte a toda e qualquer Composição do dominio da Eloquencia, tomada na sua accepção mais ampla, pertencem mais especialmente aos tres Generos de Eloquencia em commum, considerada de

(*) A doutrina destes dous ultimos Capitulos é qua-si fielmente copiada do excellente livro, posto que mui pouco conhecido, intitulado Maximas sôbre a Arle Oratoria, extrahidas das Doutrinas dos antigos Mestrés, e illustradas por Candido Lusitano-Lisboa 1759.

baixo da sua accepção mais restricta, a saber, das Assembleas populares, do Fóro, e do Pulpito, conforme a divisão de alguns rhetoricos modernos, por nós seguida por ser a mais apropriada ao estado presente da Elo, quencia de apparato : Com tudo as mesmas regras ajustão-se igualmente á divisão feita por Quintiliano, em discursos dos Generos Laudativo, Deliberativo, e Judicial.

§. 2. Agora neste Capitulo trataremos das regras, que são privativas de cada um daquelles tres primeiros generos, indicando'o, que é proprio de cada um delles, qual seja o seu espirito, o seu caracter, e o seu estilo particular; visto que os discursos pertencentes a cada um dos mesmos tres Generos tem certas cousas, que lhes são essenciaes, e das quaes muito importa o adquirir ideas exactas, que possão bem dirigir-nos na applicação das regras geraes; e por isso que o conhecimento preciso do caracter distinctivo de um discurso publico, qualquer que elle seja, é a verdadeira base do que se denomina gosto puro relativamente aos discursos desse Genero.

SECÇÃO I.

ELOQUENCIA DAS ASSEMBLE AS POPULARES.

§. 1. Começaremos pelo Genero de Eloquencia, que mais luzes pode derramar sobre os outros, isto é, pelo das Assembleas populares.

Posto que o theatro mais au

gusto deste Genero de Eloquencia seja indubitavelmente aquelle, no meio do qual cada uma das Nações, regidas por um systema representativo, ventila em grande os nego cios publicos do Estado; com tudo é igualmente fóra de duvida, que o mesmo Genero de Eloquencia pode ser empregado diante de assembleas menos apparatosas, taes são todas aquellas, onde existe representada uma parte do poder Nacional, ou onde qualquer numero de homens se reune para deliberarem sobre questões differentes, sejão politi cas, económicas, philanthropicas, litterarias, &c.

§. 2. O fim deste Genero de Eloquencia deve ser sempre a persuasão; sendo por isso indispensavel, que se offereça á deliberação algum assumpto, ou que tenha sido enunciada alguma proposta, pelo ordinario rela tiva a objectos connexos com o bem publico, a qual o Orador se esforce por persuadir aos, que o escutão: Mas como, todas as vezes que se trata de persnadir, é forçoso o começar por convencêr, falando directamente ao entendimento; por isso, qualquer que seja a graduação social dos individuos, que compõem algum destes auditorios, nunca deveremos julgar, que uma linguagem pomposa, mas destituida de sãas ideas, e de raciocinio, possa fazer-lhes a devida impressão, ou grangear sensata reputação ao Orador: verdade esta, que sobe de ponto, quando uma tal assemblea é composta de homens de

cultivada educação, e de aperfeiçoada intelligencia. Segue-se daqui, que ao Orador das Assembleas populares em geral cumpre o ser sempre muito circumspecto, não tratando nunca com leveza os seus ouvintes.

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REGRA I.

§. 3. Como o fundamento de todo o Genero de Eloquencia seja o bom senso, e a solidez dos pensamentos; a primeira regra, que se offerece a dar relativamente á eloquencia das Assembleas populares, é que o Örador trabalhe por fazer-se senhor do ast sumpto, que pretende tratar; por adquirir todos os conhecimentos, que com elle podem ter connexão; e por munir-se das provas proprias a produzirem a convicção: Por outras palavras, deve o Orador fazer consistir a principal preparação, e como o fundamento de tudo o mais, na meditação profunda do seu assumpto; porque, se praticar o contrario, confiando-se na sua facilidade, contrahirá infallivelmente o habito de falar por um modo frouxo, e sem ordem. -Advertiremos porêm, que a meditação, e preparação mais util neste caso é a, que vérsa sôbre todo o assumpto; pois, pelo que respeita a particularidades, principalmente ás palavras, ás frases, e ainda aos ornatos do discurso, tudo isto se offerecerá depois como espontaneamente ao Orador, não devendo occupar-se de taes cousas senão, como objectos de um estudo secundario.

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