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querque de primeiro o encarou repugnante; mas acaso dis; unha elle de forças para maiores arrojos? Não; e portanto annuio, e ganhou mais esta não pequena vantagem de firmar o pé dentro da Ilha; ao que todavia seo animo, e tenção não se limitava.

E dizei-nos agora: Deleixou, ou esqueceo Jeronimo de Albuquerque alguma cousa, ou fez tudo quanto humanamente lhe foi possivel para o melhor exito da escabrosa, e temeraria expedição, e conquista? Demais o fez (pode-lo-hão increpar) fez até o que não devia, quando quebrou a solemne tregoa assegurada com sua palavra de honra. Vede porém como ajuizou, e o tratou o Governo de Lisboa. Insciente deste ultimo ajuste, e acquisição, e sem que jamais tivesse feito cousa alguma a bem de uma expedição tão importante, intentada pelo Brasil, só, e abandonado aos seus proprios recursos, estranhou severamente as tregoas concluidas com os que elle chamava piratas, e despedio a Diogo de Campos com forças, e ordens terminantes a Pernambuco, para de uma vez ter fim a conquista. E la sahem mais tropas de Pernambuco, unidas ás chegadas de Portugal, em numero total de nove centos homens, sob o commando em chefe de Alexandre de Moura, e commandando uma das nove embarcações, que os conduzião, o Pernambucano Jeronimo Fragoso de Albuquerque. « Com o posto de capitão daquella Armada (diz Berredo) levava tambem Alexandre de Moura os supremos poderes de General da Guerra; no que procedeo o Governador Gaspar de Souza com uma politica tão errada, que arriscou por differentes principios o bom successo della; porque sendo Jeronimo de Albuquerque o seo primeiro Commandante pelo Principe, além de se achar tão adiantado nos seus progressos, como no conhecimento do terreno; e ficando sem pre os que soccorrem á obedieneia dos soccorridos, conforme as regras militares, não os preferindo pelas graduações de suas patentes, não devia com tanta injustiça accrescentar a circumstancia dos seus poderes na que passou a Alexandre de Moura. Mas Jeronimo de Albuquerque, querendo mostrar-se superior ás naturaes paixões do animo, soube usar tão virtuosamente da grandeza delle, nesta tão sensivel desattenção, com que se

tratava o seo merecimento, o seo caracter, e a sua pessoa, que obedecia á ordem de Alexandre de Moura, sem menor contenda, moveo as suas tropas sobre a Fortaleza de S. Luiz (que occupavão ja todos os Francezes, para fazerem a sua defensa mais vigorosa) com tanta actividade, valor, e disciplina, que no dia ultimo do mez de Outubro as postou junto á fonte das Pedras, visinha da mesma Fortaleza, sem que se attrevessem os inimigos a disputar-lhe aquelle quartel, ficando nelle sitiados pela parte de terra.»>

Intimado que se rendesse, o Commandante Francez no dia dous de Novembro de 1615 assim o fez, e assignado o auto da entrega, a fez immediata de tudo, menos de tres navios nos quaes voltarão á França mais de quatro centos dos seus compatriotas, ficando alguns da Religião Catholica estabelecidos na terra, e casados nella com Indigenas.

Alexandre de Moura nenhuma peleja teve, um só tiro não deo, em summa nada arriscou. Porque logo se tirou a Jeronimo de Albuquerque a gloria de acabar a sua obra, conservado no mando supremo? Tendo Jeronimo de Albuquergue abandonado os commodos, e prazezes, com que venerado, e ditoso vivia em Olinda; depois de tantas marchas, trabalhos, e perigos; de tanto dispendio da sua fazenda; tendo exposto a sua reputação, e vida, as vidas de seus tres filhos, (*) e de seus tres sobrinhos; depois de combates, e miraculosos triumfos; depois em fim de quasi concluida a conquista; porque se lhe fez essa injustiça, e injuria? Fez por ventura Alexandre de Moura alguma cousa, que não podesse Jeronimo de Albuquerque fazer? E este porfiou em servir até morrer, e morreo sem recompensa alguma de tão relevantes serviços. Em discussão á cerca do melhor modo de defender a Patria, e debellar os Persas, alça o general Espartano Eurybiades o bastão sobre

(*) Antonio de Albuquerque, Mathias de Albuquerque, e Jeronimo de Albuquerque; e este veio a morrer em 1631 na defesa do Cabadello na Paraiba. Berredo n. 474, e Brito Freire n. 432.

Themistocles, general Atheniense, que o contrariava. Dá, mas ouve, lhe diz este. O nosso Albuquerque tambem diria ao Governo: Molestai-me, descei-me do supremo commando ; mas ver-me-heis persistir sem interesse em qualquer serviço da Patria. Moderação sublime! Exemplar grandeza da alma!

V.

Nomeou Alexandre de Moura, dias depois, a Jeronimo de Albuquerque Capitão mór da Conquista do Maranhão, que lhe tocava como propria, diz Berredo; e nomeou tambem a Antonio de Albuquerque, seo filho, Commandante do Forte de S. José de Itapari, com cincoenta homens de guarnição. Feitas outras nomeações, e despachado Jeronimo Fragoso de Albuquerque, de quem acima fallamos, para Portugal com as noticias da total expulsão dos Francezes, deo Alexandre de Moura á vella para Pernambuco, e desembarcou em Olinda, aonde Ravardiere, que comsigo trouxe, achou por emprestimo o dinheiro de que precisava.

