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tos necessarios para a vida commercial. Mas a decidida negação de sua indole esthetica, e ingenua, para esse trafico, que outro sim havia ja seo Pai desgostoso abandonado, applicandose á lavoura, o levou em 1820 a Paris, na intenção de estudar a Medicina. Ainda uma contrariedade. Com tal estudo não se compadecia a sua saude. Apresenta-se em Coimbra; mas elevando-se D. Miguel ao throno, fecha a Universidade.

II.

Ei-lo em fim o nosso Comprovinciano matriculado no Curso Juridico da Cidade de Olinda em Março de 1829. E assim, depois de percorrer as capitaes mais civilisadas da Europa, e enriquecido o seo espirito com o estudo das linguas vivas, que fallava, e escrevia perfeitamente, e com a illustração que transmittem as viagens, vinha o Mancebo Pernambucano pela segunda vez procurar a sciencia, e a instrucção na terra em que vio a luz! Elle mesmo commemorava com ufania este resultado das voltas do mundo.

Neste viver, e aprender em Olinda, tendo por companheiros os seus irmãos Sergio Teixeira de Macedo (boje Conselheiro, e ex-Ministro de Estado dos Negocios do Imperio) e Diogo Teixeira de Macedo (hoje desembargador aposentado) o seo trato amavel, e interessante foi sempre mui apreciado por todos os seus collegas. Sob este Céo iriante, e feiticeiro da Patria, começou então a fazer-se ouvir a doce musica de sua alma, a poesia, que entrava sempre nas suas honestas distracções. Raro era o jantar, ou brodio sociavel, a que elle não trouxesse, e lesse algum soneto, ou outra alguma peça de bons versos, inspirações da amizade, e com certo cunho de original.

Costumavão alguns Cidadãos naquelles tempos dar no Recife um magnifico jantar no dia 7 de Setembro, em commemoração, e applauso da faustissima Independencia do Brasil. Era o anno de 1829, anno de lucta encarniçada, entre a opinião liberal defensora da Constituição, e a que se dizia, e bem o parecia, quere-la derribar. Convidarão os Patriotas festejado

res aos Academicos de Olinda a fazerem-se representar no jantar por quatro de entre elles. Um dos escolhidos foi o nosso Alvaro Teixeira de Macedo, que recitou naquelle brilhante, e politico regosijo nacional, entre vivas, e applausos, um elogio em versos heroicos, a que a imprensa deo logo publicidade.

Concluido o curso de sciencias sociaes, e juridicas, em que por vezes se lhe conferirão premios, e laureado Bacharel, restituio-se o jurista, e poeta Alvaro Teixeira de Macedo á Casa paterna estante na Corte do Rio de Janeiro.

III.

Na reforma da Alfandega do Rio de Janeiro teve Alvaro a nomeação de 1o Escripturario. E persistiria elle em tal emprego, satisfeito? As recordações das sumptuosidades, e prazeres da soberba filha de Agenor, certo empenho, que elle quiz, e podia romper, e o dissabor do estado politico do Brasil, o decidirão a solicitar um lugar na classe diplomatica. Despacharão-no Addido servindo de Secretario da Legação Imperial em Lisboa, para onde havia sido no mesmo anno de 1834 nomeado Chefe com o caracter de Encarregado de Negocios seo Irmão mais moço Sergio. Erão ambos, e sempre forão, tão amigos, e unidos! Em 1836 foi promovido a Secretario da importante Missão de Londres.

Até aqui a sua carreira foi regular; de ora avante o Governo o esqueceo, apezar do muito bem que delle informavão os eminentes Estadistas seus chefes, um Galvão, um Montesuma, e um Marques Lisboa. Secretarios mais modernos passavão a chefes de Missão, homens novos começavão a carreira em posições mais elevadas, e Alvaro parecia destinado a ser Secretario perpetuo! A magoa destas injustiças a exhalou elle em elegantes versos no Poema jocoserio A Festa de Baldo. Não fariamos aqui applicações pessoaes inuteis, sobre odiosas, quando ja se não póde reparar o injusto, ainda que possuissemos dados seguros; mas de semelhantes preterições... (e qual he o

Paiz gabadinho, que por ellas não seja infelizmente, mais ou menos, viciado ?) cabe repetir em geral com o justiçoso Camões:

Mas vingo-me, que os bens mal repartidos
Por quem so doces sombras apresenta,
Se não os dão a sabios Cavalleiros,
Dão-nos logo a avarentos lisongeiros.

O viver desgostoso, e effeitos que parecerão de uma febre intermittente que padecera em Olinda, o adoecerão gravemente em Londres. Estava elle em 1843 em Lisboa com licença no seio da Familia de sua Mulher medicando-se, porque a doença reapparecera, e exacerbara-se; quando recebeo ordem de partir para Vienna da Austria, a fim de preencher o lugar de Encarregado de Negocios interino. Não lh'o permettia o seo estado, mas sobrepujarão á enfermidade o dever, e o pundonor; partio doente, e só, deixando a cara Consorte em Lisboa; que por ser a partida tão rapida o não pôde logo acompanhar. Em Vienna da Austria os males de que gemia pozerão-lhe a vida em perigo por duas vezes; a dedicação, e amizade de um Medico generoso, e filantropo, que até o alojou em sua Casa, o salvarão; mas era uma saude para sempre estragada.

