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e se encaminharam ao longo da praia até á barra norte do canal de Itamaracá, e assim por deante, cada um para a sua guarnição.

O commandeur Licht-hart e Smient ficaram encarregados do transporte dos productos capturados para Itamaracá, no que encontraram alguma difficuldade, porque tiveram de ir contra maré e vento.

A barca, uma vez descarregada, foi incendiada na foz do rio, porque cahira de lado.

Em summa, os nossos fizeram, durante 10 dias, no territorio do inimigo, tudo que quizeram, sem que ninguem os ousasse enfrentar.

Até este momento, occupámo-nos com a descripção do ataque a Itamaracá e de tudo que se seguiu. Agora, vamos referir o que succedeu em torno do Recife.

No dia 28 de Julho, foi mandada a companhia de Hendrick Frederick á cidade de Olinda, para ver se conseguia fazer alguns prisioneiros, pelos quaes se pudessem colher informações sobre a situação do inimigo; mas não encontraram ninguem.

Como, no dia 8 de Julho, um inglez (que desde o principio desertara dos nossos para o inimigo e servira dous annos ao governador Albuquerque e agora se passou novamente para os nossos, junto com dous soldados nossos que estavam prisioneiros) asseverasse as nossos que o inimigo abandonara todas as casas e reductos, situados perto dos nossos, os capitães Cloppenburgh, Picard e Hendrick Frederick passaram, á noite, para o outro lado do rio, pelo forte Wardenburgh, e marcharam para o interior até quasi ao Arraial, verificando effectivamente ser isso exacto, sendo, entretanto, alguns daquelles reductos bem construidos e fortes.

No dia 11, á tarde, sahiram as companhias de Bongarson, Picard e Hendrick Frederick, sob o commando do major Tourlon, e chegaram, á noite, aɔ rio Doce, a uma aldeia de pescadores, aos quaes surprehenderam no somno, aprisionando 20 e incendiando depois as casas.

No dia 12, receberam da Republica, pelo navio Vere, 62 recrutas.

No dia seguinte, á tarde, sahiram novamente os capitães Cloppenburgh e Bongarson e surprehenderam, pela manhã, a casa de campo de Lourenço Cavalcanti, general da cavallaria do inimigo, casa situada junto ao Arraial, e incendiaram-na, assaltando em seguida o engenho de Pedro da Cunha de Andrade, onde obtiveram optimos despojos; o seu designio era apanhar o Cavalcanti, mas elle estava então em Goyana, como já dissemos.

No dia 22, sahiram novamente os capitães Cloppenburgh e Bongarson para as vizinhanças do Arraial, e atacaram o engenho de Ramires e encontraram junto outra casa completamente abandonada; choveu tanto, que não podiam utilizar-se dos arcabuzes, de sorte que, perseguindo-os, o inimigo, quando voltavam, tiveram os nossos dous mortos e um ferido. Nessa estação chuvosa houve tal inundação, que as fortificações em Antonio Vaz correram grande risco de desmantelar-se, e foi observado por muitos que a agua subira mais seis pés do que estivera durante todo o tempo da estada dos nossos.

No dia 27, pelo meio-dia, partiu de Itamaracá o sr. Mathias van Ceulen, com o coronel, o tenente coronel, o major de Vries e outros commandantes das cinco companhias que seguiam com elles, e foram marchando pela praia até ao Recife, sem encontrar resistencia alguma, a não ser que o inimigo deu um tiro aqui e acolá, mas sem offender a ninguem. Depois disso, os srs. directores delegados e officiaes superiores da milicia e da policia souberam e foram diariamente informados por muitos avisos unanimes e varias noticias e declarações de prisioneiros, assim como pelas advertencias e pedidos de muitos portuguezes que mostravam inclinação para os nossos, que o inimigo abandonara todas as suas fortificações nas Salinas e nas casas situadas mais proximo, o que assás dava a conhecer a sua fraqueza e má situação. E, como, ao mesmo tempo, os habitantes estivessem agora tão vacillantes, e muitos manifestassem desejo de ajustar-se com os nossos, e para tal fim nada teria maior influencia do que irrital-os contra Albuquerque e tirar-lhes a protecção do Arraial, julgaram que a ostentação da sua força deante do Arraial produziria algum beneficio nos corações indecisos dos habitantes, que estavam abatidos por todas as especies de prejuizos.

