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Jeronimo de Albuquerque Maranhão.

Ganhando muitas terras adjacentes,
Fazendo o que a seo forte peito deve.
CAMÕES, LUS. 3. 26.

I.

Veremos agora, charos Pernambucanos, o conquistador das terras do Maranhão, primeiro governador dessa Provincia, e fundador da cidade de São Luiz, sua capital, hoje uma das maiores, e mais elegantes do Imperio.

Amão os Povos, bem como os individuos, singularisar a sua origem, della vangloriar-se, e encarecer a fundação de suas respectivas cidades, ja deificando por seo valor, e peregrinas qualidades aos fundadores, e ja com o maravilhoso gloriando a empreza, e sua difficil, ou guerreada execução. Ora a deosa da guerra, das sciencias, e das artes, e o deos dos mares, disputão qual delles dará nome á famosa Athenas; ora a fugitiva Esposa do real Sicheo funda a soberba Carthago, e no abrirlhe os alicerces, a barbara cabeça de um cavallo, que se descobre, he prognostico de que serão os seus Povos formidaveis guerreiros; ora um filho do deos da guerra lança os primeiros fundamentos da eterna rainha das Cidades, soberana do Universo; ora he Lyso, ou Luso, companheiro do deos conquistador das Indias, que dá nome á Lusitania; e ora finalmente (fugindo á prolixidade) o facundo, e astuto Ulisses ergue a decantada Ulissea. Mas a fundação da Provincia do Maranhão, e sua capital, que se não perde na cega noite dos seculos, não se desvanece de semelhantes mythos, e atavios dos tempos fabulosos. Não terá porem ella alguma especialidade com que

se prevaleça, e recommende? Tem a lisongeira circunstancia de ser obra, e trofeo glorioso de um Brasileiro, immortal Filho de Olinda, timbre com que se não decorão as demais capitaes, e Provincias do Brasil. Vejamo-lo em resumo.

Passados cerca de cinco annos do malogro das expedições de alguns Portuguezes para colonisarem as terras do Maranhão, nellas se estabelecerão os Francezes, tendo por chefe o habil official de Marinha Daniel de la Touche, senhor de la Ravardier, e interessados Francisco de Rasily, e Nicolau de Harley. A' sua propria custa sahirão elles de França no dia 19 de Marde 1612 com a flotilha de tres navios, e uns quinhentos homens de mar, e terra, depois do Bispo de São Maló celebrar com grandes aparatos a ceremonia das bençãos das bandeiras, e cruzes, que se distribuirão pelos Commandantes, e Missionarios. A Rainha Regente da França authorisou-os com patentes, que assignou de seo punho, aos diversos Cabos da expedição, e com a dadiva de um estandarte, em que ás armas da França ajuntavão-se diversos emblemas allusivos á empreza, lia-se a divisa: Tanti dux femina facti. Com a viagem de mais de quarro mezes aportarão elles a Ilha principal do Maranhão, e na eminencia della que dominava o porto, e ficava entre os dous rios que desagoão nelle, erigirão um forte, e o guarnecerão com vinte e tres peças de grossa artilharia. Teve o nome de São Luiz, em honra do Principe Reinante Luiz XIII, nome que depois estendeo-se a toda a Ilha, onde tambem os mesmos Francezes levantarão um grande armazem, e os Missionarios começarão a edificar o seo Hospicio, ou convento de S. Francisco.

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Sabida esta invasão em Lisboa, e na corte de Madrid, ordenou o Monarcha se tratasse com muita diligencia da conquista, e terras do Maranhão; e para este effeito o Governador Geral do Brasil se passou a Pernambnco, na conformidade da Real determinação, para daqui mais facil animar, e fazer partir a expedição conquistadora. Por informação do mesmo Governador Geral o Monarcha mandou encarregar esta difficultosa empreza (dantes tantas vezes baldada, e mais quando la não exis

tião forças contrarias, e taes, como agora) a Jeronimo de Albuquerque. Era este natural, e morador da villa de Olinda, varão recommeudavel por seo caracter, e serviços, e ja na idade de secenta e cinco annos, aparentado por sua Mãi com os Indigenas, de quem sabia o dialecto, e entre os quaes gosava estima, e exercia influencia.