Preenchida de novo a Legação com a nomeação de um Ministro Plenipotenciario, foi Alvaro, em vez de promovido a Encarregado de Negocios, como devia ser, passado para Lisboa no seo antigo caracter de Secretario de Legação. Todavia em fins de 1848 foi promovido a Encarregado de Negocios da Belgica, para onde se transportou com sua Mulher, e Filhos.

Sua vida era um continuo soffrer: o estomago era atacado, e depois o cerebro. Soffria dores de cabeça terriveis; perdeo a memoria dos factos recentes, e actuaes, posto que guardasse a dos antigos. Os Medicos julgarão haver tuberculos no cerebro. Tornou-se vesgo, e quasi cégo, e ainda victima de frequentes syncopes, ou desmaios. Nada lhe valerão a sciencia dos primeiros Medicos, e os esmeros, e desvelos de sua virtuosa 20

TOMO III.

Consorte. Em 7 de Dezembro de 1849 um dos costumados ataques, de que era atormentado, poz-lhe fim á existencia.

IV.

Alvaro Teixeira de Macedo foi casado com a Senhora D. Anna de Macedo, filha de Roberto Lucas, negociante de grosso trato em Lisboa, associado á primeira Casa de commercio dos vinhos de Portugal, e de boa Familia Ingleza, pois seo pai fora Deão de S. Paulo, uma das prebendas mais consideraveis de Londres.

Para viver feliz no casamento (diz o douto Yvon) não o effeitueis sem amar, e ser amado. Robustecei este amor fundando-o na virtude. Se elle não tem outro objecto, senão a belleza, as graças, e a mocidade; tão fragil como estas vantagens passageiras, elle passará bem de preça como ellas; mas se he vinculado ás qualidades do coração, e do espirito, permanece á prova do tempo. Destes meritos, e realces moraes de sua Esposa bemaventurava-se o amor conjugal de Alvaro Teixeira de Macedo; e elles tanto lhe enchião os olhos, que pelo modo mais publico, e duradouro os reconheceo, e proclamou. Na Festa de Baldo achareis esta exultação:

Feliz eu, que alcancei das mãos da Sorte
A Mulher que meo Baldo procurava !
Seo peito vai no rumo da Fortuna,
Complacente sorrindo a seus caprichos,
E grata qualquer bem alto louvando.
Feliz eu, que alcancei das mãos da Sorte
A Mulher que meo Baldo procurava!

Ah! Que ao transcrevermos estes versos o nosso coração commove-se, e suspira: Eu tambem fui ditoso! Mas o Anjo de ternura, è consolações, que o sereno Céo dispensou-me, o Céo m'o revocou, apenas passados tres annos. Ainda agora na viuvez melancolica de trinta e quatro invernos a sua lem

brança me he tão viva, e penetrante !.. Tão saudosa!.. Quão poucos instantes brilha dia escasso da nossa vida!

Alvaro Teixeira de Macedo sempre demostrou particular affeição á sua Provincia natal, e aos Amigos da infancia. A qual Pernambucano, que na Europa lhe aparecesse, deixou elle de comprazer, e prestar-se, não so com as attenções da urbanidade, mas com attractivo agasalho, e affectuosa alegria? Como poeta, elle amava tambem o fantastico, e sombrio, o terrivel do genero de Shakspeare, e de Milton, e versificou um episodio da primeira guerra dos Cruzados cheio de apparições de Fantasmas, que vinhão punir as infidelidades, e os crimes dos sobreviventes. Mas de continuo a produzir com facilidade, e gosto em todos os generos (cousa rarissima!) nunca se decidio a divulgar as suas obras. Salvo a poesia á Independencia, que o Diario de Pernambuco publicou, e a Festa de Baldo, nada mais delle consta que tivesse sahido do circulo de alguns amigos, a quem fazia elle mesmo a leitura; e até em seus ultimos dias destruio grande parte de suas lucubrações poeticas, a que não tinha ainda posto a ultima lima: entre ellas figuravão a traducção em verso da Tragedia Otello de Shakspeare, e um Drama em prosa, em que zurzia a um tempo os usurarios, e as loureiras.

Na Gazeta L'Independance Belge de 10 de Dezembro de 1849 se acha a seguinte descripção do seò funeral que he uma das provas brilhantes do excellente comportamento com que por toda parte elle soube conciliar affeições, e saudades.

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Hoje a uma hora depois do meio dia tiverão lugar as exequias solemnes do Cavalheiro Alvaro Teixeira de Macedo, Encarregado de Negocios do Brasil junto ao governo Belga.

Dous batalhões do 5o regimento de linha sob o commando do Coronel Van Rode formavão a escolta. A musica do 5o abria a marcha executando arias funebres. A casa do Rei era representada por duas carruagens em grande libré occupadas pelo general Dupont, ajudante de campo do Rei, e por um ajudante de ordens. No cortejo, além do senhor Hoffschmid, ministro dos negocios estrangeiros, e do Secretario geral do Minis

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