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Ter na familia um filho ou um parente padre era uma grande honra até os fins do seculo passado.

Torcessem embora a vocação do escolhido, fizessem comtudo a infelicidade de todo o resto de sua vida era coisa de somenos importancia comtanto que na familia, quer do rico, quer do pobre, com todo sacrificio houvesse um sacerdote.

José Borges de Barros, filho primogenito do valoroso capitão João Borges, que muito distinguiu-se na guerra dos hollandezes e de D. Maria de Barros, foi o escolhido pela familia para ser padre.

Nasceu Borges de Barros na Bahia no dia 18 de Março de 1657, segundo diz o Dr. Manoel Joaquim de Macedo no seu Anno Biographico Brasileiro, volume I, pagina 343; ou no anno de 1659, segundo J. M. Pereira da Silva no Supplemento biographico dos varões illustres do Brazil durante os tempos coloniaes, tomo II, pagina 317.

Começou seus estudos na companhia de Jesus, mas no fim de seis annos a sua fraca constituição e as enfermidades não lhe permittiram a observancia do Instituto Religioso.

Na Universalidade de Coimbra completou José Borges de Barros os seus estudos, tomando o gráu de mestre em artes e o de bacharel em sagrados ca

nones.

No Brazil foi mestre de escola da cathedral da Bahia, desembargador da Relação Ecclesiastica, vigario geral e juiz dos residuos.

Em Coimbra occupou os cargos de provisor e vigario geral e prior dos de Santa Maria de Azerede e S. João de Almedina e Arcediago de Cêa.

Por esse tempo, D. Pedro II, rei de Portugal, desagradara-se com o procedimento do prelado da diocese de Coimbra, cuja jurisdicção foi defendida por José Borges de Barros, o qual por esse motivo teve de passar-se para Lisboa, onde D. Simão' da Gama, arcebispo d'Evora, o nomeou seu provisor e vigario geral, obtendo depois como premio de seus serviços um canonicato na cathedral de Evora.

O sonho dourado, porém, de Borges de Barros era a roupeta, e na intenção de recebel-a recolheu-se ao oratorio de S. Felipe Nery, na villa de Entremoz e ahi falleceu á 10 de Março de 1719, com signaes de predestinado, como diz a Bibliotheca Luzitana.

Foi José Borges de Barros um homem estimado em seu tempo, illustrado mestre de philosophia e theologia e orador sagrado de nota, que deixou nome na tribuna evangelica da Bahia, Coimbra, Evora e Lisboa; foi um eximio canonista.

Da poesia foi Borges de Barros modesto cultivador, dedicando-se principalmente á musa latina; foi talvez melhor comediographo, sendo o unico em seu seculo que cultivou o genero.,

Infelizmente, de suas comedias a unica que salvou-se do esquecimento, intitulada A Constancia com triumpho, tem pouco valor.

O que em Borges de Barros espantava os seus contemporaneos eram a sua prodigiosa memoria e a sua escripta

Citam como exemplos de sua memoria os seguintes factos:

Ouvindo um collega recitar um grande sermão,

recolhia-se à cella e em poucas horas enviava-lhe o sermão escripto sem faltar-lhe ou mudar-lhe uma só palavra.

Proferindo-se á sua vista mi! vbulos, repetia-os immediatamente todos em sua ordem e depois do ultimo para o primeiro sem enganar-se nem mudar a ordem de um só!

Da sua escripta tecem louvores pela lindeza e perfeição dos caracteres, como também porque imitava de uma maneira assombrosa a firma ou escripta de qualquer por melhor ou peior que fosse a lettra!

Muitas vezes com uma só mão manejando duas pennas escrevia duas regras dessimilhantes na callygraphia e no sentido !

Como escriptor bem pouco nos resta d'elle.

Eis as obras e trabalhos deixados por José Borges de Barros:

Tractatus de Præceptis Decalogi 4.° M. S.

Pratica Judicial com o Formulario do provisor e vigario geral Fol. M. S.

Tratado pratico das materias heraficiaes 4.0
Arte de memoria illustrada.

A Constancia com triumpho, comedia.
Conclusões amorosas, M. S.

A maioria das obras deixadas por este illustre theologo e escriptor bahiano são manuscriptos em prosa; de suas poesias, na maioria sagradas e escriptas em latim, nenhuma escapou ao pó do esquecimento.

Frei Francisco Xavier de Santa Thereza

O systema de colonisação adoptado pelos portuguezes na America muito deveu ás communidades religiosas, porque ellas eram a unica fonte de luz para a instrucção n'aquelle tempo, e de seu seio sahiram grandes e notaveis oradores sagrados, poetas e homens de profundo saber.

Dentre estas communidades a dos franciscanos

muito e muito concorreu para a nossa civilisação e até no Rio de Janeiro elles tanto se distinguiram que formaram a Arcadia Franciscana Fluminense, a qual teve poetas como Fr. Antonio de Santa Ursula Rodovalho, Fr. Francisco da Candelaria, Fr. Francisco das Sanctas Virgens Salazar, Fr. Bernardo de S. Gonsalo, Fr. Ignacio das Mercês Malta, Fr. Ignacio de Santa Rosalia, Fr. Raymundo Penafort da Annunciação, Fr. Antonio de Santa Eulalia e Fr. Francisco de S. Carlos.

A provincia religiosa de Santo Antonio do Brazil, em Sergipe, tambem produziu seus poetas notaveis: era deste numero Fr. Francisco Xavier de Santa Thereza, natural da Bahia, e do qual agora nos vamos occupar.

Nasceu este Franciscano no dia 12 de Março de 1686. Era filho de Paschoal Luiz Bravo e de D. Thereza Viegas de Azevedo.

Estudou Fr. Francisco a principio na eschola dos jesuitas na Bahia, mas preferiu entrar para a ordem de Santo Antonio, em Sergipe do Conde a 4 de Julho de 1703, donde passou-se para Pernambuco, de lá para a ilha da Madeira para leccionar theologia e recebeu ordens de presbytero em Lisboa.

Enviado para Londres pela sua ordem percorreu depois a Europa, visitando a França, a Hollanda, parte da Allemanha e, tendo enriquecido n'esta viagem sua intelligencia com estudos e observações, regressou a Portugal. Voltou a Inglaterra em 1714 e fez uma excursão pelos Paizes Baixos.

Por esse tempo intentou o papa Clemente XI libertar a Ilha Corfu que se achava em poder dos turcos e conseguiu de D. João V uma frota, da qual foi chefe o Conde do Rio Grande, e que em 1712 partiu para esse fim. levando a seu bordo, na qualidade de capellão, Fr. Francisco Xavier de Santa Thereza, o qual assistiu ao combate naval do golfo de Passavá. no Archipelago, a 19 de Julho de 1717 e n'elle perdeu uma perna com um tiro de bala.

Voltando a Portugal foi o nosso franciscano leitor de theologia, penitenciario geral da Ordem Sera

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