phica, examinador das tres ordens militares e do priorado do Crato, consultor da Bulla da Cruzada e membro da Academia Real de Historia Portugueza. Notabilisou-se como orador sagrado, cultor das lettras e poeta latino, e tiveram tanta nomeada os seus sermões e as suas obras latinas em prosa e verso que mereceu por estas producções de seu peregrino talento ser incluido entre os socios da Arcadia Romana na qual tomou o nome poetico de Elvedio. Fr. Francisco de Santa Thereza falava correntemente diversas linguas e as suas obras são mencionadas e elogiadas por Diogo Barbosa em sua Bibliotheca e o Sr. Innocencio Francisco da Silva no seu Diccionario Bibliographico Portugues. Sobre a data da morte do illustrado e sabio poeta. bahiano divergem as opiniões de seus biographos. O Dr. Joaquim Manoel de Macedo no seu Anno Biographico Brazileiro no 1.° volume, pagina 321, sustenta que ignora-se até a data do anno; porém Pereira da Silva nos Varões illustres do Brazil no 2.o volume, pagina 320, diz que Fr. Francisco de Santa Thereza falleceu em Lisboa em 1737. Sacramento Blake assevera que elle falleceu muito depois, porque, em 1758, ainda vivia quando Barbosa Machado publicou o ultimo tomo de sua Bibliotheca Luzitana, como diz este autor na dita obra. Santa Thereza escreveu: -Oratio panegirica (em latim). Lisboa, 1725, in 4.o E' seguida de um epigramma latino e um soneto. -Sermão da Soledade de Maria Santissima na igreja do Hospital Real de Lisboa, no anno de 1729. Lisboa, 1733, in 4.o -Sermão panegirico na festa do patrocinio do, illustre e glorioso patriarcha S. José de Ribamar em 17 de Junho de 1733. Lisboa, 1735, in 4.° -Oração funebre nas solemnes exequias do augustissimo Cezar Carlos VI, celebradas pela nação germanica no Convento de S. Vicente de Fóra em 9 de Março de 1741. Lisboa, 1742, in 4.o -Oração funebre nas exequias do illustrissimo e excellentissimo senhor D. Jayme de Mello, terceiro Duque de Cadaval, quinto Marquez de Ferreira e sexto Conde de Portugal, na igreja real do convento de S. Francisco d'essa cidade, em 27 de Junho de 1741. Lisboa, 1749, in 4." - Elogio funebre, historico e chronologico nas exequias do excellentissimo e reverendissimo senhor bispo do Porto, D. Fr. José Maria da Fonseca e Evora, celebradas em 2 de Setembro de 1752. Lisboa, 1752, in 4.o -Elogio funebre, recitado nas exequias do serenissimo senhor infante D. Antonio, celebradas no hospicio de S. Francisco de Campolide. Lisboa, 1758, in 4.° -Pratica com que congratulou a Academia Real de estar eleito seu collega, recitada no paço, a 5 de Setembro de 1735. Lisboa, 1736, in 4.o -Tres poesias aos principes brazileiros (em latim). Lisboa, 1728, in 4.o -Cinco epigrammas latinos, dous elogios latinos e dous sonetos em portuguez. Lisboa, 1735, in 4.o -Um elogio latino, cinco epigrammas e tres sonetos. Lisboa, 1736, in 4.o -Um elogio e quatro epigrammas latinos e um soneto. Lisboa, 1735, in 4.° -Poesias á memoria do Duque de Cadaval D. Nuno Alvares Pereira de Mello-São dous sonetos, quatro epigrammas e uma elegia. Vem nas «Ultimas acções do Duque, etc. Lisboa, 1730.» pags. 171 a 176. -Poesias em louvor do padre D. Raphael Bluteau, clerigo regular.-São quatro epigrammas latinos e um soneto em portuguez. Vem no «Obsequio funebre que dedicou a Academia dos Applicados, etc. Lisboa, 1734.. -Poesias em applauso do excellentissimo e reverendissimo bispo do Porto, D. Fr. José Maria da Fonseca e Evora, chegando de Roma a Lisboa, Lisboa 1742, in 4.0 -São tres epigrammas e um soneto, e se acham em uma collecção de outras poesias sobre o mesmo objecto. -Poema ao Espirito Santo-Inedito, cujo manuscripto affirma Barbosa Machado que existia no Con vento de Olinda. Consta o poema de cem versos, todos começando pela lettra S. -Flosculus Epigrammaticus. São epigrammas a todos os santos da ordem seraphica. Inedita. Como notavel poeta o tinham os seus contemporaneos e todos consideravam em seu genero como a obra prima de suas composições metricas a tragicomedia do martyrio de Santa Felicidade e seus filhos. De suas obras em prosa é elogiada como a melhor a que trata de suas memorias. José de Oliveira Serpa Mais um socio da Academia dos Esquecidos, mais um frade poeta cuja vida e obras foram lançadas ao esquecimento. José de Oliveira Serpa nasceu na cidade da Bahia no anno de 