Depois de porem tudo na melhor ordem, resolveram desembarcar dos navios 250 marinheiros, sob o commando de Cornelis Cornelisz., capitão do yacht Eenhoorn, como commandeur, e Jacob Huyghen, capitão do yacht Exter, como vice-commandeur, e juntamente arranjaram 100 negros, para a conducção dos viveres e de outras coisas necessarias.

Levantaram acampamento no dia 3 de Agosto, com 15 companhias e os mencionados marinheiros e negros, acompanhando-os o proprio sr. Johan Gijsselingh, para por tudo em bôa ordem e ajudar na execução da empresa, e partiram primeiro para Afogados. A's 9 horas da tarde, marcharam adeante as companhias dos capitães Cloppenburgh, Everwijn, Bongarson e Tourlon Junior, para desalojar o inimigo da casa situada á margem do riacho, a qual sabiam que fôra fortificada. A ordem foi executada, ficando nella o capitão Cloppenburgh, e as outras companhias alojaram-se nas casas e engenhos adjacentes; o inimigo mostrava-se de quando em quando no cannavial, sendo trocados alguns tiros. De manhã, ao nascer do sol, partiu o sr. Gijsselinghs de Afogados com as seguintes forças: o coronel commandava a vanguarda, composta de quatro companhias, as dos srs. delegados, do coronel, do tenente-coronel e do capitão d'Escars; vinham em seguida os 250 marinheiros, com pás e picaretas; o centro era commandado pelo major de Vries e compunha-se igualmente de quatro companhias, as do capitão Picard, do commissario de artilharia, dɔ major Tourlon e de Mortimer; vinha em seguida Abraham de Rouff, com os negros que conduziam os viveres; fechava a rectaguarda o tenente-coronel Bijma, com as companhias do major de Vries, Wildtschut e Gartsman.

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Marcharam nessa ordem, por um mau caminho lamacento, até ao engenho de Francisco de Brito Machado, situado na estrada do Cabo para o Arraial, do qual se apossaram, postando-se alli o sr. Gijsselingh e o coronel. O tenentecoronel alojou-se no forte construido em parte pelo inimigo junto ao engenho

de Marcos André, situado ao alcance de tiro de canhão do Arraial, esforçando-se logo em seguida por fortificar-se melhor. Foram mandadas tres companhias, a saber: as do major de Vries, Tourlon Junior e do commissario de artilharia, para se apoderarem do engenho de Monteiro, situado no caminho de S. Lourenço ao Arraial.

Mas essa força era esperada pelo inimigo, que se puzera em tres fortes emboscadas.

O tenente Duyven-hoff, conduzindo a tropa transviada com cerca de 40 arcabuzeiros de sua companhia, descobriu o inimigo na emboscada e avisoa disso o major, que se dirigiu aos capitães, para que tomassem providencias immediatas; nesse momento, o inimigo deu forte assalto, surgindo de todos os lados, mas o tenente respondeu-lhe com tão fortes descargas de mosquete, que os portuguezes foram atirados na maior parte contra a companhia, que cahiu um tanto em desordem.

Receando o major ver cortado o caminho, mandou a companhia de d'Escars tomar certa casa, que servia para manter franca a retirada.

O inimigo, nesse interim, apertou os nossos tão fortemente, que chegou com elles á mesma casa, e cercou-os a tal ponto, que era facil soffrerem os nossos um revés.

Mas o coronel, ouvindo os tiros, mandou immediatamente para lá as companhias de Gartsman e Picard, as quaes surgiram do cannavial em tempo opportuno e fizeram os assaltantes fugir immediatamente.

