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pretender inflammal-os em excesso, os arrefecerá, e gelará subitamente.

CAPITULO XIV.

DA DISPOSIÇÃO ORATORIA EM PARTICULAR.

§. 1. Disposição Oratoria é a distribuição assim dos pensamentos em geral do discurso, como de cada uma das suas partes em especial, nos seus logares competentes, accommodada ao fim, que o Orador se tem proposto. A Disposição, que deve darse ás partes fundamentaes, ou aos quatro grandes pensamentos de um discurso oratorio regular, ja ficou ensinada no Cap. IX. §§. 1.° e 2.o : agora a que é respectiva em especial ás partes, nas quaes se subdivide cada um daquelles quatro grandes pensamentos, por exemplo, a Disposição das Provas, que tem o seu logar ordinario immediatamente depois da Narração, essa varía conforme o exige o interesse do assumpto; e a maneira de a fazer é suggerida antes pela prudencia do Orador, do que pelos dictames da Rhetorica.

§. 2. Sobre esta materia não deve o Orador attender a cousa alguma mais desveladamente do que á Disposição por Quintiliano denominada Economica, isto é, áquella, por meio da qual o numero, e a ordem das partes de um discurso sobre determinado assumpF

to, assim as mais graúdas, como as subdivi sões destas, se accommodão ás circunstancias particulares do logar, do tempo, das pessoas, &c.; ordem porêm, que só pode ser assentada á vista do assumpto depois de bem meditado. No em tanto o saber, quando se deve fazer Exordio, e quando deixar de o fazer, ou usar, em vez delle, da Insinuação em que casos se deverá fazer uma Narração seguida, em que casos repartida; quando convirá que ella comece do principio do acontecimento, quando do meio, ou do fim; e ainda quando ella se omittirá, substituindo-lhe uma simples Proposição, ou Partição quando é que na Confirmação o Orador começará pelos seus pontos, e quando pelos do adversario; quando principiará pelas provas mais fortes, quando pelas mais fracas quando em fim na Peroração, se deve fazer Recapitulação, quando Epilogo, &c... Quem não vê, que tudo isto depende das felizes disposições naturaes do Orador, accom panhadas de estudo profundo, e de aturada meditação; aliás as regras geraes, que po dem seguir-se a tal respeito, ja ficarão dadas nos Capitulos antecedentes.

CAPITULO XV.

O QUE SEJA ELOCUÇÃO ORATORIA, SUA
DIFFICULDADE, EXCELLENCIA,
E PERFEIÇÃO.

8. 1. Elocução ou Frase em linguagem de Eloquencia é a escolha de vocabulos, e sua collocação na oração, proprias a dar força e belleza aos pensamentos, para com ellas o Orador alcançar o fim, a que se propõe. Differença-se bem claramente da Elocução grammatical; por ser esta a simples enunciação de todos os conceitos do espirito, feita por meio de palavras.

§. 2. A Elocução é de todas as partes da Eloquencia a mais difficil; pois começa por depender essencialmente do perfeito conhecimento do idioma empregado pelo Orador, conhecimento difficillimo, maiormente quando esse idioma é tão rico em vocabulos, e tão variado em frases, como é o Portuguez. Accresce a isto, alêm de outras difficuldades, a dependencia, que tem a Elocução oratoria do perfeito conhecimento da linguagem das paixões, a qual só se aprende bem pela observação attenta e reflectida da natureza humana, quando, posta em acção por aquellas valentes molas, rompe em expressões suggeridas por ellas.

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8. 3. A excellencia da Elocução oratoria deduz-se claramente das razões seguintes: 1. É a Elocução oratoria, quem habilita o Orador para apresentar dignamente ao publico os seus pensamentos, sem o que todos os outros oratorios talentos, por eminentes que sejão, ficarião sendo inuteis: 2. É geralmente reconhecido o ser ella tão essencial á Eloquencia, que foi da Elocução que esta Disciplina derivou o seu nome :

3. E ella a que decide principalmente do mérito dos differentes Oradores, e a que marca a diversidade do seu modo de dizer, do qual pelo ordinario depende o bom, ou mao successo dos seus discursos, sendo, propriamen te falando, a unica que lhes é ensinada pela arte; pois tudo o mais em Eloquencia de pende do talento natural, com preferencia a todas as regras da mesma arte. Mas,

posto que a Elocução seja uma das partes mais importantes da Eloquencia, não se se- . gue que o Orador deva occupar-se todo nas palavras, desprezando os pensamentos; pelo contrario estes, como alma que são do discurso, devem merecer-lhe a maior attenção; sem que por isso deixe de prestar a devida ás palavras, as quaes são as imagens sensiveis, de que os pensamentos se revestem, para fazer-se conhecer dos ouvintes.

§. 4. Consiste a perfeição da Elocução na facilidade habitual de empregar no discurso uma linguagem natural, simples e expressiva; nunca porêm affectada, exquisi

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res.

ta é extravagante, o que só se adquire com á muita e bem digerida lição dos bons AutoPelo que, uma vez que o Orador chegue a alcançar que as suas palavras sejão puras e expressivas, ornadas e bem collocadas, nada mais deve appetecer; pois o cuidado excessivo, que empregar em buscar palavras antigas, exquisitas e exóticas, dará claramente a conhecer a sua arte, o que em todo caso é grande vicio.

CAPITULO XVI.

VIRTUDES, E VICIOS DA ELOCUÇÃO.

§. 1. As palavras podem considerar-se no discurso ou cada uma de per si separadamente, ou formando differentes aggregados, e estes com os nomes ja de orações ou incisos, ja de membros, ja de periodos. Será perfeita a Elocução, quando as palavras, consideradas uma a uma separadamente, forein puras, e claras; quando consideradas as palavras nas suas differentes reuniões, ellas forem correctas, e bem collocadas; quando consideradas as mesmas palavras ou reunidas, ou separadas, forem simultaneamen te ornadas: São portanto as virtudes da Elocução, pureza, correcção, clareza, ornato, e boa collocação.

§. 2. A Elocução será pura, quando as

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