Poz então Jeronimo de Albuquerque todo o seo empenho, e principal cuidado na fundação da Cidade de São Luiz, obra de que tambem a Corte de Madrid o havia encarregado. Deo Carta de sesmaria da pequena Ilha do Medo, vulgarmente do Boqueirão, visinha da de S. Luiz, aos Padres Frei Cosme, e Frei André da Natividade, Religiosos do Carmo do Estado do Brasil, para a fundação de um Convento, a que logo elles derão principio. Reduzio á obediencia os Tapuyas da Ilha. Sendo afamadas as riquezas do Rio Pindaré, mandou a descobri-las o capitão Bento Maciel Parente com quarenta e cinco soldados, e noventa Indigenas; mas este recolheo-se, passados mezes, com o fructo unico de haver, entre muitos trabalhos, feito cruelissima guerra aos Indigenas. Achando-se em total falta de munições de guerra, mandou-as pedir ao Governador Geral do Brasil pelo sargento mor Balthasar Alves Pestana, escoltado por vinte Soldados, e perto de cem Indigenas; os quaes chegarão a Pernambuco, onde residia o Governador Geral, quasi

com cinco mezes de trabalhosa viagem. Soccorreo por vezes a Cidade de Belem, e de uma com artilharia, petrechos, trinta soldados arcabuzeiros, e dous mil cruzados em fazendas para resgates, e pagas de soldados, e Indigenas, tudo a bordo de uma grande lancha, commandada por seo sobrinho Salvador de Mello. E alcançou repetidas victorias dos Indigenas, mormente pelo braço, e discernimento de Mathias de Albuquerque, seo filho segundo, que ja capitão de infantaria, governava diversas aldeas mui populosas.

Jeronimo de Albuquerque Maranhão (que assim passou a assignar-se) no meio destes trabalhos, e triumfos, e ja na idade de setenta annos, deixou de existir no dia 11 de Fevereiro de 1618. Era filho natural de Jeronimo de Albuquerque, cunhado de Duarte Coelho Pereira, primeiro donatario de Pernambuco, e da Indigena Pernambucana D. Maria do Espirito Santo, filha do Principal, ou Cacique de Olinda.

« Dous annos mais e alguns dias, governou Jeronimo de Albuquerque o Maranhão, como seo Capitão mor, Conquistador, e novo Povoador daquella Colonia, que á custa de trabalhos, e varias guerras, que ainda teve com os Gentios, especialmente em um levantamento que fizerão ahi no anno de 1617, ao mesmo tempo que se havião levantado tambem os do Grão Pará, defendeo, conservou, e augmentou com grandeza de animo, esforço de capitão, e liberalidade deprincipe. He o famoso chronista Frei Antonio de S. Maria Jaboatão quem resume nessas poucas palavras o veridico elogio do nosso immortal Comprovinciano Jeronimo de Albuquerque Maranhão.

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E os que depois de nós vierem, vejão
Quanto se trabalhou por seo proveito,
Porque elles para os outros assim sejão. (*)

Ferreira.

DOCUMENTOS.

D. Filippe por graça, de Deos Rei de Portugal, e dos Algarves da quem, e dalem mar, em Africa senhor de Guine, e da Conquista, Navegação, Commercio da Ethiopia, Arabia, Persia, e da India, &. Faço saber aos que esta Carta virem, que havendo respeito aos serviços, que Jeronimo de Albuquerque, morador na Capitania de Pernambuco, me tem feito naquellas partes até agora: Hei por bem, e me praz de lhe fazer merce da Capitania do Forte do Rio Grande, por tempo de seis annos na vagante dos providos antes de dezoito de Janeiro do anno de seis centos e um, em que lhe fiz essa mercê, com a qual Capitania terá e haverá o ordenado, proes, e precalços, que tiverão, e houverão as pessoas, que até agora o servirão, que lhe será pago no livro, ou almoxarife da dita Capitania aos quarteis de cada anno, e polo traslado desta carta, que será registrada no livro de sua despeza polo Escrivão de seu cargo, e com conhecimento do dito Jerouimo de Albuquerque lhe será levado em conta, o que lhe pola dita maneira assim pagar. Polo que Mando ao Capitão da dita Capitania de Pernambuco, que ora é, e ao diante for, que tanto que pola dita maneira ao dito Jeronimo de Albuquerque couber entrar na tal Capitania, lhe dêm a posse della, e lha deixem servir, e haver o ordenado, proes, e precalços, que lhe pertencerem, como dito é; e elle jurará em minha Chancellaria aos santos Evangelhos, que bem, e verdadeiramente o sirva, guardando em tudo a mim meu serviço, e ás partes seu direito; de que se fará assento nas costas desta carta, que por firmeza do que dito he lha Mandei dar por mim assignada, e sellada do meu sello pendente; e antes que o dito Jeronimo de Albuquerque parta deste Reino me dará menagem pola dita Capitania, segundo uzo, e costume delle, de que apresentará certidão nas costas desta de Diogo Velho, meu Secretario. Luiz Figueira a fez em Lisboa a 9 de Janeiro de 1603. Janalves Soares o fez escrever. REI.

Senhor de Albuquerque, eu te mando esta para saber a verdade da guerra, que fazes, e queres fazer aos meus; porque atéqui não quiz praticar-te nada de aquillo, que toca á nossa arte. Porque tú quebras todas as Leis praticadas, em todas as guerras assim Christãs, como Turquesquas, ou seja em crueldade, ou seja na liberdade das seguridades que os homens tomão uns com os outros para seus parla

TOMO III.

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