Nesse interim, reuniu-se o inimigo em numero consideravel ao redor do forte, e os nossos puderam notar que elle devia ter alli uma força de 2.000 homens, contrario ao que havia sido informado aos nossos e no que acreditaram; entretanto, a nossa gente portou-se com tanta bravura, que os obrigou a abandonar-lhe o rio.

Depois disso, foram dados de vez em quando alguns tiros no rio, ficando alguns dos nossos feridos; entre outros, o capitão Bongarson teve uma perna fracturada por bala.

Os do Arraial deram alguns tiros de canhão, mas sem causar damno. Restava agora atravessar o rio, para o que eram precisos botes e pontes; além disso, havia no exercito grande falta de viveres, pois, ainda que os soldados houvessem recebido provisões para quatro dias, pouco guardaram devido á grande fadiga e á peleja, e o que se poderia arranjar alli não ajudaria muito. Para prover em tempo a isso, foi mandado Jacob Huyghen ao Recife, afim de tirar os mastros e os cordames do seu yaht Exter, subir nelle o rio a remo, trazer mais dous botes com cordas levantadas e com couros pendurados ao lado contra os tiros do inimigo, e embarcar nelles alguns viveres e petrechos bellicos necessarios.

Chegando a Afogados, foram reforçados com 25 homens, de sorte que eram ao todo 50, e remaram assim no dia 6, depois de 12 horas, para deante, esperando chegar ao acampamento ainda á tarde; mas, como encalharam algumas vezes, tiveram de parar, esperando pela outra maré.

No dia seguinte, remando para deante e havendo chegado á distancia do

tiro de mosquetão do acampamento, onde o rio faz uma curva e o canal era junto à margem em que se achava o inimigo, este empregou toda a sua força, collocada atrás de uma trincheira, dando tão violenta descarga com mosquetes sobre o yacht, que ninguem podia mais ficar junto do pequeno canhão de bronze (este já dera antes uns tiros com metralha). Os nossos, entretanto, respondiam-lhe com os mosquetes; mas, perseverando o inimigɔ nas fortes descargas de mosquetes e ferindo a todos que estavam sentados a remar, tiveram finalmene os nossos que abandonar o yacht e salvar-se para o outro lado; porque, apezar do yacht estar forrado de couros, não lhes podia isso aproveitar, pois o inimigo, achando-se situado em uma ribanceira alta e entrincheirada, podia atirar-lhes de cima, e attingir a todos, tanto que o proprio capitão recebeu tres ferimentos mortaes.

A gente, que nesse interim foi mandada do acampamento, ao ouvirem lá os tiros, chegando e vendo que nada havia que fazer contra o inimigo situado em posição tão vantajosa, a não ser perder sem proveito alguns mortos e feridos na sua tropa, voltou ao acampamento, e assim o pequeno yacht e os botes ficaram nas mãos do inimigo, sendo um delles incendiado.

Os nossos, tomando então em consideração a escassez de viveres, que estavam prestes a exgottar-se, e comprehendendo que a força do inimigo crescia diariamente, assim como que o conde de Bagnuolo marchava para lá com 700 homens, não acharam prudente demorar-se por mais tempo tão profundamente no territorio do inimigo com tão pequena força e tão pouca munição, mas sim voltar o mais depressa possivel para os quarteis, a aguardar melhor occasião, quando recebessem da Republica um maior numero de soldados, e assim voltaram em boa ordem no dia 8, tornando cada um á sua guarnição. Emquanto isto se passava proximo ao Arraial, succedeu que no dia 6 desse mez os nossos no Recife viram uma vela no mar, a qual suppuzeram ser um dos nossos yachts que eram esperados de Itamaracá; mas, reparando melhor e notandɔ especialmente que mudava de rumo, foi mandado o yacht Exter a reconhecel-a; como o yacht se demorasse um tanto, o commandeur Smient e o capitão Duynkercker, mettendo-se num bote, remaram logo para elle e, lá chegando, viram que era um navio portuguez; e, apezar de nada mais levarem comsigo do que tres ou quatro pistolas e as suas espadas, fizeram-no, entretanto, render-se com altas ameaças, de sorte que o capturaram antes do Exter poder lá chegar.

