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VI.

Guarda-lhe por entanto hum falso Rei
A cidade Hierosolyma terreste,

Em quanto elle não guarda a sancta lei
Da cidade Hierosolyma celeste.

Pois de ti, Gallo indigno, que direi?
Que o nome Christianissimo quizeste,
Não para defendê-lo, nem guardá-lo,
Mas para ser contra elle e derribá-lo.

VII.

Achas que tees direito em senhorios

De Christãos, sendo o teu tão largo e tanto; E não contra o Cinypho e Nilo, rios

Inimigos do antiguo nome santo?

Alli se hão de provar da espada os fios
Em quem quer reprovar da Igreja o canto.
De Carlos, de Luis, o nome e a terra
Herdaste, e as causas não da justa guerra?

VIII.

Pois que direi daquelles, que em delicias
Que o vil ocio no mundo traz comsigo,
Gastão as vidas, logrão as divicias,
Esquecidos de seu valor antigo?

Nascem da tyrannia inimicicias,

Que o povo forte tée de si inimigo:

1

Comtigo, Italia, fallo, ja submersa

Em vicios mil, e de ti mesma adversa.

IX.

Oh miseros Christãos! pola ventura,
Sois os dentes de Cadmo desparzidos,

Que huns aos outros se dão a morte dura,
Sendo todos de hum ventre produzidos?
Não vêdes a divina sepultura

Possuida de Cães, que sempre unidos
Vos vem tomar a vossa antigua terra,
Fazendo-se famosos pela guerra?

X.

Védes que tee por uso e por decreto,

Do qual são tão inteiros observantes,

Ajuntarem exército inquieto,

Contra os povos que são de Christo amantes;

E entre vós nunca deixa a fera Aleto

De semear cizanias repugnantes:

Olhai se estais seguros de perigos,

Que elles e vós sois vossos inimigos.

XI.

Se cobiça de grandes senhorios

Vos faz ir conquistar terras alheias,
Não vêdes que Pactolo e Hermo rios,
Ambos volvem auriferas areias?

Em Lydia, Assyria, lavrão de ouro os fios;
Africa esconde em si luzentes veias;
Mova-vos ja sequer riqueza tanta,
Pois mover-vos não póde a Casa santa.

XII.

Aquellas invenções feras e novas
De instrumentos mortaes da artilheria
Ja devem de fazer as duras provas
Nos muros de Byzancio e de Turquia.
Fazei que torne lá ás sylvestres covas
Dos Caspios montes, e da Scythia fria
A Turca geração, que multiplica
Na polícia da vossa Europa rica.

XIII.

Gregos, Thraces, Armenios, Georgianos,
Bradando-vos estão, que o povo bruto
Lhe obriga os charos filhos aos profanos
Preceitos do Alcorão: (duro tributo!)
Em castigar os feitos inhumanos
Vos gloriai de peito forte e astuto;

E não queirais louvores arrogantes
De serdes contra os vossos mui possantes.

XIV.

Mas em tanto que cegos e sedentos
Andais de vosso sangue, ό gente insana,

Não faltarão Christãos atrevimentos
Nesta pequena casa Lusitana.

De Africa tee maritimos assentos;
He na Asia mais que todas soberana;
Na quarta parte nova os campos ara;
E se mais mundo houvera, lá chegára.

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XV.

E vejamos entanto que acontece Áquelles tão famosos navegantes, Despois que a branda Venus enfraquece O furor vão dos ventos repugnantes; Despois que a larga terra lhe apparece,

Fim de suas porfias tão constantes,

Onde vem semear de Christo a lei,
E dar novo costume, e novo Rei.

XVI.

Tanto que á nova terra se chegárão,
Leves embarcações de pescadores
Achárão, que o caminho lhe mostrárão
De Calecut, onde erão moradores.
Para lá logo as proas se inclinárão;
Porque esta era a cidade das melhores
Do Malabar melhor, onde vivia

O Rei, que a terra toda possuia.

XVII.

Além do Indo jaz, e aquem do Gange,
Hum terreno mui grande e assaz famoso,
Que pela parte Austral o mar abrange,
E para o Norte o Emodio cavernoso.
Jugo de Reis diversos o constrange
A várias leis: alguns o vicioso
Mafoma, alguns os idolos adorão,

Alguns os animaes, que entre elles morão.

XVIII.

Lá bem no grande monte, que cortando
Tão larga terra, toda Asia discorre;
Que nomes tão diversos vai tomando,
Segundo as regiões por onde corre;
As fontes sahem, donde vem manando
Os rios, cuja grão corrente morre

No mar Indico, e cercão todo o pêso
Do terreno, fazendo-o Chersoneso.

XIX.

Entre hum e o outro rio, em grande espaço,
Sahe da larga terra hũa longa ponta,
Quasi pyramidal, que no regaço
Do mar, com Ceilão insula confronta:
E junto donde nasce o largo braço
Gangetico, o rumor antiguo conta,
Que os visinhos, da terra moradores,
Do cheiro se mantée das finas flores,

XX.

Mas agora de nomes e de usança
Novos e varios são os habitantes;

Os Delijs, os Patanes, que em possança
De terra e gente, são mais abundantes:
Decanis, Oriás, que a esperança

Tée de sua salvação nas resonantes
Águas do Gange; e a terra de Bengala,
Fertil de sorte, que outra não lhe iguala.

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