1696, não se sabe em que dia, nem em que mez. Logo que começou a estudar com os jesuitas manifestou o seu talento poetico, ensaiando-se no humorismo que era o genero para que tinha vocação. Entrou ainda moço para a Academia dos Esquecidos, da qual fizeram parte, alem de Sebastião da Rocha Pittà e João Luiz de Brito e Lima já por nós citados, os poetas Antonio de Oliveira, Luiz Sancho de Noronha, André de Figueiredo Mascarenhas, Manoel de Mesquita Cardoso, Antonio de Freitas do Amaral, Luiz Canello de Noronha e Anastacio Ayres Penhafiel. Todos estes poetas eram da eschola classica e mais ou menos gongoricos, sendo o nosso biographado o mais humorista. José de Oliveira Serpa era muito estimado por todos e contava amigos entre seus collegas-os esquecidos-sendo o melhor d'elles Sebastião da Rocha Pitta ao qual dedicou versos encomiasticos como adiante veremos. De sua vida apenas sabemos, alem do que já dissemos, que foi carmelita; ordenou-se presbitero no collegio dos jesuitas; foi orador evangelico de muito credito e compoz poesias mysticas que não se imprimiram. De suas poesias conhecemos um soneto feito a Rocha Pitta e um Romance joco-serio em louvor da Academia dos Esquecidos. O soneto é um verdadeiro hieroglipho para quem não souber mythologia ou não tiver pelo menos um Diccionario da Fabula de Chompré para se dar ao trabalho de consulta!-o afim de comprehender o que quer dizer o author. Era um dos grandes defeitos da eschola classica que, imitando os gregos, trasladava a sua mythologia e difficultava a comprehensão para os profanos. Quem pode comprehender o Luziadas sem um diccionario mythologico? O soneto de Oliveira Serpa, alem de classico, é gongorico: aproveita o nome de Rocha para fazer com esta palavra um jogo forçado comparando-a com a rocha do monte Helicon do qual consta que o cavallo Pegaso batendo com a pata fez jorrar a fonte da poesia. E' preciso estar muito a par da grega religião para saber que Museu, Delio e Numen Cynthio eram sobrenomes de Apollo, o deus da poesia, e que Helicon foi o nome donde jorrou a fonte da poesia chamada Hypocrene á patadas de Pegaso, cavallo de Apollo. Quanto ao romance joco-serio é uma versalhada que podia ser que tivesse muito sal em seu tempo e que fizesse rir muito os seus contemporaneos, mas, actualmente, é d'uma sensaboria revoltante. Gonçalo Soares de Franca Reina a respeito d'este poeta bahiano do seculo XVII a mais lamentavel confusão sobre seu nome e seu berço entre os authores que d'elle se occupam. Alguns como Perié cahem até em contradicções. O mesmo embaraço e indecisão nota-se n'aquelles que estudam a Academia dos Esquecidos, quanto ao numero e nome de seus socios: assim além dos apresentados por Mello Moraes Filho no seu Parnaso Brazileiro e por nós já transcripto na biographia de João de Brito e Lima á pagina 3 do n. 15 da Renascença e dos que demos a pagina 3 do n. 16, além d'esses, Silvio Romero em sua Litteratura Brasileira, tomo 1, pagina, 180, acrescenta João de Mello, Manuel José Cherém, J. Pires de Carvalho e Albuquerque, João Borges de Barros, José de Oliveira Serpa, Frei Henrique de Sousa, Manoel R. Corrêa de Lacerda e Jeronymo Sodré Pereira. Eduardo Perié ajunta em sua Litteratura Brazileira aos nomes acima citados os dos dois irmãos Bartholomeu e Alexandre de Gusmão. Manoel Joaquim de Macedo no seu Anno Biographico Brasileiro cita os nomes dos fundadores da Academia com os seus pseudonymos de Obsequioso, Nubiloso, Occupado, Laborioso, Vago, Infeliz e Ven turoso. Todos estes authores, porém, nunca deixam de citar o nome de Gonçalo Soares da França (ou Gonçalo Soares Franca, segundo outros chamam ou, ainda, Gonçalo Soares de Franca) como socio fundador que figurou entre os Esquecidos com o pseudonymo de Obzequioso. E este Gonçalo Soares Franca ou da França que se confunde com o nosso poeta João Alvares Soares que alguns chamam tambem da França. Vamos estudar transcrevendo-as, as confusões e contradicções de cada um destes escriptores, para depois externarmos a nossa opinião a respeito. J. M. Pereira da Silva nos Varões illustres do Brazil durante os tempos coloniaes, tomo 2°, supplemento biographico, pagina 313, diz: «Gonsalo Soares da França nasceu no EspiritoSanto em 1632. Escreveu em latim um poema intitulado Brazilica ou Descobrimento do Brazil, e em |