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“Mas, em quanto te escuda e te defende,
"Lavra contra elle settas a Ignorancia;
"E dos seus bens e fama

"Põe opimo despojo

"Nos altares da Inveja e da Calumnia:
"Iniquo galardão de haver-te amado!"

Porém a mais evidente prova do reconhecido merecimento deste poema, he o fervor com que todas as nações cultas da Europa o tem procurado apropriar a si, vertendo-o cada uma no seu idioma; poisque em Hespanhol sabemos de trez traducções; em Francez temos notícia de quatro; outras tantas se contão em Italiano, sendo a ultima a de Bricolani, impressa em París em 1826, obra mui estimavel pela sua fidelidade e elegancia; na lingoa Ingleza duas; outras tantas na Alemãa; uma na Dinamarqueza; outra na Sueca: e até na Moscovita ha traduzidos os episodios de Ignez de Castro e Adamastor. Das lingoas mortas, tambem se acha vertido na Latina e na Hebraica. E assim se póde dizer de Camões que, igualmente com Homero e Virgilio, tem por limites á sua fama os confins da Terra.

OS

LUSIADAS.

OS LUSIADAS.

CANTO PRIMEIRO.

I.

As Armas e os Barões assinalados,
Que da Occidental praia Lusitana,
Por mares nunca d'antes navegados,
Passárão ainda além da Taprobana;
E em perigos e guerras esforçados,
Mais do que promettia a força humana,
Entre gente remota edificárão

Novo Reino, que tanto sublimárão:

II.

E tambem as memórias gloriosas
Daquelles Reis, que forão dilatando

A Fé, o Imperio; e as terras viciosas
De Africa e de Asia andárão devastando;
E aquelles que por obras valerosas
Se vão da lei da morte libertando;
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

Camões 1.

1

III.

Cessem do sabio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizerão;
Calle-se de Alexandro e de Trajano
A fama das victórias que tiverão;
Que eu canto o peito illustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedecêrão:
Cesse tudo o que a Musa antigua canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.

IV.

E vós, Tagides minhas, pois creado
Tendes em mi hum novo engenho ardente;
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mi vosso rio alegremente;
Dai-me agora hum som alto e sublimado,
Hum estylo grandiloquo e corrente;
Porque de vossas aguas Phebo ordene
Que não tenhão inveja ás de Hippocrene.

V.

Dai-me huma furia grande e sonorosa,

E não de agreste avena ou frauta ruda;
Mas de tuba canora e bellicosa,

1

Que o peito accende, e a côr ao gesto muda:
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que Marte tanto ajuda;
Que se espalhe e se cante no Universo;
Se tão sublime preço cabe em verso.

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