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ADVERTENCIA

Como «subsidio» para a historia da gravura em Portugal, pretendia o Dr. José Zephyrino de Menezes Brum descrever a obra dos artistas portuguezes, a de estrangeiros que houvessem alli trabalhado, e ainda a dos que, de nacionalidade extranha e fóra d'aquelle paiz, tivessem tratado de assumptos com referencia a elle. Para a factura de seu catalogo contava tão sómente o nosso iconographo com os dados que recolhesse da consulta das estampas e volumes illustrados existentes na Bibliotheca Nacional.

A molestia, que aposentou no publico serviço, em 1892, aquelle operoso funccionario e pouco depois lhe dava a morte, impediu que tivesse inteira realisação tão valiosa quanto bella iniciativa. No emtanto d'ella ficou o estudo que ora é dado a lume, não contando com o que anda espalhado em varios catalogos e deveria fundir-se mais tarde no projectado plano.

Composto na sua quasi totalidade em tempo já distante, no meado de 1878, conforme nota que lhe vem junta, do punho do proprio auctor, o catalogo manuscripto da obra de Debrie apresentava varios retoques, alguns accrescimos, não contemporaneos talvez, e com elles muitos traços para a inutilização parcial do texto, tudo como que a indicar necessidade e proposito de uma reforma dos originaes. Tal preoccupação, bem manifesta na classe dos retratos, ainda mais se podia apprehender ao confrontar as descripções d'estes com as que occorrem, das mesmas peças, no Catalogo dos retratos colligidos por Diogo Barbosa Machado, tambem do Dr. Brum, de feitura mais recente, embora primeiro publicado.

Refundir o catalogo era, pois, medida que se impunha; ao mesmo tempo cumpria-se um dever para com a memoria do inesquecido chefe da

A. B.

I

secção de estampas, fazendo o que elle certamente teria feito. Foi mesmo preciso ir além; houve necessidade de intercalar no texto as descripções de peças só agora conhecidas, como são as que figuram sob os n.o 14, 22, 24 e 33.

Não ha controverter acerca da utilidade d'este catalogo. Tão pouco e tão errado é o que por ahi anda a respeito de Debrie, que até no nome os autores lhe desacertam; no emtanto era o artista dos mais minuciosos nas informações com que documentava os seus trabalhos, pouco espaço abrindo ao esforço dos pesquizadores.

Reparar a injustiça do tempo, que o deixou olvidado; restaurar e reviver o nome de um artista, dos mais laboriosos no meio em que se desenvolveu; servir ao estudo da iconographia em Portugal, ainda por escrever,--eis o importante objectivo a que certamente corresponde a presente publicação.

Bibliotheca Nacional, 3.a secção, dezembro de 1906.

A. L.

PREFACIO

O verdadeiro nome do nosso artista não é Gabriel Franco Luiz Debrie (Volkmar Machado, pag. 97 da collecção de Memorias), nem Ga-` briel Francisco Luiz Debrié (Volkmar Machado, opere citato, pag. 282, e Conde de Raczynski, Dictionnaire, nos artigos Carneiro da Silva (Joaquim), á pag. 39, e Debrié, á pag. 66), como affirmam estes autores, interpretando d'este modo a subscripção que em geral occorre na maior parte das estampas por elle gravadas, e sim Guilherme Francisco Lourenço Debrie, como claramente se deduz das subscripções das estampas por nós descriptas sob n.os 5 e 15 de sua obra e no retrato de Diogo de Mendonça Corte-Real, gravado por Gaillard.

O Cardeal Patriarcha Dom Frei Francisco de São Luiz, em sua obra Lista de alguns artistas portuguezes, diz que Debrie era francez de nascimento (na estampa n.o 5 e tambem na folha de rosto da obra Joannes Portugalliæ Reges elle se confessa parisiense), e que, a convite d'el-rei Dom João V, viera a Portugal, onde trabalhou muito, não só como desenhador, mas tambem como gravador. A Historia genealogica da Casa Real Portugueza, as Memorias dos Templarios, a Geometria de Euclides pelo Padre Manoel de Campos, 1735, e outras obras publicadas em Portugal no 18.o seculo, abundam de estampas, vinhetas, cabeções de pagina e lettras capitaes, gravadas por Debrie.

Segundo Heineken (Dictionnaire des artistes, artigo Debrie, á pag. 558 do volume IV), Debrie foi discipulo de Bernardo Picart e desenhou muito para os livreiros. Além das estampas descriptas por Heineken como gravadas segundo desenhos de Debrie, o dito autor cita « le Portrait de Diego de Mendoza gravée (sic) par R. Gaillard, marqué Deprie (sic) pinx. á Lisbonne, apparemment artiste différent du précédent.»

