Continuação das relações de Bocage com varios contemporaneos. Daniel. Saunier. - Antonio José Alvares. - Soyé. Padre Fernandes. Laborim. Henrique P. da Costa. Soares de Car Costa e Silva. Moura Leitão. Almeida. Maneschi. Ramos. Cordeiro. Arraes. Blancheville. Vianna. J. B. Gomes. José Daniel Rodrigues da Costa, official das portas da cidade em Belem para impedir a entrada do vinho sem guia, era por Bocage denominado Beleguim do Parnaso. Posto que inferior a alguns elogios que lhe faz o Jornal de Coimbra, não era, desprovido de merito; e entre os seus numerosos escriptos algo houvera deixado mais importante que o Almocreve das Petas, se educação, es VIII. 1 tudo, descanso e gosto o tivessem mais generosamente favorecido. Tinha José Daniel por uso andar com as algibeiras pejadas dos seus folhetos, offerecendo-os pelas ruas a quantas pessoas topava. Antes porém de os encaminhar para a imprensa, sujeitava-os á lima de Belchior Semmedo, o qual, com summa paciencia, lh'os castigava. Contra este pobre homem disparou Bocage muitos sonetos; entre outros, este, que dedicou ao machucho põetarrão: Das petas o almocreve é cousa tua, Cheira a teu nome o roubo da perua, A gente por Lisboa anda pasmada Est'outro, precedeu-o do titulo: A I. D. R. C., esbirro terrivel pela penna e cordel : « Não presta Coridon, não presta Elpino, « Albano falla só no Tejo ameno, « Trescala aos seiscentistas o Paulino: Roncava charlatão rolho e pequeno, « Quem tem vossas mercês, » lhe sahe d'um lado «Que seja para versos extremado? » « Quem! diz o tal: não fação lá caretas: « Um que de seus papeis anda pejado, Mas se a penna de Bocage o não poupava, menos ainda a sua lingua mordaz, que frequentemente em publico o ultrajava. (Diz Couto que, quando Bocage ouvia os cegos apregoar obras do José Daniel, lembrado do traductor das Georgicas, e escandalisado do homonymo, voltava-se para o cego e dizia-lhe : « O' bruto, ou tira-lhe Daniel ou põe-lhe Rodrigues! » Mas quem será este Daniel? Será Leonel?) Já se vê que a penna e a lingua de Bocage não podião deixar de perder completamente a quem assim ridiculisavão. Contou-nos D. Gastão a seguinte anecdota, que poremos na sua boca : «Uma tarde, estando eu na loja do José Pedro, entra -Bocage, e diz-me : << - Sabes quem me veio hoje procurar? o homem das Petas. Vinha muito concho e modesto, exaltando-me ás nuvens..... até que o intrugi, quando me tartamudeou ((. Cá eu não me posso medir com Vm. «< Mas eu tambem não sou nenhum covado, lhe respondi. Mas é que a sua concurrencia..... «< Eu não trago contracto arrematado. Pois traga ou não, torna o homem quasi a cho : པ་ rar, pelo amor de Deos não me tome a sua conta, que eu não quero glorias, quero pão! «Tive dó do homem, tive, accrescentava Bocage, mas lá os taes versos d'elle, como amigo sempre digo que lh'os não comprem! <«< Sahímos da loja de bebidas, para o Passeio, e ao voltar a esquina do Rocio, deu Bocage com os olhos n'um cartaz annunciando o II° tomo das Rimas de José Daniel, com os maiores e mais nauseabundos elogios. Ahi lhe vi eu fazer um maravilhoso esforço! Mal tinha olhado para o cartaz, começou, como se estivesse lendo o que se achasse escripto na parede, a recitar, sem hesitação n'uma unica syllaba, o seguinte soneto: Temos motivos para suppôr que a seguinte anecdota é anterior, e entre outros individuos, apezar da opinião constante. Asseverão que entre Bocage e José Daniel se dera uma |