JESIAS SELECTAS PARA TURA, RECITAÇÃO, E ANALYSE DOS POETAS PORTUGUEZES EM CONFORMIDADE COM OS PROGRAMMAS ADOPTADOS PARA O CURSO DE PORTUGUEZ E LITTERATURA POR HENRIQUE AMIDOSI Bacharel formado em direito pela Universidade de Coimbra e de litteratura nacional no Lyeeu Central de Lisboa de 1852 a 1883 DECIMA SEXTA EDIÇÃO Conforme a decima terceira edição approvada pela junta consultiva 763463-170 Regras de metrificação portugueza Metros mais usados na poesia nacional Verso ou metro, como define o sr. Castilho, é um ajuntamento de palavras, e até, em alguns casos, uma só palavra comprehendendo determinado numero de syllabas, com uma ou mais pausas obrigadas, de que resulta uma cadencia aprazivel. Verso metrico é composto de um certo numero de syllabas de quantidade determinada, distinguindo-se em longas e breves. O verso metrico compõe-se de pés, isto é, de partes compostas de certo numero e determinada ordem e quantidade de syllabas. Verso syllabico é composto de um certo numero de syllabas com accentos postos em logares determinados. O verso metrico funda-se na qualidade das syllabas. As nações que tinham linguas sonoras e prosodia fixa, como a Grecia e Roma, adoptaram o verso metrico. A nações modernas, e entre ellas Portugal, que na pronuncia não fazem sentir a qualidade das syllabas por um modo tão distincto, adoptaram o verso syllabico. A contagem das syllabas não é para o poeta o mesmo, que para o grammatico. O grammatico conta por syllabas todos os sons distinctos em que as palavras se podem rigorosamente dividir. O poeta não conta por syllabas as que no correr da pronuncia ou não se percebem inteiramente ou quasi nada se percebem. Accento predominante ou pausa é aquella syllaba em que a voz se detem ou insiste mais. Toda a palavra tem necessariamente um accento predominante. As poucas que parecem ter dous, são compostas. Cesura, é a pausa ou suspensão mais ou menos sensivel que divide um verso em duas partes. E' necessaria nos versos compostos, e nos outros serve para lhes variar o andamento. Hemistychios são partes do verso ligadas á cadencia da accentuação total; cada uma d'essas partes, considerada como um verso completo, chama-se verso quebrado. Rima é a conformidade dos sons finaes de dous ou mais versos desde o ultimo accento predominante. Esta conformidade póde ser de quatro maneiras: pela aliteração, pela tautologia, pela assonancia e pela consonancia. A aliteração consiste na repetição da mesma letra no principio das palavras. E' a forma mais simples da rima. Encontra-se nos annexins populares, como: gota a gota o mar se esgota; domar potros, porém poucos; no seculo xv apparece com a fórma litteraria : Rey real, reglorioso A. de Brito Canc. ger. Tautologia é a repetição da mesma idéa por palavras differentes, exemplos: dito e feito; são e salvo. Pode ser aliterada. Os versos que tem uma só rima chamam-se monorrimos. Assonancia é a correspondencia dos sons das ultimas. vogaes acentuadas, esta rima chama-se toante. como chá, paz; manto, casco; horrifico; santissimo. Consonancia é a conformidade dos sons finaes das palavras desde o accento predominante até á ultima syllaba, esta rima chama-se consoante, como: valor, furor; arcano, humano; prudentissimo, brandissimo. Ós nossos poetas usaram pouco as toantes, encontramse mais na poesia popular. Em Hespanha ainda se usam. A rima emquanto à disposição dos versos rimados póde ser: emparelhada, encadeada, cruzada e interpolada. A rima é emparelhada ou em parelhas quando se repete em dous versos consecutivos. Encadeada quando a ultima palavra de um verso rima com uma palavra do meio do verso seguinte. Esta fórma de rima deu origem a diversas especies de canções, taes são: a mansobre doble, em que a rima é encadeada no meio e no fim do verso, repetindo-se os dous ultimos versos em todas as estrophes; a mansobre menor, em que se repete a mesma palavra no fim dos dous versos do principio da estrophe; lexaprem (deixa e pega) ou Canção redonda, em que o ultimo verso de uma estrophe serve de primeiro na estrophe seguinte. |