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qualquer discurso oratorio, chamão-se Estado ou Estados de questão: o ponto fundamental denomina-se Estado do discurso.

§. 2. Os Estados de um discurso oratorio, conforme a generalidade dos Rhetoricos, são tres: Estado de Conjectura, Estado de Definição, e Estado de Qualidade; por quanto o ponto da questão principal pode versar ja sôbre a existencia, ou possibilidade de um objecto, e eis o Estado de Conjectura; ja sôbre o nome, que deve dar-se ao mesmo objecto, e eis o Estado de Definição ; ja sôbre as qualidades moraes, que o caracterisão, e é este o Estado de Qualidade. Ora é manifesto, que ácerca de um objecto nada mais do que isto pode offerecer-se de questionavel em um discurso oratorio.

CAPITULO VIII.

GRA'OS E GENEROS DIVERSOS DA ELOQUENCIA.

§. 1. Dos tres meios, empregados particularmente pela Eloquencia em attenção a algum dos fins, a que a mesma se propõe, (Cap. V. §. 2.), se deduz, que tres são tambem os gráos da mesma Eloquencia.

Destes o primeiro e mais inferior é o que tem por objecto o agradar para cau sar deleite aos ouvintes ou leitores: tal é em geral a Eloquencia dos panegyricos, das

Orações inauguraes, dos discursos dirigidos a algumas pessoas para as cumprimentar, e d'outras orações da mesma especie, a das cartas ou conversações de mera civilidade e recreio &c.

§. 2. O segundo gráo de Eloquencia tem logar, quando o Orador ajunta ao desejo de agradar o de instruir para convencer : tal é a Eloquencia do Fôro, bem assim a que é propria da Historia, de um Tratado philo sophico, litterario &c.

8. 3. O terceiro e mais elevado gráo da Eloquencia é o que, não se contentando só de convencêr, quer de mais a mais interes sar deleitando, e mover para persuadir: a este gráo de Eloquencia abrem um campo vasto os debates das Assembleas politicas ou populares em geral, denominada Eloquencia da Tribuna.

§. 4. É de advertir, que a Eloquencia ecclesiastica ou do Pulpito pode pertencer a algum dos tres gráos da Eloquencia em geral, que ficão apontados: por quanto nos panegyricos propõe-se ella particularmente a deleitar, sem que todavia deixe de ter em vista o convencêr e persuadir : nos Sermões de mysterio o convencer : nos Sermões de moral o persuadir.

§. 5. Quanto aos generos de Eloquencia de ostentação ou de apparato, ja nella se trate de théses, ja de hypotheses, estes podem tambem reduzir-se a tres, que são: Genero de Eloquencia proprio das Assembleas

populares, quer sejão politicas, quer litterarias, ao qual se dá a denominação de Eloquencia da Tribuna : Genero de Eloquencia das Assembléas civis ou do Foro : Genero de Eloquencia das Assembleas ecclesiasticas ou do Pulpito; cada um dos quaes generos tem seu caracter particular, de que adiante extensamente se tratará.

§. 6. Segundo Quintiliano, seguido cegamente pelo vulgo dos rhetoricos, a tres se reduzem tambem os generos de hypotheses, que em Eloquencia se podem tratar, e são denominados, Genero Demonstrativo, Laudativo, ou Theorico; Genero Deliberativo, ou Suasorio; Genero Judicial, ou Forense: Destes tres Generos de hypotheses o primeiro, conforme a doutrina do mesmo Autor serve para louvar, ou vituperar; o segundo para suadir, ou dissuadir; e o terceiro serve para intentar em Juizo huma Acção, ou para della dar a defensa. Esta segunda divisão porêm é defeituosa : 1.° por não comprehender todas as questões, que podem ser tratadas em Eloquencia: 2. por predicar exclusivamente de um dos generos (o Delibe rativo) a suasão, e a dissuasão, que aliás são commuas a todos: 3.° porque restringe o assumpto do Genero Demonstrativo ao simples louvor, ou vituperio por um modo de ostentação, o que é erro manifesto, &c.

CAPITULO IX.

PARTES DO DISCURSO ORATORIO REGULAR, E SUA DEDUCÇÃO.

§. 1. O discurso oratorio regular, perten cente a qualquer dos tres Generos de Eloquencia, consta de quatro partes mui diversas, que são designadas pelos nomes de Exordio, Narração, Confirmação, inclusa a Refutação, e Peroração ou Conclusão. Serve o

Exordio para dispor e preparar os ouvintes, a fim de que por todo o discurso escutem favoravelmente o Orador, de maneira que este possa colher o fructo, a que se propõe falando. Após elle deve seguir-se immediatamente a Narração, a qual é dedicada para inteirar os ouvintes da materia do discurso.

A Confirmação, que é a terceira parte na boa ordem, occupa-se em provar com razões apresentadas ao entendimento, dos que escutão, a doutrina enunciada na Narração; e em refutar, quando assim convenha, as objecções suscitadas, ou que podem suscitar-se ácerca do ponto ou pontos fundamentaes do discurso. Ultimamente a Peroração serve de remate ou de fecho a todo o discurso, empregando-se nella tudo o que se julgar a proposito, para que o assumpto ja desenvolvido fique mais firmemente impresso na me

moria dos ouvintes; e para que á vista dos motivos, que nesta ultima parte se ponderão, se lhes mova, e arrebate a vontade a quererem aquillo mesmo, de que o seu entendimento deve estar ja convencido pelas razões apresentadas na Confirmação.

§. 2. Segue-se da doutrina do §. antecedente, que todo o discurso regular não pode constar de mais de quatro partes, a que correspondem outros tantos pensamentos geraes, a saber : Pensamento, que sirva para preparar os animos dos ouvintes, primeira parte denominada Exordio Pensamento dedicado a informal-os sufficientemente do assumpto, segunda parte, ou Narração: Pensamento empregado em provar directa ou indirectamente a verdade, e a importancia do mesmo assumpto, terceira parte, ou Confirmação: Pensamento dirigido a radicar-lhes na memoria o que ficou dito nas partes antecedentes; e mais que tudo a remover-lhes da vontade todos os obstaculos, que poderião estorvar a practica, que se lhes inculca, ou, falando em geral, o fim a que o Orador se propoz, quarta parte denominada Peroração.

§. 3. Esta ordem que é a que deve seguir-se na pronunciação das partes de um discurso oratorio, não é a mesma, que convem presida á sua composição. O orador, que medita, ou compõe um discurso, depois de haver examinado, a que Genero de Eloquencia pertence o discurso, que vai fa

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