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Grega, e Latina, das Sciencias, das Letras, e dos Idvomas das mais cultas nações modernas, tornando-se assim habil para os empregos do Estado, que exerceo com bom desempenho.

A uma erudição não vulgar juntava grande talento para a poesia, em que depreça adquirio grande nomeada; e imitou com desvelos os Italianos, e com especialidade a Torquato Tasso, por quem é evidente haver-se regulado na composição da sua Malaca Conquistada.

Consta que casou mui moço com D. Antonia de Andrade, que era sua prima, e filha de Balthasar Leitão de Andrade, Commendador da Ordem de Christo, e Thesoureiro da Casa da India, de que teve um filho, por nome Balthasar de Sá Leitão, que foi elegante, e engenhoso Poeta Latino, como se deprehende do seguinte Epigramma em louvor da Malaca Conquistada de seu Pai, e que se lê á frente da terceira edição daquelle Poema, feita em Lisboa por José d'Aquino Bulhões no anno de 1779.

Cum laus ex gnato veniat suspecta parenti,

Me gnatum, fateor, vix juvat esse tuum,
At cum conspicio laudanda Poemata, lætor,

Cum me sors tanto fausta parente, beat,
Insequar ergo Patris vestigia, carmina fingam,
Carminibus sed erit gloria nulla meis,
Phoebo digna moves nam solus plectra; neo ulle
Ingenium poterit vincere Musa tuum
Si fuit in Gnato Virtus invisa Theodoso

Dum Famæ credit nil superesse suæ ;
Ipre tuos possim merito incusare triumphos,
Spes etenim laudi nulla relicta meæ est.
Ergo omnes ultro mittamus plectra; relinquit

Hic liber exhaustas, quas ultra claudit, opes.

Teve tambem uma filha, por nome D. Joanna de Sá e Menezes, que foi casada com Fernão da Silveira, irmão segundo do Conde de Sarzedas, que militou nas campanhas dos Paizes Baixos na qualidade de Capitão de Cavallaria, e que foi depois Conselheiro de Guerra dos Reis D. João IV., e D. Affonso VI., e que veio a perder gloriosamente a vida na Batalha das Linhas d'Elvas, ganba

da aos Castelhanos em 14 de Janeiro de 1659, deixando numerosa posteridade.

Francisco de Sá de Menezes foi Commendador de S. Pedro de Fins, e de S. Cosme de Garfo da Ordem Militar de Christo.

Senhor de uma casa opulenta, cercado da estima dos Concidadãos, e com especialidade dos Literatos, empregando o tempo, que lhe restava do desempenho dos seus deveres, como homem publico, no tracto das Musas, passava Francisco de Sá de Menezes tranquillamente seus dias, quando a morte lhe arrebatou dos braços a Esposa, que lhe servira sempre de consolação nos dissabores da vida; esta perda lhe abateu o espirito de maneira, que tomando de dia para dia maior aborrecimento ao mundo, resolveo por fim abandona-lo, sem que as rogativas, e instancias dos filhos, dos parentes, e dos amigos fossem poderosas para o fazerem mudar de resolução.

Depois d'algum tempo de hesitação sobre a escolha do seu ultimo domicilio, resolveu em fim retirar-se para o Real Mosteiro de Bemfica, da Ordem dos Pregadores, nos suburbios de Lisboa, onde tomou o habito, e professou no dia 14 de Dezembro de 1641. Ali debaixo do nome de Frey Francisco de Jesus, se entregou com todo o ardor á observancia dos preceitos da regra, e ás praticas de devoção mais austeras, tornando-se por este modo objecto de veneração, e respeito para todos os Religiosos, que com elle habitavam aquella Santa Casa.

Neste modo de vida, e constante desapego do mundo persistio com admiravel constancia, e placidez de espirito, sem jámais desmentir-se até ao dia 21 de Maio de 1661 em que Deos foi servido de chama-lo da vida temporal para

eterna.

As Obras deste Poeta, de que temos noticia, sam as seguintes.

Malaca Conquistada, Lisboa, 1634, em 8.o, e depois reformada, e alterada em varios logares, 1658, em 4.° Canção, que se encontra no principio do Gigantomachia, Poema de Manoel de Galhegos, 1628, em 4.°

Um Soneto que vem no Templo da Memoria, Poema do mesmo Manoel de Galhegos, 1625, em 4.°

D. Maria Telles, Tragedia, que se conservava manus

cripta na Bibliotheca do Paço Real, a qual ardeo com o mesmo Paço na occasião do Terremoto de 1755, c principiava com este verso.

Horas alegres do ditoso Dia.

