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da Eloquencia, que são o convencér, o persua dir, e o deleitar ou recrear, deve infallivelmente esforçar-se por descobrir os pensamentos mais adequados para o fim proposto; esta é a Invenção arranjal-os depois na melhor ordem, tendo sempre em vista o mesmo fim; esta é a Disposição: fazer escolha das palavras, e da sua collocação na frase pelo modo mais accommodado para exprimir os seus pensamentos; esta é a Elocução: conserval-as á sua disposição de maneira, que dellas se recorde inteiramente, como as preparou, quando houver de as apresentar aos seus ouvintes; esta é a Memoria: pronuncial-as ou declamal-as bem, para que preenchão o effeito desejado; esta é a Pronunciação finalmente acompanhar a sua declamação dos gestos convenientes, isto é, que estejão em harmonia com a natureza do discurso em geral, e de cada uma das suas partes, e com as circunstancias das pessoas, do logar, do tempo &c. ; e esta é a Acção.

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S. 2. As partes da Rhetorica, ou aquellas, para que esta arte pode subministrar alguns preceitos, que dirijão, e aperfeiçôem a Eloquencia, são a Invenção, Disposição, e mais particularmente a Elocução; por quanto para a Memoria, que de mais a mais é commua a todas as Disciplinas, a regra unica, subministrada pela experiencia, é o exercicio e quanto á Pronunciação, e Acção, estas mais se aprendem e melhorão com a observação e estudo dos bons modelos, do que por via dos preceitos theoricos.

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8. 3. Importa todavia advertir, que entre todas as regras subministradas pela Rhetorica, para dirigir, e aperfeiçoar o talento natural no uso da Eloquencia, mui poucas ha que sejão universaes e invariaveis; mas que entre estas as principaes são, a observancia do Decóro, e do Util: mais claro, o Orador deve sempre falar o que é util, e o que é decoroso, ou decente. Quanto á totalidade das regras da Rhetorica; para serem empregadas no discurso oratorio, depende isso das circunstancias, que o bom senso deve conhecer, e avaliar.

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ASSUMPTOS DA ELOQUENCIA.

§. 1. É objecto, e pode servir de assumpto á Eloquencia tudo aquillo, que serve para preencher os seus tres fins, isto é, tudo quanto pode deleitar, convencér, e persuadir os ouvintes, ou os leitores; em uma palavra, tudo aquillo sobre que pode tecer-se um discurso. Mas como nem tudo, quanto pode recrear, e servir para a convicção, e para a persuasão, é decente que se offereça, como assumpto de um discurso, a quem escuta, ou lê; por isso o Orador só deverá tomar para materia de sua Eloquencia, o que for justo, ou honesto, ou util, ou decorosamente deleitavel.

CAPITULO V.

MEIOS, QUE A ELOQUENCIA EMPREGA PARA CHEGAR AOS SEUS FINS.

soas,

8. 1. Dous são os meios universalmente empregados pela Eloquencia para chegar aos fins, que se propõe, a saber: Pensamentos, alma, para assim dizer, de todo o discurso oratorio; e Palavras, acompanhadas dos adequados tons e gestos, as quaes são a forma externa " ou o corpo, que reveste os Pensamentos, e por via do qual elles se fazem sensiveis, e capazes de ser percebidos pelas pesa quem, ou perante quem falâmos. §. 2. Os meios porêm, de que faz uso mais particularmente a Eloquencia, e de que o Orador deve lançar mão; conforme o fim. a que se propõe, e as circunstancias dos seus ouvintes, empregando-os ja todos, ja um, ja outro, são tres: Instrucção, Moção, e Recreio. Esta divisão deriva-se dos tres fins da Eloquencia; assim como dos tres estados, ou circunstancias, em que podem_achar-se os espiritos dos ouvintes em relação ao assumpto do discurso, de que o Orador vai tratar, que são, estado de ignorancia, estado de paixão, e estado de indifferença ou de inercia pois é claro, que o unico meio para tirar o ouvinte do estado de ignorancia, é

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sem duvida o ensinal-o pela via da Instruc ção, convencendo-o; para o arrancar da paixão, que o domina, é excitar-lhe outra paixão em contrario, a qual lhe môva o cora ção, persuadindo-o; para o tirar da indifferença ou inercia, é excital-o, ou, para assim dizer, despertal-o do somno da indiffe rença com o prazer, deleitando-o. Daqui se deixa ver, que por cada um destes meios se dirige o Orador a differentes faculdades ou acções da alma dos seus ouvintes, a saber com a Instrucção fala ao Entendimento, com a Moção á Vontade, e com o Recreio á Ima ginação.

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CAPITULO VI.

QUESTÕES CONTROVERTIDAS EM ELOQUENCIA.

§. 1. Todas as questões, que podem ser tratadas em Eloquencia, reduzem-se a duas classes, designada cada uma dellas por nomes diversos, a saber: Questões universaes indeterminadas, ou théses; e Questões particulares, determinadas, causas, ou hypótheses as primeiras são as, que podem tratar-se absolutamente, isto é, abstraindo de todas e quaesquer circunstancias; as segundas são limitadas por circunstancias de pessoas, de logares, de tempos, &c. Importa porêm advertir, que a questão indeterminada

é sempre mais extensa, do que a determina da, como universal que é em comparação da segunda, ou da particular: consequentemente fica sendo manifesto, que toda a questão particular tem referencia, e faz avivar a idéa da questão universal, de que é parte; é por isso que, tendo de discutir-se oratoriamente alguma questão particular, ou hypothese, convêm examinar primeiro, qual seja a questão universal ou thése, de que aquella é parte; e estabelecida que seja a verdade da these, progredir depois a estabelecer a verdade da hypothese.

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CAPITULO VII.

E A

QUE SEJA ESTADO EM ELOQUENCIA,
QUANTAS ESPECIES PODEM SER REDUZIDOS

OS ESTADOS.

§. 1. Tem em Eloquencia o nome de Estado aquelle ponto, que constitue o assumpto principal do discurso oratorio isto é, o ponto, que, prescindindo de todos os mais accessorios, que se ventilão em um discurso qualquer, se discutiria em todo o caso : ou (definição de Quintiliano) -o ponto, que o orador se propõe principalmente a tratar, e o ouvinte principalmente a escutar. O ponto ou pontos, que são ventilados nas questões accessorias ou accidentaes de

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