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SA 6140.10

HARVARD COLLEGE LIBRARY

GIFT OF

EDWIN VERNON MORGAN OCT. 22, 1915.

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8448 80-2.

MOTINS POLITICOS

ᎠᎪ ;

PROVINCIA DO PARÁ

(1835)

CAPITULO QUINTO

Dia 22 de fevereiro. -- Providencias para restabelecer a ordem publica.— Proclamação de Vinagre. Reintegracão dos empregados publicos demittidos por Malcher. Reorganisação do corpo de municipaes permanentes. Eduardo Angelim e outros novos officiaes.- Nomeação de secretario e de ajudantes d'ordens de Vinagre.- Agitação no interior da provincia. Providencias. Ordem para desarmar o povo.- Manifesto de Vinagre. Considerações sobre o mesmo. Participação official ao ministro do imperio.

Era o dia 22 de fevereiro de 1835. A cidade de Belém apresentava o sombrio aspecto da mais profunda consternação. O assassinato de Malcher, os tumultos anteriores da anarchia tinham quebrantado o animo da parte mais san da população. Assustados, todos receiavam os desvarios dos facciosos. As casas permaneciam fechadas, e ninguem ousava sahir dos seus domicilios.

O sobresalto era geral. As familias sentiam os alaridos dos rebeldes e estremeciam com a triste lembrança de poderem ser victimas de algum des

acato. A gente que dominava não lhes podia in fundir nenhuma confiança.

Viam-se ainda ao despontar da aurora grupos de homens ou percorrendo as ruas da capital em desordem, ou reunidos aqui e ali discutindo os successos com animação e acrimonia.

De noite tinham sido recolhidos ao Castello alguns ebrios e descrdeiros que mais impertinentes e recalcitrantes se tornaram ás admoestações de seus chefes.

Muitos guardavam as armas que haviam recebido do Arsenal de guerra, apezar das solicitações que lhes eram feitas para as entregarem ou recolherem áquelle deposito de armamento nacional. A necessidade de desarmar os anarchistas era manifesta e reclamada pelo interesse da manutenção da ordem publica. E os agentes dos revoltosos envidaram seus esforços para satisfazel-a. Francisco Vinagre fez logo publicar e distribuir a seguinte proclamação :

« Paraenses :- Eu seria insensivel aos estimulantes deveres de uma gratidão sincera, se em tempo deixasse de agradecer-vos o disvelo, coragem e patriotismo com que sempre vos tendes distinguido, quando a patria gemebunda, por entre afflictivos soluços, implora vosso soccorro em favor não só da sua salvação como tambem da de seus perseguidos filhos, vossos compatriotas.

« O quadro horrivel que apresentava esta bella mes infeliz provincia, a perseguição desenvolvida

contra os vossos compatriotas e nossos direitos, contra a lei, justiça e razão, que fugitivas andavam; tudo emfim tinheis salvado por vosso esforço e marcial trabalho, quando-oh! desgraça ! -apresentastes á vossa frente o bem conhecido pelo Brasil inteiro como scelerado e vil instrumento do despotismo, o ingrato e nefando Felix Antonio Clemente Malcher, o qual depois de o haverdes arrancado da masmorra em que por seus feitos jazia, o vistes postergando vossos direitos, calcando as leis, enterrando em prisões, masmorras e fortalezas a seus proprios libertadores, preparando-nos-oh! maldade!-as sempre horrorosas scenas representadas no Palhaço em 1823.

« Basta, Paraenses honrados, de referir-vos tantas maldades, quantas tem praticado o dissimulado, ambicioso e hypocrita Malcher. Agora porém que tudo tendes conseguido, que a patria está salva e que emfim, ainda que immeritamente, vós me constituistes vosso presidente, convém muito, ó filhos da patria, que de dia em dia vos torneis mais dignos daquella honra e brio nacional que faz a meta de todas as vossas acções. Vosso respeito, amor e obediencia ás autoridades constituidas sejam a ultima corôa de honra, que jámais poderão os despotas arrancar de vossas soberbas cabeças. Confiai em mim, que sendo vosso patricio, tudo obrarei a prol da liberdade e de vossos interesses.

« Viva a religião catholica, apostolica, romana! Viva a regencia em nome do Imperador o Senhor D. Pedro Segundo! Viva a assembléa geral legislativa! Viva o corajoso, patriotico e liberal povo e tropa paraenses! Vivam todas as autoridades constituidas! Viva a união entre todos os Brasileiros amigos de sua patria! »

1

E para melhor firmar o seu governo e restabelecer o socego alterado na capital, reintegrou os en pregados demittidos por Malcher :-- augmentou a força do Castello e nomeou commandante da mesma o seu irmão Antonio Vinagre com o posto de tenente-coronel de guardas nacionaes, como já era conhecido desde que commandou a guarda da cocheira de palacio na administração de Malcher:

-conservou na praça do convento de Santo Antonio a força que ali fizera destacar durante o motim, sob o commando de um soldado reformado de primeira linha que se distinguira por actos de temeridade, chamado Raimundo José Coutinho a quem deu o posto de sargento quartel

mestre.

1 Está com a data e assignatura seguintes:- Palacio do Governo do Pará, 22 de fevereiro de 1835.- Francisco Pedro Vinagre, Presidente e Encarregado do Commando das Armas da Provincia.

(Fublicado no Publicador Official Paraense, n. 1, de 28 de março de 1835).

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