A Morte de D. Maria Telles, irmãa da Rainha D. Leonor, Esposa de El-Rei D. Fernando I., e casada com o Infante D. João, irmão de D. Fernando, é um dos raros assumptos verdadeiramente tragicos, que offerece a nossa Historia; e a escolha deste assumpto prova grande descernimento, e tino theatral em Francisco de Sá de Menezes. Uma esposa amante, e innocente, assassinada barbaramente por seu marido, allucinado pelas calumnias da propria irmãa da victima, e com a esperança da mão de sua filha, unica herdeira do Reino, que vasto campo para o desenvolvimento de paixões encontradas, para a pintura de caracteres, e de todos os recursos patheticos da compaixão, e do terror! É muito para sentir, que esta Tragedia perecesse; sería curioso vêr o partido, que o Author havia tirado deste facto doloroso, e com que arteficio teria architectado a sua fabula um homem, que tanta invenção dramatica havia mostrado na sua Epopeia. Escreveo mais.

Satyras, que existiam manuscriptas na opulenta livraria do Bispo do Porto, D. Rodrigo da Cunha, em um volume de 8.o, como consta do seu Index, impresso na cidade do Porto no anno de 1627, em 4.°

E muito probavel que Francisco de Sá tivesse composto muitas poesias d'outros generos, como Sonetos, Canções, Epistolas, que tanto andavam em moda no tempo, em que floresceo, mas ou os annos as devoraram, ou ficaram sepultadas na livraria do Convento de Bemfica, onde talvez se desencaminhassem quando pela extincção das Ordens Regulares aquelle Convento foi secularisado; ou elle proprio as queimaria nos ultimos annos da sua existencia, ou porque as julgasse pouco dignas do seu talento, ou por escrupulos de consciencia na vida ascetica, que abraçára. O certo é que desappareceram ; hoje toda a gloria de Poeta, tão fecundo, se acha reconcentrada na sua Malaca.

Para dar alguma idéa do estylo lyrico do Author, e

porque tanto a Gigantomachia, como o Templo da Memoria, de Manoel de Galhegos, sam dous Poemas hoje quasi desconhecidos, apezar do grande talento daquelle Poeta, copiarei aqui, aínda que em Castelhano, a Canção, em que Sá de Menezes celebrou o primeiro, e o Soneto em que elogiou o segundo.

CANCION.

Batid, Cisnes del Tajo,

Batid alegres las canoras alas,
Con vuelo altivo penetrando el Cielo;
Dexad el margen, y florido suelo
Del curso trasparente

Del cristal fuguetivo, que amais tanto;
Por sublimes regiones discorrendo
Cauoros derramad dulces accentos,
Y el aire ennobleciendo,

Enriqueced, y suspended los vientos.

Celebrad, Cisnes, admirando, el canto
Del Varon Lusitano

Del nuestro nuevo Apollo,

Que d'uno al otro Polo

Resuena horrible, pero dulce tanto,
Que igualmente deleita, y mueve espanto.

Celebrad, Cisnes, que cantando pinta
Con tal destreza, y modo tan estraño,
Que haze un illustre engaño.
Assi a lo vivo imita,

Que parece que en Phlegra resuscita
Los de la Tierra monstruosos partos,
Que amontonando montes,

El Cielo escalam, rompem horisontes.

Segunda vez parece
Tamblan en el supremo firmamento
Sus claros moradores,

Y en el largo Oceano

Los divos nadadores,

Y que entre el fuego en el escuro eterne

No se da por seguro

Con puerta de diamante y ferreo muro,
El horrible Señor del negro Infierno.

Celebrad, Cisnes, que cantando pinta
O, por megor decir, hace visibles
De la trabada guerra

Entre el Cielo, y la Tierra
Sin arte militar fieros assaltos;
Los encuentros horribles

El combatir, la pertinas porfia,
Las faltas, y las sobras de osadia,
Y que hace sentir a los oydos
El estruendo, las voces, y clamores,
De aquellos finamente conduzidos
De odio, nascido apenas, ya infinito,
A temerario, y horrido conflito.

Celebrad, Cisnes, que cantando advierte
A los subervios vanos

Su infelice suerte,

Y que no valem contra el Cielo manos :
Si el sacrilego osar mismo encamina
Misero precipicio, alta ruina,
Modestia al mundo ensiña

Y religioso zelo,

Temer la pena, y respetar el Cielo ;
Moved, candidos Cisnes,

Moved canoros las canoras alas,

Con alto canto celebrad el canto,

Que, applausos adquiriendo, obriga a espanto.

Este estylo é verdadeiramente lyrico, elle corre facil, e animado, e até na irregularidade das Strophes o Poeta soube dar-lhe todo o ar de um canto improvisado, sem preparação, nem estudo.

Eis aqui o Soneto endereçado a Manoel de Galhegos.

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