Mas Jeronimo de Albuquerque não foi honrado so com a nomina de Capitão, Commandante em chefe do descobrimento, e conquista; coube-lhe mais a gloria de receber carta directa, e particular do Monarcha, empenhando-o á empreza aventurosa; honra extraordinaria, e grande, que os Principes rarissimo dispensão aos seus vassalos, ou subditos.

Com quatro barcos, e scm mais guarnição que a de cem homens em que se contavão muitas pessoas conhecidas, que aspiravão celebrisar-se, Jeronimo de Albuquerque sahio do Recife no 1o de Junho de 1613. Costeando até muito a baixo do Seará, tomou ahi comsigo a Martim Soares Moreno, e o fez partir adiante em um dos quatro barcos, guarnecido dos melhores soldados, como pratico do Paiz, pela muita assistencia que tinha no Seará, para reconhecer, e transmittir-lhe noticias da procurada Ilha do Maranhão. Seguio-o Jeronimo de Albuquerque, e chegando ao lugar denominado Buraco das tartarugas, que desemboca no grande parcel de Jericoacoara, fez na entrada delle uma pequena fortificação de páo a pique. sob a invocação de Nossa Senhora do Rosario. Mas faltandoThe Martim Soares com as informações, sem as quaes não podia adiantar-se a mais consideraveis operações, tendo-lhe falhado a alliança do Maioral Juripariguassu, e escaceando ja os mantimentos, guarneceo o tal forte de Nossa Senhora do Rosario com quarenta soldados, dando-lhes um sobrinho seo por Com mandante, e com algumas pessoas de sua primeira confiança regressou por terra a Pernambuco, depois de despedir por mar o resto da gente para seguir o mesmo caminho. No fim do anno chegarão todos a Pernambuco.

A guarnição corajosa do chamado Forte das Tartarugas soffria não so frequentes ataques dos Indigenas, mas extrema

penuria das cousas mais indispensaveis á vida. Havia ja tres mezes que sustentava-se apenas de hervas do campo; e estava ja reduzida a vinte e cinco praças, mortas as demais. Nestas circunstancias tristes chegou-lhe de Pernambuco o soccorro conduzido pelo capitão Manoel de Souza de Eça. Mas que soccorro? Quatorze soldados dos que conduzira de Lisboa Diogo de Campos Moreno, e dezeseis Hespanhoes, que alli acaso arribarão das Filippinas, e com tanta negligencia foi esse tal soccorro promptificado, que a polvora que levara não chegava a dous arrateis! Tanto a ponto chegou todavia esta gente, que reunida á da guarnição, repelirão todos galhardamente o ataque que com duzentos homens lhes fez o chefe Francez de Pratzs, que alli passava em um navio alteroso com forças destinadas ao Maranhão. Do Pernambucano intrepido, e valoroso Commandante do Forte nos diz Berredo:-E não fallo tambem no Commandante do Presidio, sobrinho de Jeronimo de Albuquerque, por que so esta distincção lhe reservou a inveja, sem duvida por querer impedir na do seo proprio nome as immortaes recommendações da posteridade.-Restará elle pois um immortal sem nome, na frase de Chateaubriand; mas os antigos erguião tambem altares aos deoses desconhecidos. E na verdade a so ficada naquelle remoto deserto, e desamparo, com quarenta companheiros, circundado de milhares de Indigenas bravios, he ja um feito magnanimo, digno de memoria. Accrescentai-lhe as consequentes privações, as continuas pelejas, ferimentos, doenças, mortes, e fome cruel; e a pezar de tudo, victorias contra os Indigenas, vietorias contra os Francezes instructos, e incomparavelmente superiores em numero, e armamento e não esqueçaes finalmente, que a occupação do Presidio das Tartarugas pelos Francezes, se não transtornasse de todo a expedição que veio depois, havia pelo menos de causarThe grandissimos embaraços. E tudo reconhecido, como não coroar a Historia, justa, e magnifica, a fecunda constancia, o grande, e memorando serviço do imperterrito Commandante ? Negar-lhe este precioso galardão moral, propriedade que adqui

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