Neste particular Heineken se enganou, provavelmente por não ter visto a estampa; nós, porém, pelas razões que demos, quando tratamos d'ella, não podemos admittir que este retrato fosse gravado segundo um certo Deprie, differente do nosso Debrie, devendo ter sido burilado segundo pintura ou desenho d'este.

Debrie teve um filho de igual nome, nascido em Lisboa, que tambem foi gravador? A este respeito quasi não ha informações, excepto o que sobre este assumpto escreveram Cyrillo Volkmar Machado e o Conde de Raczynski, baseados não sabemos em que fundamentos; o que porém ha de certo a respeito da familia de Debrie, segundo confissão d'elle proprio vide a estampa n.o 6), é que, em 1745, elle tinha mulher e sete filhos me

nores.

As datas extremas, que se encontram nas differentes estampas subscriptas com o nome de Debrie, são: 1729, no retrato de Marat (vide Ch. Le Blanc, Manuel de l'amateur d'estampes, no artigo Debrie, e 1754, segundo o Cardeal Patriarcha; devemos entretanto confessar que não temos achado até hoje estampa alguma anterior a 1732 estampa n.° 49', nem posterior a 1753 estampa n.o 12.

Ignoram-se as datas do nascimento e morte de Debrie; mas é provavel que elle tivesse morrido já adiantado em annos, porque deveria ter sido contractado para vir a Portugal, quando fosse homem já feito e artista provecto e consummado.

Heineken não descreve estampa alguma gravada por Debrie, sómente cita gravuras de differentes artistas, segundo desenhos d'elle.

Ch. Le Blanc aponta unicamente o retrato de Clemente Marot, 1729, in-fol. como obra sua. Não conhecemos esta estampa.

Innocencio, Diccionario, faz menção, entre outros, de um retrato de Diogo de Mendoça Còrte-Real (*), gravado por Debrie.

O catalogo que se vai ler é o da obra gravada de Debrie, ainda não descripto pelos autores. Comtudo seja dito em abono da verdade que muitos retratos aqui incluidos, vem mencionados no Diccionario de Innocencio, vol. III, artigo Retratos, mas de um modo tão incompleto e inexacto, principalmente quanto ás dimensões, que não duvidamos consideral-os como não descriptos.

Bibliotheca Nacional, secção de estampas, julho de 1878.

Dr. José ZEPHYRINO DE MENEZES BRUM.

(*) D'esta peça, cuja existencia era para o Dr. Menezes Brum contestavel (vide Catalogo dos Retratos colligidos por Diogo Barbosa Machado, V. sob o n. 1162), foi um exemplar ultimamente incluido no presente Catalogo. Vide mais adiante, sob o n. 24, a descripção d'elle.

N. DA S.

I

ESTAMPAS DIVERSAS

N.O I. Os sellos da Familia Real Portugueza.

Serie de 19 estampas representando 118 sellos dos membros da mesma familia, gravadas para a Historia Genealogica da Casa Real Portugueza, onde são encontrados da pag. 61 á pag. 98 do volume IV.

Estas estampas são todas marcadas na margem superior por lettras maiusculas em ordem alphabetica de A-T (menos o J), ora perto do angulo superior direito, ora do esquerdo, e trazem na margem inferior, no meio, a marca typographica das folhas, em relação com as das folhas de impressão antecedente e subsequente. Essas marcas tambem são constituidas por lettras alphabeticas, começando pela lettra R na estampa T (a lettra U foi supprimida). A subscripção do gravador não é identica em todas as estampas da serie e, quanto á data, só duas dellas a tem. Cremos porem que as não datadas não podem ser anteriores ao anno de 1736, data da primeira estampa da collecção, nem posteriores a 1738, data da impressão do volume da obra, em que vêm as estampas em questão.

Devemos observar que: 1o, cada folha d'esta collecção é uma estampa, a saber, é a folha impressa por uma só chapa, embora representando mais de um sello, ao contrario do que succede com a collecção de moedas e medalhas que, para a mesma Historia Genealogica, Debrie de parceria com Rochefort gravou, collecção em que estão impressas, em cada folha, muitas estampas tiradas por chapas diversas (vide o n.o 3 da obra de Debrie); 2.o, que os differentes sellos representados nestas 19 estampas estão todos numerados com lettras romanas de I-CXVIII, sendo para notar que a ordem numeral dos sellos não é rigorosamente observada na distribuição d'elles pelas estampas, como melhor se verá da tabella seguinte:

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