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por interpretações propheticas, mas por cartas bem rumadas, como notou o cosmographo Pedro Nunes; só assim é que se comprehenderá esse assombroso phenomeno historico, a alta expressão do genio e da nacionalidade portugueza, confundido com a aventura de Colombo, que cuidou ter descoberto Cypango. Copernico alludiu ás navegações feitas sob os Princepes hespanhoes (Fernando e Isabel) e da Lusitania (D. João II e D. Manoel); e quando se frisa o facto capital da edade moderna no descobrimento da America, em 1492, por Christovam Colombo, não se lembram os narradores historicos, que esse facto foi realisado pelos conhecimentos adquiridos em Portugal pelo contacto do genovez com os nossos navegadores, apoderando-se de uma parte do plano dos Descobrimentos que os portuguezes iam realisando. A chegada de Colombo a Portugal, attrahido pela actividade maritima d'esta nação, foi entre 1470 a 1472, quando já estava realisada a exploração das Ilhas atlanticas, primeiro estadio para a exploração dos mares occidentaes. Colombo, relacionado com a familia de Perestrello, casou-lhe com a filha D. Isabel Moniz por 1475, e com sua mulher visitou Philippa Moniz, casada com Pedro Correia, governador de Porto Santo, e tambem navegador. O proprio Colombo confessa o que deveu ás suas relações pessoaes com portuguezes: «estando en Portugal comenzó á congeturar que el mismo modo que los Portugueses navegaron tan lejos al Mediodia, podria navegarse la vuelta de Occidente y hallar tierras en aquel viage.» Assim se expressa He

nando Colon, seu filho, na Vida del Almirante; mas, embora se arrogue a originalidade do descobrimento por congeturas, vê se forçado a confessar, que tambem foi dirigido por los indicios de los navegantes. Foram esses indicios as viagens realisadas ao Labrador por navegadores insulanos, que determinaram Colombo á sua primeira viagem aos mares do Norte: «Yó navegué el año de 477 en el mes de Febrero: ultra Tile, cien leguas... » E da segunda viagem para o sul, ás possessões portuguezas do Golfo de Guiné em 1481, diz: Yo estuve en el castillo de la Mina del Rei de Portugal, que está debajo de la equinocial, y ansy soy buen testigo, que no és inhabitable como dicen.» Era essa uma das questões geographicas dominantes antes dos descobrimentos portuguezes. A viuvez de Colombo é que o levou a estas emprezas arrojadas; então se offereceu a D. João II para realisar as navegações para o Occidente. E' aqui que a excusa de D. João II recebe uma explicação nova; não foram as exigencias excessivas de Colombo nem o parecer negativo do Conselho real, que fizeram recusar-lhe os serviços, mas sim o confiarem ao estrangeiro uma viagem isolada, que constituia parte de um plano completo de expedições maritimas; então Colombo parte para Hespanha em 1488, tendo ainda por algum tempo relações com D. João II; desconhecendo o plano das Navegações portuguezas, intenta, sob o terror dos Turcos na Europa, descobrir um Continente para onde se estenda a Fé catholica, e entre os seus livros figuram as Prophecias, com que se suggestionava. O quadro integral das

Navegações portuguezas é essencial para a sua comprehensão historica. Luciano Cordeiro traça o laconicamente, mas com linhas nitidas:

«Esse caminho é realmente o do estudo e o da critica conscienciosa, minuciosa e serena do movimento das explorações maritimas iniciadas pelos Portuguezes, não apenas como se costuma pensar e dizer, sob a direcção do grande Infante D. Henrique, mas desde que Portugal começou a constituir uma nação e um estado historicamente distincto ao longo da costa occidental mais avançada da Europa.

«Colombo fez-se n'este meio. Se nasceu na Italia e morreu ao serviço da Hespanha, foi em Portugal que se fez homem, e foi seguramente por isso e aqui que se fez navegante e descobridor. E' um facto irrecusavel e certo.

«Ora escusado será dizer, que o movimento alludido tem de ser considerado não como um facto sporadico, como producto de um plano ou de um capricho individual-tal concepção é radicalmente absurda,-mas como intima e fatalmente relacionado com a formação da nossa nacionalidade sob todos os varios aspectos e elementos concorrentes d'essa formação:- geographicos, ethnicos e politicos.

A lenda geral, tam adoptada pelos politicos e escriptores hespanhoes, de que nós somos apenas um termo politicamente desagregado d'esta simples expressão geographicaa Hespanha-tem contribuido para as mais desastrosas illusões e para os mais extraordinarios erros, entre os quaes os que andam vulgarisados a respeito da nossa singular ex

pansão maritima e colonial, aliás bem diversa da dos nossos visinhos.

«Assim é, que não se tem considerado tambem, que duas correntes diversas caracterisam desde o comêço, os nossos Descobrimentos: uma para o Oéste, para os desconhecidos mares que se alargam e nos attráem em face da nossa extensa costa occidental; - outra para o Sul, ao longo da costa africana, definindo-se, um dia, na procura das terras orientaes da velha tradição erudita.

Desde que a primeira d'aquellas correntes, já bastante sangrada pela segunda, attinge ou descobre os Açores-a meio caminho do Novo Mundo,-póde dizer-se que a descoberta da America está tão assegurada, como fica a da India desde que a segunda corrente, continuada por Bartholomeu Dias, monta o Cabo da Boa Esperança. — Assim como logo depois de Diogo Cam plantar o seu padrão em Cross cape... Bartholomeu Dias passa ávante, e Vasco da Gama entra no Mar da India; - tambem desde que descobrem e povôam os Açores, os Portuguezes lançam-se para a frente na pesquisa de novas terras occidentaes, solicitam com toda a segurança a concessão antecipada d'ellas, e longe de alimentar illusões de que seja navegando para o Occidente que acertarão com o caminho de Este, contam pelo contrario, com regiões inteiramente desconhecidas e novas. Quando muito, e alguns apenas, sonham com a vaga tradição da Antilia. O Preste João é que nenhum procura, d'aquelle lado.

<Esse absurdo só absorve a imaginação mystica e a geographia theorica de Colombo.

Se foi esse absurdo que o lançou aos mares, foi a corrente antiga e genuinamente portugueza das Navegações e descobrimentos para o Occidente que o levou a encontrar o contrario do que elle imaginava, o que os Portuguezes affirmavam existir, e que, exactamente antes de elle sahir de Hespanha, D. João II mandava descobrir por dois homens dos Açôres: Pedro de Barcellos e João Fernandes Labrador.

« Ah, a lenda colombiana tem sido bem injusta para com aquelle grande Rei por elle não ter acceite o absurdo de desviar os seus navegadores habeis e praticos do caminho que perfeitamente sabia que nos conduzia á India, para o do Occidente, por onde elle mandava procurar, não o Cypango, como queria Colombo, mas bem diversas regiões que o Labrador, os Côrte-Reaes, e mais tarde os Fagundes e Cabral haviam de inscrever nos mappas.»

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Reforçando esta these do Descobrimento da America antes de Colombo pelos Portuguezes, apresentada por Oldham, accrescenta Luciano Cordeiro, na Carta que vamos extractando, alguns factos: «As explorações dos Côrte-Reaes são geralmente reconhecidas hoje, e embora se tenha entendido que em relação a ellas só possa considerar-se segura uma chronologia posterior á primeira viagem de Colombo, é certo que não tem podido an

1 Carta ao Barão de Danvers, referindo-se á Conferencia do Pref. Oldham, Pre-Columbiam Discovery of America.

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