Pagina-afbeeldingen
PDF
ePub

OS LUSIADAS

CANTO TERCEIRO

OS LUSIADAS

CANTO TERCEIRO

I

Agora tu, Calliope, me ensina

0

que contou ao Rei o illustre Gama: Inspira immortal canto e voz divina Neste peito mortal, que tanto te ama. Assi o claro inventor da medicina, De quem Orpheo pariste, ó linda dama, Nunca por Daphne, Clycie, ou Leucothoe, Te negue o amor devido, como soe.

II

Põe tu, Nympha, em effeito meu desejo,
Como merece a gente Lusitana;
Que veja e saiba o mundo, que do Tejo
O licor de Aganippe corre e mana.
Deixa as flores do Pindo, que já vejo
Banhar-me Apollo na agua soberana;
Senão direi, que tens algum receio,
Que se escureça o teu querido Orpheio.

TOM. VI

III

Promptos estavam todos escuitando
O que o sublime Gama contaria;

Quando, despois de hum pouco estar cuidando,
Alevantando o rosto, assi dizia:

Mandas-me, ó Rei, que conte declarando
De minha gente a grão genealogia:

Não me mandas contar estranha historia,
Mas mandas-me louvar dos meus a gloria.

IV

Que outrem possa louvar esforço alheio,
Cousa he que se costuma e se deseja;
Mas louvar os meus proprios, arreceio
Que louvor tão suspeito mal me esteja;
para dizer tudo, temo e creio
Que qualquer longo tempo curto seja :
Mas pois o mandas, tudo se te deve;
Irei contra o que devo, e serei breve.

E

V

Alem disso, o que a tudo em fim me obriga,
He não poder mentir no que disser,
Porque de feitos taes, por mais que diga,

Mais me ha de ficar inda por dizer:

Mas, porque nisto a ordem leve e siga,
Segundo o que desejas de saber,
Primeiro tratarei da larga terra,
Despois direi da sanguinosa guerra.

VI

Entre a zona, que o Cancro senhorea,
Meta septentrional do Sol luzente,
E aquella, que por fria se arrecea
Tanto, como a do meio
por ardente,
Jaz a soberba Europa, a quem rodea,
Pela parte do Arcturo e do Occidente,
Com suas salsas ondas o Oceano,

E pela Austral, o mar Mediterrano.

VII

Da parte donde o dia vem nascendo,
Com Asia se avizinha: mas o rio,
Que dos montes Rhipheios vai correndo
Na alagoa Meotis, curvo e frio,

As divide, e o mar, que fero e horrendo
Vio dos Gregos o irado senhorio,

Onde agora de Troia triumphante

Não vê mais que a memoria o navegante.

VIII

Lá onde mais debaixo está do polo,
Os montes Hyperboreos apparecem,
E aquelles onde sempre sopra Eolo,
E co'o nome dos sopros se ennobrecem :
Aqui tão pouca força tem de Apollo
Os raios, que no mundo resplandecem,
Que a neve está contino pelos montes,
Gelado o mar, geladas sempre as fontes.

« VorigeDoorgaan »