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terrupta dos seus esforços literários e pela evidente vontade de progredir e sêr útil.

E são essas as qualidades que assinalam o manuscrito que ora lhe devolvo.

Como não sou juiz, outros dirão se são incontestaveis todos os pontos de vista, sob que considera cada um dos autores dos melhores sonêtos. O que eu sei e vejo é que as anotações concomitantes da sua pequenina antologia encerram ensinamentos louváveis para a população escolar e para os estudiosos menos lidos; e que a selecção dos sonêtos obedeceu geralmente a um critério que afina pelo meu. É certo ou, pelo ménos, antolha-se-me, que a selecção poderia ser mais numerosa, e que, á parte outros nomes,-o Xavier de Matos entre os antigos, e o João de Deus entre os modernos, poderiam, sem desvantagem, acrescer á gloriosa lista dos poetas dos melhores sonêtos.

Mas isto é uma anotação vaga: em tudo há mais e há menos. O que é indubitável é que este seu manuscrito constituirá um formoso florilégio, em que a utilidade prática se alia com as mais justas homenagens. a gloriosos vultos da poesia nacional.

Pedroiços, 1-1-07.

Candido de Figueiredo.

O SONETO

É

o soneto como uma pequenina jarrinha dum subtil lavôr e em que, portanto, só se deve dispôr uma flôr fina e rescendente como a rosa.

Um soneto que envolva uma idéa banal é como uma jarra muito trabalhada, com uma margaridas ou um malmequer camponês.

Todos, que começam a versejar, cultivam esta forma, encarando-a apenas como um grupo de versos, distribuida por duas quadras e dois

tercetos.

Dahi a multidão imensa de sonetos que à literatura portuguêsa nos mostra, especialmente a pseudo-literatura dos albuns de meninas que decóram Lamartine e se deliciam com os arroubos apaixonados da Morgadinha de Valflôr.

Para muitos o soneto, é ainda hoje uma méra fórma poética, a que se molda qualquer assunto. Quantos modernamente se fazem ainda em

que transparece apenas o risivel Lyrismo intimo, que enclausurado nas duas polle gadas do coração, não comprehendendo d'entre os rumores do Universo senão o rumor das saias de Elvira,1 tornava a Poesia, sobretudo em Portugal, uma monotona e interminavel confidencia de glorias e martyrios de amor.

(Fradique Mendes-EÇA DE QUEIROZ)

Foi efetivamente esse o seu primeiro aspeto, em que Camões produziu maravilhosas peças, em que foi insubstituivel, mas esse aspeto pertencia á época, e era sugerido por causas adiante expostas.

Camões floresceu no seculo 15.o, de que nos separam quatrocentos anos, ou seja uma completa remodelação na vida, em todos os seus ramos, evolucionando para um periodo positivo, de ação, como consequencia imediata e unica do incremento da Idéa. E a essa metamorfose,

I Nome muito citado nas Meditações e Harmonias por Lamartine, principal epigone do ultra-romantismo nevrotico. Ficou consagrado.

a literatura, como espelho fidedigno, de fórma alguma poderá ser indiferente.

Oriundo da Italia,1 a fórma petrarquiana do soneto foi introduzida na literatura portuguêsa por Francisco de Sá de Miranda, conjuntamente a outras fórmas, que conheceu na sua viagem pelos principaes centros intelectuaes do país de Dante.

E' a literatura fonte inexaurivel de profundissimos conhecimentos sociologicos, de cujo ensinamento muito aproveitariam os que a estudassem conscienciosamente. E' de vêr a utilidade a usufruir das viagens, como o provam exemplos frizantes tirados da historia literária. - D. Afonso 3.o, no seculo 13.o, de volta de França, fez-se acompanhar de poetas provençaes, que cá generalizaram esse bélo genero lirico, a mais brilhante fase dos primordios da historia da literatura portuguêsa.-Damião de Goes, no seculo 18.o, depois de intima convivencia com os homens mais notaveis do seu tempo, Erasmo, Lutero, Melanchton, etc., inaugura em Portugal a critica historica e, vitima da sua liberdade de idéas sobre religião, é perseguido pela Inquisição. D. Francisco Manuel de Melo, no seculo 17.o, tendo viajado por toda a Europa culta, é o unico português considerado no estrangeiro e o unico escritôr que mostra uma alta conceção da historia e que tenta o teatro.-E finalmente Eça de Queiroz, estabelecendo pelo estudo de visu a comparação entre a sociedade portuguêsa e as estrangeiras, denuncia depois o seu atraso, introduzindo assim o grande romance moderno de critica.

Estas novas fórmas vinham, supunha o seu introdutor, destronar as antigas medievas, de que o Cancioneiro Geral de Garcia de Rezende era um doloroso documento. Porém a antiga escola, chamada da medida velha, reagiu e, por um aperfeiçoamento natural, produziu Bėrnardim Ribeiro, Christovam Falcão e o grande Gil Vicente.

O soneto deve encerrar uma idéa mais ou menos ampla, segundo a faculdade de conceção do autor, mas abrangê la completamente. E' essa a principal dificuldade do soneto, que determina uma adjetivação inergica, mas apenas a estrictamente necessaria, evitar as preposições inuteis, termos redundantes, etc. E' tanto mais bem feito, quanto mais regular e fluente é o curso da idéa, crescendo de interesse, e cerrando-se finalmente no ultimo terceto com um conceito ou por uma maneira imprevista, que o bom gosto do poeta escolherá. A linguagem deve ser em harmonia com o assunto, e naturalmente erudita, visto como o soneto se reserva para temas elevados. Quanto á me

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