Esse navio vinha de Viana, Portugal, e estava carregado com fardos de pannos, especialmente de tecidos de linho, que vieram muito a proposito; soube-se, pela gente de bordo, que em Portugal não mostravam pressa em mandar um reforço consideravel ao Brasil.

Entre as pessoas aprisionadas, estavam tres moças parentas de Roque de Barros, e outros principaes habitantes do paiz, pelo que o conde de Bagnuolo escreveu uma carta para resgatal-os; mas como cerca de dous ou tres prisioneiros, que foram apanhados no Exter pelo inimigo, foram mandados aos nossos, cada um com um vestuario novo, foram-lhes entregues as tres moças sem resgate algum.

A. B. 38

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O barbeiro do yacht Ter-l'eere (que fôra um dos tres prisioneiros) referiu que os soldados do inimigo, chegando ao yacht, onde elle se achava com outro na camara do artilheiro, lhe pediram quartel, o que lhes foi recusado; mostrando então o morrão, ameaçaram pôr fogo á polvora, de sorte que lhes foi dado e mantido o quartel.

O commandante Licht-hart chegou de Itamaracá ao Recife no dia 8, seguindo-o no mesmo dia o Canarie-l'oghel, o Ceulen e o Jonglien-Tijger, e no dia seguinte o yacht Tijger.

No dia 13, as companhias do major e do capitão Tourlon foram embarcadas no yacht Ter-Veere e Leeuwerck e numa chalupa, para serem transportadas a Itamaracá; e o yacht Ter-V'cere teve ordem de ir, depois disso, cruzar deante da Parahyba.

't Wappen van Hoorn foi mandada á Bahia e o 't Leeuwerck foi encarregado de seguir para lá, afim de render a tripolação daquelle.

No dia 17, o 't Wappen van Hoorn trouxe um navio carregado com 196 caixas de assucar, vindo do Cabo e cahindo por acaso nas mãos dos nossos; havendo-o trazido ao Recife, seguiu para a Bahia, levando os portuguezcs para desembarcal-os na ilha Paesch-avondt (Vespera de Paschoa).

No dia 19, sahiu o yacht l'os para cruzar em frente ao Cabo e o capitão Cornelis Cornelisz. foi mandado no Eenhoorn para a Republica, com cartas aos XIX, referindo tudo que aqui se passara. Ao mesmo tempo, souberam, por certas cartas interceptadas, que o Conselho das Indias em Hespanha, scientificado, por um padre irmão de dom Antonio de Albuquerque, governador da Parahyba, de tudo que fora tentado no Arraial pelos nossos sob o commando do coronel Rembach e de que os portuguezes correram algum perigo de perdel-o, havia contractado, para provel-o de alguma fórma, dous navios dunkerquezes, nos quaes mandara carregar muitas munições e alguma gente, e tanta urgencia dera, que eram esperados na Parahyba pelo ultimo deste mez.

Para impedir e tomar esses recursos tão importantes, foram mandados no dia 20 os navios Swolle, Overijssel e Canarie-Voghel, reforçados com alguns soldados, para se manterem em frente á Parahyba e atacarem os dous navios na chegada.

O Phenix foi mandado juntar-se a essa esquadrilha, depois de fazer uma limpeza a bordo.

No dia 27, á tarde, o porta-insignia do tenente-coronel sahiu com uma força de cerca de 100 homens; marcharam para o norte do rio Doce, até certo povoado, onde aprisionaram o proprietario do engenho, que havia alli, e mais outras pessoas, e incendiaram o engenho. O inimigo, havendo sabido disso, mandou a toda pressa do Arraial 200 homens, para cortar-lhes a retirada, quando voltassem para o Recife.

Mas, sendo descobertos pela sentinella do reducto fóra do forte do Bruyn, foi disso avisado o tenente-coronel Bijma, o qual sem tardança sahiu com a sua companhia e 40 mosqueteiros do capitão Beyart, para esperar os nosso3, que vinham marchando ao longo da praia da cidade.

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